Carro ‘popular’: quem ganha com ele?
Não estranhem ver aqui um apaixonado por carros ‘falando mal’ deles. É que esse arranjo do governo federal para incentivar a volta do “carro popular” tem vários poréns e porquês. Como se sabe, as medidas anunciadas na quinta-feira preveem desconto de até 11% sobre os preços modelos de até R$ 120 mil: quanto menor o valor do modelo, maior o desconto.
Para tanto, o governo abre mão de impostos. Bem, entra governo, sai governo e o setor automotivo sempre é incentivado, beneficiado, bajulado. O ex-presidente Itamar Franco, por exemplo, entrou no lobby da Volkswagen e em 1994 relançou o Fusca por US$ 6,8 mil (exatos R$ 6,8 mil). Já era um modelo relativamente caro – e ruim – para os padrões da época: o motor 1600 a álcool gerava ‘incríveis’ 58,7 cavalos, não tinha airbag, ABS etc. Hoje, custaria um pouco mais de R$ 80 mil.
Leia maisÔnibus e trens – Pois bem, e se o governo reduzisse impostos e investisse em ônibus e trens urbanos? É o que pedem várias organizações e instituições que estudam o tema mobilidade no Brasil. A coalizão Mobilidade Triplo Zero, nova rede de movimentos sociais que luta para que esse tema seja uma forma de garantir mais democracia e dar voz à sociedade civil, divulgou uma dura nota sobre a intenção de o governo federal lançar um plano de incentivo à retomada do setor automotivo.
Elas são claras: a ideia do ‘carro popular’ é um retrocesso para o cenário atual ainda mais grave do que foi a ação semelhante realizada após a crise de 2008. Afinal, hoje, reforçam, a sociedade se vê obrigada a defender as causas climáticas com ações eficientes de curto, médio e longo prazo. E lançar um pacote de ações para socorrer a indústria automobilística será um retrocesso sob a ótica da mobilidade urbana sustentável, quando o país perderá a chance de, finalmente, ser protagonista com a narrativa da proteção climática.
Discurso verde – Os autores dizem ainda que é fundamental considerar a contradição de ter um discurso amplo internacionalmente sobre o clima, enquanto as políticas internas caminham numa direção completamente díspar, com um pacote estimulante ao transporte individual, que prevê a ampliação das linhas de crédito e reduções tributárias para os fabricantes.
Todos sabemos: o automóvel é o maior poluidor das nossas cidades. Então, que o foco do governo, se realmente busca um futuro equitativo e verde, deve ser no transporte público, na mobilidade a pé e por meio da bicicleta. Precisamos, dizem os autores, de um sistema de transporte com triplo zero: zero emissões, zero mortes e zero tarifa.
A Coalizão Mobilidade Triplo Zero é formada por instituições como a Fundação Rosa Luxemburgo, Idec, Observatório da Mobilidade de Salvador, Observatório dos Trens do Rio de Janeiro, Movimento Passe Livre etc.
E o vendedor de usados? – Se abriu para um, abre para outro? Depois de o governo federal favorecer com subsídios e desonerações a indústria de carros, os revendedores de veículos seminovos e usados no país também querem “um olhar” do governo federal para eles. A Fenauto, a federação desses revendedores, divulgou comunicado em que diz serem bem-vindas todas as medidas e decisões que venham a movimentar o mercado de veículos no país, favorecendo, direta ou indiretamente, o ambiente.
Mas pede que “alguns movimentos” do governo federal favoreçam, também, o mercado de seminovos e usados, já que se deve vislumbrar a cadeia automotiva como um todo. “A questão não é apenas auxiliar a indústria (que hoje apresenta uma capacidade ociosa de produção)”, reforçam. “Mas as concessionárias e o consumidor final”, dizem os associados.
A Fenauto diz “saber” que é natural que os veículos zero 0Km dessas categorias (de R$ 120 mil), em um primeiro instante, venham a concorrer de forma mais acirrada com os seminovos e usados. Mas a entidade entende que as montadoras e a indústria nacional (que, reforçam, ainda se encontra bem defasada em relação a de outros países), necessitam sim de incentivos, mas que não devem ser as únicas beneficiadas.
Por isso, os revendedores querem que a cadeia que compõe o setor automotivo brasileiro (autopeças, seminovos e usados, mecânicas, implementos, acessórios etc.) também precisa e merece ser desonerada.
Mobilidade elétrica – E por falar no assunto, vale lembrar que a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado aprovou um projeto de lei, de autoria da senadora Leila Barros (PDT/DF), que cria uma política de incentivo tributário à pesquisa de desenvolvimento da mobilidade elétrica no Brasil. E ele exige o seguinte: as empresas automobilísticas beneficiadas por renúncias fiscais deverão aplicar 1,5% da redução de impostos em pesquisas sobre o desenvolvimento de pesquisas sobre o tema.
Ônibus elétricos – Estamos, finalmente, voltando à era dos trólebus? Esta semana, a VW Caminhões e Ônibus anunciou que começou a testar no Brasil seu primeiro protótipo de ônibus elétrico. Ele circula, por enquanto, no campo de provas de Resende, no interior do Rio, e também por vias de cidades da região. Com piso alto ou baixo, ele possui 350 km de autonomia. Vários municípios já usam esse tipo de veículo nas ruas, de várias marcas e capacidades distintas. Mas estamos bem longe do que fazem o Chile e a Colômbia.
Seminovos – preços variam até 34% – A startup do setor automotivo Mobiauto acaba de realizar uma pesquisa em sua base de dados que apura as cotações regionais de alguns dos principais campeões de vendas do mercado nacional. O levantamento verificou os preços de Fiat Strada, Renault Kwid e VW Gol, sempre ano-modelo 2022, em diversos estados do país no primeiro quadrimestre de 2022 e repetiu a pesquisa neste ano. Veja como ficou a variação no Brasil.
Marca | Modelo | Ano | Jan/Abr 2022 | Jan/Abr 2023 | Variação |
Renault | Kwid | 2022 | R$ 60.368,67 | R$ 58.072,78 | -3,80% |
Fiat | Strada | 2022 | R$ 107.869,01 | R$ 100.303,52 | -7,01% |
VW | Gol | 2022 | R$ 73.248,13 | R$ 63.296,79 | -13,59% |
Inúmeras conclusões podem ser tiradas desse levantamento. “Além de você apurar qual foi a desvalorização desses três veículos neste último ano, mostrando regionalmente quais foram os melhores negócios, a pesquisa feita por nossa equipe fornece um mapa precioso para lojistas e revendedores”, explica Sant Clair Castro Jr., consultor automotivo e CEO da Mobiauto.
Ele exemplifica. “A diferença de preços da mesma Fiat Strada 2022 no Distrito Federal e em Santa Catarina é de 34%. Isso é um terço do valor do carro! Ora, o que eu faço se sou um revendedor catarinense? Vou rechear meu estoque com unidades compradas em Brasília. O lucro será enorme”, sugere.
Renault Kwid
Estado | Jan/Abr 2022 | Jan/Abr 2023 | Variação |
AM | R$ 58.516,67 | R$ 52.700,00 | -9,94% |
BA | R$ 58.611,67 | R$ 54.540,00 | -6,95% |
CE | R$ 60.518,00 | R$ 54.948,00 | -9,20% |
RJ | R$ 58.939,28 | R$ 55.340,37 | -6,11% |
RO | R$ 62.704,29 | R$ 55.474,62 | -11,53% |
MT | R$ 56.978,18 | R$ 55.720,22 | -2,21% |
PE | R$ 59.852,95 | R$ 56.201,51 | -6,10% |
PA | R$ 60.443,85 | R$ 56.265,25 | -6,91% |
PB | R$ 60.112,50 | R$ 56.422,50 | -6,14% |
MG | R$ 59.154,50 | R$ 56.520,06 | -4,45% |
MS | R$ 59.596,67 | R$ 56.745,65 | -4,78% |
GO | R$ 59.538,56 | R$ 57.164,77 | -3,99% |
DF | R$ 59.744,08 | R$ 57.540,29 | -3,69% |
PR | R$ 62.355,66 | R$ 57.823,68 | -7,27% |
SP | R$ 60.325,93 | R$ 58.740,86 | -2,63% |
SC | R$ 61.162,34 | R$ 59.347,33 | -2,97% |
RS | R$ 58.100,00 | R$ 61.388,89 | 5,66% |
Em outra proporção, o consumidor final pode se beneficiar dessa variação estadual nos preços. Ao revender seu Renault Kwid, por exemplo, um carioca poderia obter por seu modelo uma cotação cerca de 10% mais alta no Rio Grande do Sul.
Fiat Strada
Estado | Jan/Abr 2022 | Jan/Abr 2023 | Variação |
DF | R$ 89.960,00 | R$ 84.791,88 | -5,75% |
CE | R$ 98.900,00 | R$ 86.550,00 | -12,49% |
PR | R$ 93.082,50 | R$ 88.280,41 | -5,16% |
PE | R$ 101.718,00 | R$ 93.932,22 | -7,65% |
MG | R$ 102.830,16 | R$ 98.016,09 | -4,68% |
SP | R$ 106.409,34 | R$ 100.228,16 | -5,81% |
MT | R$ 112.412,08 | R$ 100.358,60 | -10,72% |
SC | R$ 118.397,50 | R$ 113.622,50 | -4,03% |
“Os mais de 10 mil revendedores espalhados por todo o Brasil que anunciam na nossa plataforma estão atentos a essas variações. Não é raro assistirmos ao trânsito interestadual na revenda dos carros anunciados na Mobiauto”, destaca o executivo.
Volkswagen Gol
Estado | Jan/Abr 2022 | Jan/Abr 2023 | Variação |
RS | R$ 67.110,45 | R$ 58.837,27 | -12,33% |
MS | R$ 64.740,00 | R$ 59.087,50 | -8,73% |
PE | R$ 66.960,00 | R$ 59.578,11 | -11,02% |
GO | R$ 69.101,61 | R$ 60.245,66 | -12,82% |
MG | R$ 66.625,62 | R$ 60.262,54 | -9,55% |
RN | R$ 64.918,57 | R$ 60.475,16 | -6,85% |
BA | R$ 65.365,00 | R$ 60.488,90 | -7,46% |
PB | R$ 65.740,00 | R$ 60.706,00 | -7,66% |
PR | R$ 65.607,14 | R$ 61.606,43 | -6,10% |
AM | R$ 64.672,50 | R$ 61.700,31 | -4,60% |
SC | R$ 65.976,25 | R$ 62.387,50 | -5,44% |
SP | R$ 73.173,67 | R$ 63.138,32 | -13,71% |
RO | R$ 72.695,00 | R$ 63.392,86 | -12,80% |
MT | R$ 71.483,84 | R$ 63.700,42 | -10,89% |
DF | R$ 69.623,54 | R$ 63.785,00 | -8,39% |
MA | R$ 63.980,91 | R$ 63.968,33 | -0,02% |
Por ser um país muito grande, com diferenças significativas de poder aquisitivo e hábitos de consumo, além do resultado direto da ação comercial das concessionárias regionais de cada marca, o Brasil é um celeiro de oportunidades para realização de bons negócios no meio do varejo, ainda mais quando uma empresa como o Mobiauto se presta a realizar esse tipo de pesquisa. Dentre as centenas de milhares de anúncios que recebe em sua plataforma mensalmente, vindas de todos os estados, bastou aos pesquisadores apurarem a variação de preços de janeiro a abril de 2022 versus o mesmo período deste ano, com o intuito de verificar a depreciação de cada carro e em cada estado.
Maverick, a primeira picape híbrida – A Ford acaba de apresentar uma caminhonete pioneira, com autonomia de mais de 800 km e consumo combinado de 14,6 km/l. Ela ainda tem desempenho: aceleração de 0 a 100 km/h, por exemplo, é feita em 8,7 segundos. A Maverick chega em apenas uma versão: a de luxo Lariat. E pelo mesmo valor da versão FX4 equipada somente com motor a combustão: R$ 244.890. O sistema de propulsão híbrida é composto por um Atkinson 2.5 a gasolina e um elétrico e gera uma potência combinada de 194cv e permite ao veículo rodar 15,7 km/l na cidade e 13,6 km/l na estrada, com uma autonomia invejável de mais de 800 km. É bem mais econômica até que as picapes e SUVs a diesel, A Ford trará este ano ainda o Mustang Mach-E e van E-Transit.
Jeep Avenger será mineiro – O site Autos Segredos relevou que Stellantis já está tocando o processo de nacionalização do Jeep Avenger, ao começa a fazer cotações com fornecedores. Segundo o jornalista Marlos Ney Vidal, o SUV será o primeiro Jeep fabricado em Betim (MG). O modelo, uma espécie de miniRenegade, foi apresentado na Europa em setembro do ano passado. A base é francesa, mas as linhas mantêm a origem americana.
Sete erros que ferram o motor do carro – Preencher o sistema de arrefecimento apenas com água, utilizar o óleo errado e não trocar o filtro de ar estão entre os principais equívocos. Por isso não esqueça: o motor do carro, responsável por transformar a energia da queima do combustível em movimento, precisa ser bem cuidado. A Motul, multinacional especializada em lubrificantes, preparou uma lista com os 7 erros que não devem ser cometidos no carro para manter o seu bom funcionamento. Confira abaixo:
1. Abastecer o sistema de arrefecimento apenas com água
O sistema de arrefecimento regula a temperatura para que esteja sempre no valor ideal. Um dos erros mais comuns é utilizar água para fazer a manutenção do sistema. “Usar apenas água pode causar aumento da tendência à corrosão e formação de depósitos no sistema de circulação. Esses depósitos vão obstruir a passagem do fluído de arrefecimento, aumentando a temperatura de trabalho do motor. Com o tempo, isso levará a um desgaste nas peças e causará vazamentos que podem danificar totalmente o motor”, explica Danilo Silva, engenheiro de Aplicação da Motul Brasil.
2. Usar o óleo errado no motor do carro
Na hora de escolher o óleo para o motor do carro, é preciso levar em consideração a viscosidade, a norma da montadora e sua base (mineral, semissintético ou sintética). Um lubrificante fora da especificação recomendada pode não proporcionar a espessura de filme de óleo projetada para aquele motor e não atender os requisitos de desempenho impostos pela montadora. A espessura e especificações incorretas podem comprometer a eficiência do motor, aumentar o consumo de combustível e danificar os componentes internos.
3. Não trocar o filtro de ar do motor do carro
“O filtro garante que o ar que chega ao motor esteja livre de impurezas para a queima do combustível. Quando não fazemos a manutenção correta, o ar levado até o motor pode conter partículas que poderão potencializar o desgaste, danificar outras peças e interferir na combustão, gerando maior gasto de combustível”, diz Silva. Consumo de combustível mais alto e falta de força do motor podem indicar que está na hora de substituir o filtro de ar do motor. A vida útil de um filtro, considerando uma condição de uso normal urbano, é de 10 mil quilômetros ou um ano de uso.
4. Ignorar as velas de ignição
Nos motores de ciclo Otto, as velas de ignição são responsáveis por gerar a centelha que inicia a combustão da mistura de ar e combustível, cuja energia da expansão é transformada para movimentar o veículo. Com o tempo, o desgaste das velas causa dificuldade na hora de dar partida no veículo, perda da performance, e possivelmente, aumento do consumo de combustível – pode também ser responsável por danificar a bobina de ignição, gerando um prejuízo ainda maior. O ideal é verificar as velas e o cabo de ignição de acordo com o plano de manutenção do manual do proprietário do veículo.
5. Misturar marcas e especificações de fluidos
Misturar lubrificantes e fluidos de diferentes marcas e especificações pode causar perda de desempenho, desgaste e danos para as peças, até quebrar o motor do carro. “Para evitar o uso indevido de um produto, o manual do fabricante precisa ser o seu livro de cabeceira. Assim, você não cairá no erro de optar pelo produto mais barato da prateleira acreditando que ele atenderá as especificações da montadora”, aconselha Silva.
6. Maus hábitos de direção
Além de problemas relacionados à manutenção do automóvel, alguns erros de direção praticados pelo motorista podem estragar o motor, como trocar a marcha na hora errada, manter o pé apoiado sobre o pedal de embreagem, assim como a mão apoiada sobre a alavanca do câmbio, e acelerar agressivamente logo depois de dar a partida ou com o motor ainda frio.
7. Não seguir o plano de manutenção
Cada componente do veículo tem uma vida útil que varia conforme as condições de uso. Quando esse tempo se esgota, está na hora de realizar a manutenção. “Fique atento às recomendações sobre os intervalos de troca e manutenção. Assim, você evitará que o veículo se sobrecarregue, causando danos nas peças, o que acarretará um gasto ainda maior”, indica o engenheiro da Motul.
Renato Ferraz, ex-Correio Braziliense, tem especialidade em jornalismo automobilístico.
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