Por Maurício Pedrosa*
No último dia 8 de março, quando celebramos o Dia Internacional da Mulher, em uma noite insone, me veio à mente as muitas mulheres virtuosas que conheci ao longo da minha vida laboral. Assim, resgatei na memória profissionais do Direito, professoras, médicas, enfermeiras, secretárias, servidoras públicas, operárias, dentre outras.
Tais lembranças, coincidentemente, afloraram em um ano de eleições municipais, quando mulheres, certamente, concorrerão, também, a cargos eletivos em disputa.
Leia mais
A conquista do voto feminino no Brasil remonta ao ano de 1932, por força do Decreto nº 21.0756/1932, do então Presidente Getúlio Vargas. Portanto, mulheres ocupando cargos eletivos no Brasil há muito não é novidade. Mesmo assim, o contingente ainda é inferior ao número de cadeiras ocupadas por homens, tanto no Executivo como no Legislativo.
Pois bem! No contexto das celebrações do Dia da Mulher e das eleições municipais que se aproximam, naquela noite lembrei alegremente da professora Giza Simões, ex-prefeita do Município de Afogados da Ingazeira, no Sertão do Pajeú. O meu contato com a professora ocorreu em uma tarde ensolarada, em meados do ano de 1999, quando eu era assessor jurídico da Fidem.
Recordo claramente quando aquela senhora muito distinta adentrou em minha sala, acompanhada do seu marido, o Dr. Orisvaldo Inácio, e de um funcionário da Fidem responsável pelo financeiro da repartição, todos querendo uma solução para o intento da prefeita. Ouvi atentamente cada um deles e logo percebi que a prefeita ‘tinha luzes’, falava um português escorreito, ágil no raciocínio e guardava elegância no trato pessoal, assim como o seu esposo.
Em suma, a prefeita desejava devolver dinheiro público, saldo financeiro de um certo convênio havido entre a sua prefeitura e a Fidem, mediante a apresentação de um cheque. Lembro que a importância em questão não era vultosa, como também recordo das palavras da prefeita: “esse dinheiro é pouco, mas não me pertence e nem ao Município que governo, preciso devolver a quem de direito”.
O colega do financeiro disse-me, em particular, que nunca tinha vivenciado tal situação e que não sabia como proceder, desconhecia até como justificar o crédito em rubrica orçamentária. A prefeita já estava inquieta com a demora, tinha vindo de longe só para cumprir o seu dever funcional, queria honrar a cláusula do convênio que assinara anos antes, obrigando-a a prestar contas ao final da avença e devolver o saldo financeiro da verba repassada que houvesse.
Indubitavelmente, aquela foi uma conduta elogiável sob todos os títulos! Para mim, aquela situação também era inusitada porque, em um país de tantos desmandos administrativos, não é raro os cofres públicos serem saqueados por gestores públicos irresponsáveis, enriquecendo ilicitamente, mesmo sabendo do risco de serem denunciados criminalmente.
Esfriando a cabeça naquele momento, após uma rodada de café e água para os presentes, encontramos uma solução, o cheque foi recebido, mediante protocolo, a prefeita agradeceu a atenção, retornou ao seu rincão de origem satisfeita e nunca mais tive o prazer de reencontrá-la.
Nos dias seguintes àquela reunião, o financeiro providenciou a burocracia pertinente e apresentou o cheque na casa bancária própria, o qual compensou sem problemas. Volvidos os anos, soube do seu falecimento em setembro de 2013, deixando uma grande lacuna na vida política de Pernambuco.
Aquele foi um exemplo vivo de probidade administrativa, respeito com a coisa pública, respeito às Instituições e, sobretudo, respeito com o dinheiro do povo que vem dos tributos recolhidos. Nesse ano de eleições municipais, espero que os eleitores façam escolhas certas, que procurem candidatos com o perfil da professora Giza Simões.
P.S: Registro que não sou filiado a nenhum partido político, não almejo cargo eletivo, também não sou eleitor de Afogados da Ingazeira e nem guardo laços de parentesco com a saudosa professora Giza Simões.
*Advogado, sócio do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico de Pernambucano e vice-presidente do Instituto Histórico de Olinda
Leia menos