Pedir para sair se torna padrão nas gestões de Raquel Lyra
Por Larissa Rodrigues
Repórter do blog
A queda do segundo secretário de Educação do Governo Raquel Lyra (PSDB) em dois anos de gestão, notícia que sacudiu a política pernambucana na última semana, repete um padrão nas administrações da tucana, algo que vem da época em que ela era prefeita de Caruaru, no Agreste.
Além dos secretários que nos últimos dois anos também pediram para sair do Estado, o episódio de Alexandre Schneider, vale recordar, foi muito parecido com a saída da ex-secretária de Educação de Caruaru, Raquel de Oliveira, logo no início da segunda gestão da então prefeita reeleita Raquel Lyra.
Com menos de dois meses à frente da pasta, a secretária pediu demissão. No dia 24 de fevereiro de 2021, a Prefeitura de Caruaru enviou nota à imprensa informando que a exoneração havia sido solicitada pela própria secretária, devido a questões pessoais. Assim como Alexandre Schneider, Raquel de Oliveira veio de fora de Pernambuco. É carioca e acumula vasta experiência como pesquisadora da área.
Leia maisEm conversa com este blog, ontem, Raquel de Oliveira destacou que “a governança executiva no Brasil confunde Secretaria de Educação com autarquia subordinada à Administração e à Fazenda, ou, ainda, a reduz como campo para propaganda da Comunicação. É algo estrutural na governança executiva Brasileira dos Estados e municípios”.
A crise da última semana, logo nos primeiros dias do ano, voltou os holofotes para dificuldades pelas quais a Secretaria de Educação pernambucana tem passado, segundo relatos internos, além de ter aberto espaço para críticas da oposição.
O NÓ DAS LICITAÇÕES QUE TRAVA TUDO – Um dos perrengues da pasta também ocorre nas outras secretarias, por uma escolha da própria governadora. Trata-se da dificuldade para fazer uma licitação, seja de médio ou grande porte, já que na gestão tucana todos os processos foram concentrados na Secretaria de Administração do Estado (SAD). Sem realizar a licitação para a merenda de 135 escolas da rede a tempo, o Estado precisou fazer contratos emergenciais milionários para a compra dos alimentos, evitando que os estudantes voltassem às aulas no início de fevereiro desabastecidos. O episódio teria sido a pá de cal na relação já abalada entre Raquel Lyra e o ex-secretário Alexandre Schneider, amigo do presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab.
Resultado “pífio” – Como não poderia ser diferente, a confusão levantou a voz dos oposicionistas, que acusam a governadora Raquel Lyra de resultado “pífio” na área, além de se apropriar de programas das gestões anteriores e bagunçar todo um trabalho que era prioridade nos governos do PSB. A oposição defende que nas gestões socialistas foram consolidadas políticas públicas importantes para a Educação. Presidente da Comissão de Educação e Cultura da Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), o deputado estadual Waldemar Borges (PSB) afirmou: “apropriar-se de uma iniciativa que não criou é lamentável e mostra a falta de resultados próprios para apresentar”.
Ganhe o Mundo e Investe Escola – Um dos programas criados nos governos do PSB foi o Ganhe o Mundo, iniciado em 2011, na época do então governador Eduardo Campos, e que oferece intercâmbio para alunos da rede pública. No Governo Paulo Câmara, a iniciativa foi incrementada com o Ganhe o Mundo Professor, versão voltada para os docentes, durante a gestão do ex-secretário Marcelo Barros. Outro programa também do Governo Paulo Câmara e que marcou a passagem de Marcelo Barros pela pasta foi o Investe Escola, que facilita a chegada de recursos para a manutenção das unidades de ensino. Só que o Ganhe o Mundo, o Ganhe o Mundo Professor e o Investe Escola foram divulgados pelo Governo Raquel Lyra como se fossem novidades da gestão dela.
Ao invés de ganhar o mundo, estudantes ganharam dores de cabeça – Sobre o Programa Ganhe o Mundo (PGM), há inúmeras queixas de estudantes e pais de alunos a respeito da desorganização do Governo. “Estudantes selecionados do PGM não têm data, previsão, nem qualquer tipo de informação sobre o embarque. Já não bastaram os erros da seleção”, diz um relato recebido pelo blog. Mais uma vez, a iniciativa esbarra na questão das licitações. Em mensagem enviada para pais e alunos no grupo do programa, na última quarta-feira (8), um funcionário do Governo informou: “como muitos já sabem, a primeira licitação para o intercâmbio do Canadá e EUA fracassou e o Estado teve que abrir nova licitação que ocorreu em dezembro do ano passado. Agora estamos aguardando a conclusão do processo licitatório”.
Líder da oposição na Alepe – O deputado estadual Diogo Moraes (PSB) criticou o que considera “falta de compromisso da gestão estadual com o futuro da educação no Estado”. “A saída do secretário Alexandre Schneider precisa ser melhor explicada. Faltando menos de um mês para o início das aulas, a imprensa revela um novo episódio do desastre que é a gestão atual: a ausência de licitação para merenda de 135 escolas leva o governo a contratar, via dispensa de licitação, um item fundamental dos nossos estudantes, que é a alimentação”, destacou.
CURTAS
Relembrar é viver – O primeiro secretário a desembarcar do Governo Raquel Lyra foi Silvério Pessoa, da Cultura. Em seguida, Aloísio Ferraz, da Agricultura, Carla Patrícia, da Defesa Social, e Evandro Avelar, da Infraestrutura. Depois, Regina Célia, da Mulher, sendo substituída por Mariana Melo, que foi vice de Daniel Coelho e não voltou nunca mais.
Mais saídas – O governo ainda acumula uma troca na Secretaria de Turismo, já que Daniel Coelho saiu para concorrer ao Recife, mas também não retornou. Houve, ainda, a saída de Lucinha Mota, secretária de Justiça, que preferiu voltar a ser vereadora de Petrolina, no Sertão, a ficar no time. Assim como ela, a secretária de Desenvolvimento Social, Criança e Juventude, Carolina Cabral, e o secretário da Assessoria Especial da governadora, Fernando Holanda, também deixaram as pastas.
Amupe realiza encontro – Em meio às disputas nos bastidores para a eleição da Associação Municipalista de Pernambuco (Amupe), em fevereiro, a entidade realizará, na próxima terça-feira (14), em sua sede (na Avenida Recife, em Jardim São Paulo), a primeira assembleia extraordinária de prefeitos e prefeitas de 2025. O encontro reunirá os gestores que tomaram posse no dia 1º de janeiro. Na ocasião, a assembleia também abordará o processo de eleição da nova diretoria executiva e conselho fiscal, incluindo a escolha e homologação da Comissão Eleitoral.
Perguntar não ofende: qual partido vai conseguir a pasta da Educação de Raquel Lyra?
Leia menos