Por Orlando Tolentino*
Nos primeiros dias depois da pandemia, quando o ar ainda cheirava a álcool em gel e liberdade recém-descoberta, os amigos do Professor Doutor Luiz Antonio Costa de Santana resolveram levá-lo ao haras de Venâncio. E aqui convém abrir um parêntese: estamos falando de Luiz Antonio, o homem de currículo bíblico, duas vezes doutor, superdotado reconhecido, QI 167, capaz de citar Kant antes do café da manhã e de redigir pareceres que fariam ministros ajoelharem-se em contemplação, um monumento acadêmico, uma soma ambulante de títulos.
Pois foi exatamente esse farol da inteligência brasileira que aceitaram arrastar para um haras em plena tarde de sexta-feira, sob o pretexto nobre, claro, de ajudá-lo na pesquisa sobre vaquejada para seu segundo doutorado.
Leia maisO que ele encontrou lá, porém, não foi exatamente o campo metodológico da CAPES. Encontrou caixas e mais caixas de Anísio Santiago e Havana, dispostas como relíquias sagradas, à espera de discípulos. Aquele cenário não era um haras, era uma tentação.
O que se seguiu ao longo da tarde e da noite deveria, por prudência social, permanecer em sigilo. O enredo faria o filme “Se Beber, Não Case” parecer assembleia de condomínio. A tragédia, sempre ela, não apenas visitou Luiz Antonio: entrou, sentou-se ao lado dele e brindou.
Resultado? Perdeu duas unhas sem qualquer explicação lógica, ganhou um galo na testa digno de estudos anatômicos, perdeu o carro como quem perde um ponto de honorabilidade e — ápice shakespeariano — comprou um cavalo. Ele, que nunca montara nada mais complexo do que argumentos jurídicos.
Mas o destino, que tem humor refinado, ainda preparara uma cena extra. No dia seguinte, surgiu a esposa do vendedor do cavalo. Não era uma mulher, era um decreto. Pediu a devolução do animal, sem hesitações, sem floreios, e Luiz Antonio, a essa altura exausto de si mesmo, aceitou. Aceitou com a resignação de quem sabe que o universo sempre dá um jeito de proteger os gênios das próprias genialidades.
Assim terminou a jornada épica do Professor Doutor Luiz Antonio Costa de Santana no haras, com menos unhas, mais histórias, nenhum cavalo… e um currículo que, mesmo depois disso, continuou absolutamente invejável. Porque há homens que nem a ressaca moral consegue diminuir, apenas torna mais lendários.
*Secretário especial da Prefeitura de Petrolina
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