Raquel captou o sentimento de mudança
Raquel Lyra (PSDB) ganhou a eleição por três motivos: a morte do seu marido no primeiro turno, episódio que gerou comoção, a postura de neutralidade na corrida presidencial, que a deixou como opção entre os eleitores de Lula e Bolsonaro, e, o mais importante: conseguiu passar para o eleitor ser a verdadeira alternativa de mudança, o voto anti-PSB.
Na virada do primeiro para o segundo turno, Marília ganhou o apoio de segmentos do PSB, entre os quais do grupo liderado pelo prefeito do Recife, João Campos. Quem votou nela no primeiro turno apostou no fim da era PSB. O mesmo se deu com quem votou em Anderson Ferreira (PL), Miguel Coelho (UB) e na própria Raquel, ou seja, o eleitor mandou o recado da mudança.
Leia maisA foto de Marília com João e depois com lideranças do PT, como Humberto Costa e a senadora eleita Teresa Leitão, foram recebidas pelo eleitorado ávido por mudança como traição, sinal de que o PSB, deletado com a não ida de Danilo Cabral ao segundo turno, iria continuar dando as cartas em Pernambuco.
Caiu de graça no colo de Raquel, que assim capitalizou, com maestria e competência, a oportunidade de se transformar no verdadeiro estuário de votos para banir de vez o PSB do poder em Pernambuco.
No primeiro turno, Marília, que liderou as pesquisas em todos momentos da campanha, errou ao não participar de nenhum debate, seja no rádio ou na televisão. Com isso, deu a impressão de ter calçado sapato alto, nariz empinado, o que, com certeza, pode ter lhe subtraído mais votos do que supunha.
Por fim, Raquel, no enfrentamento com Marília nos debates, teve mais domínio técnico quando tratou de questões administrativas, mesmo sofrendo constrangimentos no campo político quando tratou de explicar sua neutralidade política na disputa presidencial.
Desafio da unidade – No pronunciamento após o resultado da eleição, ontem, a governadora eleita Raquel Lyra (PSDB) voltou a bater na mesma tecla da sua campanha: o discurso da unidade. Foi assim que o ex-governador Eduardo Campos conseguiu sucesso em sua gestão, indo buscar para o seu lado as forças políticas derrotadas com Jarbas Vasconcelos, que, com o tempo, acabou se alinhando ao palanque do líder socialista, permitindo a Eduardo materializar o sonho da bandeira branca no Estado.
A guerreira Priscila – Se há alguém que se revelou um Golias de saia nesta vitória de Raquel atende pelo nome de Priscila Krause, vice-governadora eleita. Quando ela abraçou o projeto da tucana, os pessimistas disseram que havia trocado uma reeleição certa na Alepe por uma aventura. Política de perfil urbano, Priscila fez Raquel, mais popular no Agreste, ficar conhecida pelos pernambucanos no Grande Recife, onde se concentra mais de 40% do eleitorado. Em nenhum momento titubeou, nem mesmo quando Marília Arraes surgiu como fato novo e retirou de Raquel a liderança nas pesquisas no primeiro turno.
Laço histórico – O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi muito amigo do ex-deputado Fernando Lyra, já falecido, tio da governadora eleita Raquel Lyra. Também tem boa relação com o pai dela, o ex-governador João Lyra Neto. A tucana, portanto, não terá nenhuma dificuldade em construir uma ponte direta com Lula, a partir da sua posse em janeiro, mesmo tendo assumido uma posição de neutralidade na disputa presidencial.
Fala de Marília – Candidata derrotada ao Governo de Pernambuco, Marília Arraes, do Solidariedade, cancelou a coletiva que daria após o resultado oficial, mas divulgou um comunicado reconhecendo a sua derrota. “O Brasil venceu. Com a eleição de Lula iniciamos um novo capítulo na história de nosso País. Me congratulo com o presidente Lula por sua vitória. De minha parte, estou pronta para colaborar com o presidente Lula, mantendo o foco na defesa dos interesses de Pernambuco”, afirmou.
A cereja do bolo – O Nordeste deu, ontem, a vitória a Lula, com uma forte contribuição de Minas, segundo maior colégio eleitoral do País. Desde 89, há uma tradição: quem Minas abraça, ganha eleição. No Nordeste, a cereja do bolo da eleição do petista veio da Bahia, com a mais expressiva votação, chegando a quase três milhões de votos de frente. Ali, além do lulismo, há de se destacar a força do governador Rui Costa, que elegeu também o seu sucessor. Costa, aliás, terá assento no Ministério de Lula.
CURTAS
TRANSIÇÃO – A coordenação da equipe de transição da governadora eleita Raquel Lyra tende a ser a vice-governadora Priscila Krause, com a participação também do deputado federal não reeleito Daniel Coelho e de Rubens Júnior, o coringa da equipe dela quando administrou a Prefeitura de Caruaru.
O PESO DA MÁQUINA – Nas eleições suplementares no Estado, em Pesqueira e Joaquim Nabuco, os prefeitos que estavam no poder, interinamente, se elegeram: Bal de Mimoso (Republicanos) e Charles Batista (Solidariedade), respectivamente. É a chamada força de máquina.
Perguntar não ofende: Bolsonaro passa a faixa presidencial para Lula?
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