Dessa vez foi um certo instituto “França” de Sergipe, do qual nunca ninguém ouviu falar, que só tem uma pesquisa registrada no Google, essa de Pernambuco, divulgada na última sexta-feira. Traz números divergentes dos institutos com credibilidade. Também apresenta dados conflituosos e questionáveis.
O levantamento foi divulgado amplamente por aliados da governadora Raquel como suposto sinal de crescimento dela. É mais uma pesquisa suspeita, que apontaria um crescimento da governadora Raquel Lyra (PSD) na corrida pelo Palácio do Campo das Princesas.
Leia maisO Instituto França, de Sergipe, foi o porta-voz de um sentimento que esbarra nos números e deixa a impressão de que é parte de uma estratégia para criar essa narrativa. Sem respaldo na realidade.
O blog submeteu a pesquisa a especialistas no ramo. Conclusão: Apesar de Raquel aparecer com 29,37% das intenções de voto, atrás do prefeito João Campos (43,18%), o levantamento apresenta inconsistências evidentes quando se analisam os cruzamentos por faixa etária e escolaridade, especialmente nos casos dos pré-candidatos Eduardo Moura e Ivan Moraes, cujos desempenhos nesses recortes destoam completamente do resultado final apresentado.
Nos recortes de idade, por exemplo, Eduardo Moura aparece com percentuais altíssimos entre os eleitores mais jovens e de meia-idade: 38,87% entre os eleitores de 16 a 17 anos, 47,61% entre os de 18 a 24 anos, 39,20% entre 25 e 34 anos e 42,53% na faixa de 35 a 44 anos. Mesmo com essa expressiva vantagem em quatro dos principais segmentos etários, o candidato termina o levantamento com apenas 2,78% das intenções de voto no total — uma discrepância estatística praticamente impossível de ocorrer de forma natural dentro de uma amostra de 1.067 entrevistados.
O caso de Ivan Moraes (PSOL) também chama atenção. De acordo com os recortes divulgados, o psolista registra 31,33% de apoio entre eleitores de 18 a 24 anos, 34,07% entre os de 25 a 34 anos, e 39,59% entre os de 60 anos ou mais. Nos cruzamentos por escolaridade, Ivan aparece com 40% entre eleitores com ensino superior completo e 38,6% entre os de nível superior incompleto. Mesmo assim, no resultado geral, ele surge com apenas 1,59% das intenções de voto — outra incongruência que levanta sérias dúvidas sobre a consistência estatística do levantamento.
Esses dados colocam em xeque a credibilidade do estudo, já que não há proporcionalidade entre o desempenho segmentado e o resultado agregado. Para especialistas em metodologia, variações tão extremas indicam problemas de ponderação, erros no cálculo amostral ou falhas na tabulação dos cruzamentos.
Mesmo assim, o levantamento foi amplamente compartilhado por aliados da governadora Raquel Lyra, como indício de um suposto “crescimento” da gestora no cenário estadual — narrativa que, diante dos números conflitantes, parece mais uma tentativa de construção política do que um reflexo da realidade eleitoral de Pernambuco.
Em suma, a pesquisa do Instituto França carece de coerência interna e transparência metodológica, apresentando percentuais que não se sustentam quando confrontados com as próprias tabelas divulgadas. O resultado final, portanto, mais confunde do que esclarece o cenário político do Estado.
Lamentável que esteja ocorrendo isso, de modo sistemático.
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