Por Thalis Araújo
Da Folha de Pernambuco
A embarcação que naufragou em Suape, no último sábado (21), teria perdido força no momento em que faria uma curva, sido impelida pelo vento e sugado pelo Rio Ipojuca até virar, segundo falou o advogado Ademar Rigueira em coletiva de imprensa ontem.
Ele é o representante do médico urologista Seráfico Pereira Cabral Júnior, de 55 anos, namorado da advogada Maria Eduarda Carvalho de Medeiros, de 38. Esta morreu no acidente. Aquele sobreviveu e recebeu alta hoje, após ter ficado internado no Hospital Unimed, na Ilha do Leite, na área central do Recife.
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Ademar está à frente da defesa desde a última quarta (25) e revelou ter conversado com o cliente na quinta (26) e ontem. Segundo ele, Seráfico explicou que o casal estava no Condomínio Narguilé, em Muro Alto, em Ipojuca, Litoral Sul de Pernambuco, e foi velejar numa área considerada como “extremamente protegida”, com aproximadamente 1,5 metro de profundidade.
Eles pretendiam passear somente pelo local, que é protegido, inclusive, por pedras e tem apenas uma abertura que dá acesso ao porto de Suape, chamada de “Boca da Barra”.

Já perto deste local, Seráfico, que conduzia o barco, estava prestes a fazer uma curva, quando a embarcação perdeu força, foi impelida pelo vento e virou. A cachorra do casal também estava a bordo. Neste momento, a embarcação ainda girou, mas no sentido Porto, e foi sugada pelo rio.
“O barco bateu nas pedras, virou e eles caíram no mar. Eles colocaram a cachorra em cima do barco [virado] e eles [o casal] saíram, cada um de um lado [da embarcação já virada], equilibrando, e o barco vai puxando. Tem uma hora que o veleiro começa a afundar. É quando ele a orienta, porque a correnteza era forte. Seráfico disse ‘não nade agora. Vamos deixar a correnteza nos levar’. Eles chegam no meio do mar e, em determinado ponto, os dois param de nadar. É aí que Seráfico aconselha Duda a nadar na linha das ondas, até chegar à costa. A ideia dele era chegar perto do Porto de Suape, onde achava que era o lugar certo, naquele momento”, explicou o advogado.
Morte de Maria Eduarda
Ainda segundo o relato de Ademar, Seráfico e Maria Eduarda permaneceram juntos por cerca de duas horas depois que o barco afundou.
A advogada pediu para que ele não soltasse a cachorra, que, agora, estava nos braços dele, uma vez que o barco já havia afundado. “Não solte a cachorra, senão eu paro de nadar”, ela teria falado.
Em dado momento, perto do paredão do Porto de Suape, a correnteza os lançou contra as pedras.
“Ele só separa da cachorra depois que leva a primeira pancada [batendo contra o paredão]. Antes, ele havia orientado Maria Eduarda, dizendo que ia bater, mas que era preciso se agarrar nas pedras e, caso não conseguisse, repetisse o processo. Quando ele foi empurrado contra o paredão, bateu com a testa e não viu mais nem a namorada e nem a cachorra”, complementou.
Qual era o modelo do barco?
A embarcação que ele conduzia era do tipo Dinghy monocasco com vela bermudiana, que é classificada como “miúda de propulsão exclusivamente à vela”. Já pertenceu a ele, mas foi doado ao condomínio onde o casal estava.
Segundo o regulamento náutico, barcos desse tipo, sem motor e com comprimento inferior a seis metros não necessitam de habilitação em áreas protegidas. O que levava Seráfico e Maria Eduarda era considerado pequeno e tinha apenas dois lugares. Contudo, o barco não possuía coletes salva-vidas. Mesmo com essa informação, o advogado não acredita que o urologista será indiciado pela polícia por crime de homicídio doloso, que é quando há intenção de matar.
“Ele vai responder por homicídio doloso se tiver várias circunstâncias, várias causas que provocaram isso. Para que haja um homicídio doloso, é necessário que haja uma concorrência de causas e que a pessoa assuma o risco e, além disso, que ela não se incomode com esse risco. É a história, por exemplo, da pessoa que sai completamente embriagada, fazendo racha e furando sinal. Isso é o que caracteriza um homicídio doloso. Nesse caso, um colete poderia ter facilitado a situação. Dentro da versão dele, ela não morreu afogada. O colete também poderia ter os levado para perto das pedras”, especulou.
Procura por Maria Eduarda
Ademar ainda detalhou à reportagem que, quando o cliente dele chegou ao Porto de Suape, encontrou um homem que o teria ajudado a procurar a advogada, mas não obteve êxito. Após isso, ainda de acordo com Rigueira, alguém registrou, junto ao Centro Integrado de Operações de Defesa Social (Ciods), a notificação de “barco à deriva”, ou seja, antes de a embarcação afundar.
Por parte do Corpo de Bombeiros, as buscas duraram quatro dias, e o corpo da mulher foi encontrado na última terça-feira (24), na Praia de Calhetas.
Cronologia do acidente ao socorro
- 17h08 – Entrou o chamado de “barco à deriva” no Ciods
- 17h20 – Confirmação de “barco à deriva” a 1km
- 17h56 – Coordenação do Ciods consegue contato com a Capitania dos Portos de Pernambuco
- 19h17 – Resgate guarita Suape
- 20h54 – Confirmação do naufrágio
Relacionamento
O casal estava junto há cerca de seis meses. Naquele dia, inclusive, Seráfico havia, segundo o advogado, pedido Maria em casamento. Ele teria feito uma surpresa para ela. Após o pedido, ela teria gravado um vídeo, falando do pedido dele e enviado para a mãe.
“Seráfico está completamente arrasado. Ele já tinha vivido um relacionamento anterior. Ele me relatou que ela queria muito ter um filho. Ele tinha mais de um, ela não tinha ainda. Ele tinha concordado com isso e disse que ‘não imaginava que, depois de 55 anos, teria outro filho’. Eles estavam muito felizes”, pontuou.
As últimas imagens com vida
Em um outro vídeo que viralizou na internet, na quinta (26), mostra Maria Eduarda no barco, alegre, junto a Seráfico e a cadela. As imagens mostram parte do trajeto do casal, ao som da música “Simples Assim”, do cantor Lenine. A Folha de Pernambuco teve acesso ao conteúdo.
Mandado de busca e apreensão
Ainda no dia em que o corpo foi encontrado, a Polícia Civil de Pernambuco cumpriu um mandado de busca e apreensão no apartamento de Seráfico Júnior. Ele mora em edifício que fica no bairro da Jaqueira, Zona Norte do Recife. Ademar considera a medida como um procedimento normal.
“A polícia se acautelou de pegar esse celular para fazer uma perícia, para analisar se teve alguma briga. Essa motivação não está clara no pedido, mas a experiência mostra que, na verdade, o que a polícia quis era investigar se havia algum problema anterior do casal, alguma briga, algum fato que pudesse levar a uma situação mais grave, de até de um homicídio”, destacou ele.
Relação entre as duas famílias
Na quarta-feira (25), os familiares de Seráfico compareceram ao sepultamento da advogada. Ele não pôde ir, pelo fato de ter ficado internado. As relações entre os dois grupos parentais têm sido boas.
A mãe de Maria, inclusive, o visitou no hospital e pediu para que ele comparecesse à missa de 7º dia dela. A cerimônia aconteceu ontem, às 19h, na Igreja Madre de Deus, no Centro do Recife.
Como andam as investigações?
A Polícia Civil de Pernambuco (PCPE) foi procurada pela reportagem, mas ainda não emitiu pronunciamento atualizado acerca do caso.
Também demandado, o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) informou que precisa esperar a PCPE terminar a investigação.
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