Mais do que um convite à folia, o frevo traduz a identidade do Recife em cada ritmo, movimento e nos rostos que o eternizaram. É com esse espírito que, em 9 de fevereiro (data que marca o primeiro registro da palavra ‘frêvo’, grafada com acento no Jornal Pequeno, em 1907), o Teatro do Parque receberá o 1º Recife Frevo Festival, a partir das 17h. Com o objetivo de furar a bolha carnavalesca, o evento reunirá frevistas clássicos e artistas de diversas referências. Entre os destaques, Jota Michiles, autor de muitos dos frevos que estão na ponta da língua de qualquer folião, será o grande homenageado desta edição.
O reconhecimento a Michiles vem de sua trajetória desde os anos 1980, quando foi um dos responsáveis por consolidar o ritmo como uma força dentro do cenário musical. Atualmente, porém, o gênero busca reconquistar seu espaço na agenda cultural da capital pernambucana, onde tem sido predominantemente relegado à temporada de carnaval. O Recife Frevo Festival vem para preencher essa lacuna, promovendo encontros inéditos entre músicos, intérpretes e dançarinos, acompanhados pela Transversal Frevo Orquestra, sob a regência de César Michiles, filho de Jota.
Veteranos do gênero, como Maestro Formiga e Maestro Forró, se unem a nomes que, embora não sejam exclusivamente do frevo, têm uma trajetória diversa e dialogam com a linguagem, como Silvério Pessoa, Geraldo Maia, Juba Valença e Romero Ferro.
Leia maisA realização do festival está nas mãos de Michelle de Assumpção, também filha de Jota Michiles. Criada em um ambiente efervescente de música, desde pequena acompanhou os bastidores de eventos musicais e absorveu a energia desse universo. “Para mim, o frevo e Recife são duas marcas muito fortes da minha formação cultural”, destaca Michelle em conversa exclusiva com o Viver. Por esse legado, ela idealiza, na edição de estreia, um festival que adota o formato de mostra, com foco na apresentação e valorização do trabalho artístico. “A gente mexeu num ponto que estava escondido, sabe? Cutucamos esse formigueiro”.
A jornalista e produtora explica que a proposta é desvincular a manifestação cultural da temporada carnavalesca e transferir o Recife Frevo Festival para setembro, mas, por ora, foi preciso viabilizar os patrocínios. “A escuta e execução do frevo acontecem predominantemente no carnaval, mas quem vive do gênero está sempre trabalhando. A nossa ideia é transformar esse festival num evento fixo no calendário da cidade, algo que cresça e se amplie nas próximas edições”. A iniciativa é financiada pelo Sistema de Incentivo à Cultura do Recife (SIC), por meio da Secretaria de Cultura e Fundação de Cultura e Prefeitura do Recife. Além disso, também conta com apoio do museu Paço do Frevo.
Além da programação artística, o festival terá desdobramentos com atividades pedagógicas e a produção de um minidocumentário audiovisual sobre esta primeira edição, com o objetivo de difundir e salvaguardar o frevo. “Vamos realizar registros fonográficos e audiovisuais, sempre com a perspectiva de que o frevo não é apenas uma música de carnaval, mas uma música sofisticada, feita com esmero e dedicação por centenas de pessoas que vivem dele e por outros artistas que o incorporam em suas trajetórias”, afirma ela. Todas as atividades serão gratuitas e acessíveis em Libras.
Depois do festival, a etapa pedagógica será realizada no Paço do Frevo, no dia 19 de fevereiro, com uma aula-espetáculo de Jota Michiles. Na Sala Capiba, das 14h às 16h, ele compartilhará o processo criativo de suas composições, acompanhado por seu filho, César. Em seguida, ocorrerá a roda de diálogo “O Frevo na Ponta: Orquestras de Rua e a Dança no Meio do Povo”. Esse momento reunirá maestros de orquestras de rua e pesquisadores para discutir o trabalho contínuo dessas orquestras, que vão muito além do carnaval. “Elas são verdadeiras escolas, que permanecem abertas o ano todo, formando músicos e ensaiando seus instrumentistas”, ressalta Michelle.
Como culminância da etapa formativa, também no dia 19, às 18h, acontecerá a ação “Batalha de Orquestras”, com a presença das tradicionais agremiações. A proposta é simular, em formato de cortejos, os tradicionais encontros de orquestras nas ruas de Olinda durante o carnaval, onde o ritmo é tocado com sua máxima expressão e intensidade. Que essa energia contagiante possa se perpetuar por todos os dias do ano.
Do Diário de Pernambuco.
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