O jornalista, poeta, escritor e membro da Academia Pernambucana de Letras (APL), Flávio Chaves, lança, amanhã, às 19h, na sede da APL, o seu mais recente livro, intitulado ‘Sheikha Moza Nasser, Hamlet e o Exílio’. A obra segundo o autor, foi tecida com as fibras do pensamento e da emoção, onde o poder feminino, a dor do desterro e a interrogação existencial de um príncipe se entrelaçam como destinos que se reconhecem no espelho da alma. Confira abaixo o artigo de Flávio destinado à sua mãe, a convidando para o lançamento. Está emocionante!
Mamãe, entre o exílio das palavras e a luz do teu nome, meu livro e eu te esperamos
Mamãe, luz primeira dos meus olhos ainda fechados, colo onde meu nome aprendeu a respirar.
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Desde os recantos mais profundos da infância, aquele tempo imaculado em que teu abraço era a geografia sagrada onde minha alma, ainda trêmula, se aninhava para nascer — trago aceso em mim o calor do teu amor, aquele que envolvia minhas manhãs com silêncio e oração, aquele que me vestia com a fé que tu sabias sem esforço, como quem acende uma vela e a entrega ao vento, confiante de que ela não se apagará.
Tu foste minha primeira morada, minha primeira terra, meu primeiro céu. A mulher que traduziu Deus com gestos e pão, com mãos calejadas e ternura infindável. E mesmo quando partiste, quando teus olhos se cerraram para este mundo e se abriram para aquele onde as dores não mais ardem, eu continuei sentindo tua presença como quem sente um perfume esquecido e, de repente, reconhece a eternidade. Tu não morreste, mamãe. Apenas atravessaste o rio. Continuas aqui, no fio secreto das horas, na brisa que me visita quando o silêncio se alarga, na força que me ampara quando o chão se dissolve.
Escrevo-te agora, não como quem escreve uma carta, mas como quem devolve à luz o que nunca deveria ter partido. Quero que saibas que cada palavra que rabisco, cada parágrafo que ouso construir, carrega um pouco do teu olhar. Tu, que foste a primeira a acreditar na minha voz, és também a razão pela qual sigo escrevendo mesmo quando o mundo parece afogado em ruídos. Quando abro o caderno, és tu quem me guia a mão. Quando hesito, é tua lembrança que me levanta. Quando a lágrima ameaça cair, és tu que me enxugas o rosto com dedos invisíveis de eternidade.
E é por isso que venho, com o coração aberto como um livro antigo, convidar-te, minha mãe de luz, para o lançamento do meu novo ensaio, intitulado Sheikha Moza Nasser, Hamlet e o Exílio. Uma obra tecida com as fibras do pensamento e da emoção, onde o poder feminino, a dor do desterro e a interrogação existencial de um príncipe se entrelaçam como destinos que se reconhecem no espelho da alma.
Este livro será lançado no dia 13 de novembro, às 19h, na Academia Pernambucana de Letras, localizada na Avenida Rui Barbosa, número 1596, bairro das Graças, Recife, tua cidade também, teu chão. E mesmo sabendo que teus pés não mais tocam o asfalto, peço que estejas comigo. Não precisas de corpo, porque teu espírito é vasto como a noite, e tua presença é uma estrela que nunca se apaga. Vem, mamãe, vem com teus olhos doces, tua fé que tudo abençoa, teu amor que atravessa os véus. Senta-te ao meu lado, em silêncio, como fazias nas noites em que eu, menino, lia em voz alta meus primeiros escritos, crente de que o mundo cabia no papel.
Tua presença será meu talismã. Tua ausência aparente, minha força. Porque todo livro que nasce em mim nasce também de ti. Toda ideia germina da semente que plantaste com teus gestos. Toda frase carrega teu sopro. Tu és a palavra não escrita, mas sentida. És a dedicatória invisível em cada obra.
Prometo, mãe, que estarei lá inteiro. Com minha alma exposta, com meu coração vibrando, com minha memória embebida de ti. Porque ainda te amo, e te amarei em cada noite de lançamento, em cada leitura solitária, em cada livro que for abrigo. Que este convite voe até ti como uma ave em oração, e que no dia marcado, quando as luzes se acenderem, tu possas sorrir, e dizer em silêncio: “Eu estou aqui, meu filho. Nunca deixei de estar.”
Com todo o amor que me ensinaste a ter,
Teu filho.
Flávio Chaves
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