O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta terça-feira (17) que o conflito entre Irã e Israel pode transformar o Oriente Médio em “único campo de batalha”. A declaração foi dada durante reunião ampliada do G7, com países-membros e convidados, nas montanhas de Kananaskis, no Canadá.
“Os recentes ataques de Israel ao Irã ameaçam fazer do Oriente Médio um único campo de batalha, com consequências globais inestimáveis”, disse Lula sem fazer referência nenhuma à retaliação de Teerã.
Desde a última sexta-feira (13), Israel tem feito bombardeios contra instalações militares e nucleares no Irã, matando cientistas e comandantes importantes, o que levou Teerã a responder com drones e mísseis lançados contra território israelense. As informações são da Folha de S. Paulo.
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O presidente brasileiro disse ainda que nada justifica a “matança indiscriminada” de mulheres e crianças e o “uso da fome como arma de guerra” na Faixa de Gaza, numa crítica reiterada à ofensiva de Tel Aviv no território palestino em resposta ao atentado terrorista do Hamas em 7 de outubro de 2023. “Ainda há países ainda que resistem em reconhecer o Estado palestino, o que evidencia sua seletividade na defesa do direito e da justiça”, prosseguiu Lula.
A última afirmação foi um dos recados indiretos ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Segundo o brasileiro, que há uma “falta de liderança” patente para resolver os conflitos pelo mundo e cobrou atuação da ONU para acabar com guerras.
Trump, embora seja membro do G7, não participou da reunião —o secretário do Tesouro, Scott Bessent, o representou. O americano deixou a cúpula antecipadamente nesta segunda-feira (16) devido ao agravamento da guerra entre Irã e Israel.
O G7 é composto por Canadá, que sedia a cúpula do grupo este ano, Estados Unidos, Reino Unido, a França, a Alemanha, a Itália e o Japão. A União Europeia também faz parte. O Brasil foi um dos seletos países não membros convidados para participar da reunião ampliada do bloco, que também inclui África do Sul, Austrália, Coreia do Sul, Emirados Árabes Unidos, Índia e México.
Lula também citou em seu discurso o conflito entre Rússia e Ucrânia, dizendo que ambas as partes “sabem que não atingirão seus objetivos por via militar”. Segundo o presidente, “só o diálogo entre as partes pode conduzir a um cessar-fogo e pavimentar o caminho para uma paz duradoura.”
“Não subestimo a magnitude da tarefa de debelar todas essas ameaças. Mas é patente que o vácuo de liderança agrava esse quadro”, afirmou o brasileiro, depois de mencionar também o cenário de crises sobrepostas no Haiti.
Lula então lembrou que três dos líderes sentados à mesa tem cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU e defendeu a volta do protagonismo da instituição para solucionar os embates. Uma posição no colegiado das Nações Unidas é uma demanda histórica da diplomacia brasileira.
Na véspera da reunião ampliada do G7, o grupo emitiu uma declaração na qual afirma que o Irã é responsável pelo “instabilidade e terror” e pediu uma desescalada nas hostilidades no Oriente Médio. O documento teve o aval do presidente dos Estados Unidos. O texto, embora pregue a redução do conflito, diz que Israel tem o direito de se defender. Foi diante desse contexto que Lula deu sua declaração.
Está é a nona participação do presidente brasileiro no G7. Ainda na segunda, pouco depois de chegar ao Canadá, Lula disse a jornalistas que o grupo é inócuo com a existência do G20. Foi uma declaração em resposta a um questionamento acerca de uma fala de Trump, que reclamou do fato de a Rússia não participar mais do grupo —Moscou integrou o G7 de 1998 a 2014, quando foi expulso depois de anexar a Crimeia, então território da Ucrânia.
“No fundo, depois do G20, não há nem necessidade de existir o G7. O G20 é mais representante. Agora, é uma questão cultural isso”, disse Lula. “[O G7] existe desde 1975, desde a crise do petróleo. Os primos ricos se reúnem, mas eles estão no G20. Acho que o G20 tem mais importância, densidade humana. De qualquer forma, sou convidado desde que fui eleito em 2003 e eu participo para não dizer que eu recuso a festa dos ricos”, disse.
Lula teve nesta terça uma reunião com o primeiro-ministro do Canadá, Mark Carney, e terá outra com o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski. Ele teria um encontro com o premiê alemão, Friedrich Merz, que acabou não ocorrendo.
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