José Genoino fala em boicotar ‘empresas de judeus’ e Conib repudia declaração: ‘antissemita’

O ex-deputado federal José Genoino (PT-SP) disse em uma transmissão ao vivo neste sábado (20) achar interessante “a ideia de boicote” a “determinadas empresas de judeus” e a “empresas vinculadas ao estado de Israel”. O parlamentar comentava sobre deixar de fazer compras na Magazine Luiza por causa do apoio da empresária Luiza Trajano a um abaixo-assinado que pedia que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva desistisse de apoiar uma ação da África do Sul contra Israel por genocídio.

A Confederação Israelita do Brasil (Conib) repudiou “veementemente” a fala, que classificou como antissemita. “O boicote a judeus foi uma das primeiras medidas adotadas pelo regime nazista contra a comunidade judaica alemã, que culminou no Holocausto”, afirmou a entidade. “A Conib mais uma vez apela às lideranças políticas brasileiras que atuem com moderação e equilíbrio diante do trágico conflito no Oriente Médio, pois suas falas extremadas e em desacordo com a tradição da política externa brasileira podem importar as tensões daquela região ao nosso país”. As informações são do Estadão.

Genoino falava em live no canal DCM TV, no YouTube. Um comentarista afirmou estar decepcionado com Luiza Trajano. A empresária apoiou um abaixo-assinado que pedia que Lula reconsiderasse o apoio à África do Sul na acusação de genocídio contra Israel. Mais de 17 mil pessoas assinaram o manifesto, que chama a acusação sul-africana de infundada e pede uma abordagem “justa e equilibrada” do governo brasileiro.

Em seguida, outro participante da live, Prof. Viaro, diz que há comentários nas redes sociais de pessoas que deixariam de comprar na Magazine Luiza. Genoíno, então, comenta: “Acho interessante essa ideia da rejeição, essa ideia do boicote por motivos políticos que ferem interesses econômicos, é uma forma interessante. Inclusive tem esse boicote em relação a determinadas empresas de judeus”, disse. 

Ele ainda acrescentou: “Há, por exemplo, boicote a empresas vinculadas ao Estado de Israel. Inclusive, acho que o Brasil deveria cortar as relações comerciais, na área da segurança e na área militar com o Estado de Israel.” Procurado pelo Estadão, ele não quis se manifestar.

A Federação Israelita do Estado de São Paulo (Fisesp) também reagiu à declaração de Genoíno. Segundo a entidade, trata-se de uma fala “criminosa” e que “remete à filosofia de Adolf Hitler”. “O boicote a judeus foi a primeira ação coordenada do regime nazista contra os judeus na Alemanha”, apontou.

“Constantemente, figuras importantes do Partido dos Trabalhadores e que exercem influência no governo federal se utilizam dos mesmos discursos que flertam com o nazismo e o fascismo e que foram condenados pelo próprio PT há pouco tempo.”

A entidade destacou que há cerca de 450 empresas nas relações comerciais entre Brasil e Israel, “com contratos de longo prazo, trabalhando, colaborando e ativamente investindo no setor de Tecnologia e Inovação, fundamentais para o desenvolvimento do Brasil”. “Ao evidenciar a origem judaica de empresas e pedir seu boicote, Genoíno revela a sua covardia e o seu viés antissemita”, afirmou a federação.

“O que nos preocupa ainda mais é o silêncio dos dirigentes do partido que o acolhe. Líderes que se dizem defensores da democracia não podem concordar com mais este ataque, que busca atingir pessoas apenas pelo fato de serem judeus ou judias. O antissemitismo merece total reprovação. Esperamos, mais uma vez, a retratação e principalmente o repúdio das pessoas de bem que defendem os valores da paz e da democracia.”

Também em nota, a Câmara Brasil – Israel (Bril-Chamber) afirmou que a declaração de Genoíno é antissemita e “deve ser repudiada por todos”. Segundo a Câmara, a fala “é também contrária aos interesses do Brasil e da população brasileira”.

“Trata-se de dois países democráticos, independentes, com benefícios comerciais recíprocos. O comércio bilateral entre Brasil e Israel tem crescido de forma exponencial nos últimos anos, com claros benefícios aos dois países, tendo esta relação triplicada a balança comercial nos últimos 3 anos”, apontou a entidade.

O que é a acusação contra Israel

A África do Sul levou o caso de genocídio à Corte Internacional de Haia. A argumentação é de que falas de autoridades israelenses comprovariam a intenção de cometer genocídio — por exemplo, o ministro da Defesa, Yoav Gallant, chamou palestinos de “animais humanos”. Israel nega categoricamente a acusação, e cita que a ofensiva sobre a Faixa de Gaza foi uma resposta ao ataque terrorista do Hamas em 7 de outubro. Além do Brasil, outros países do chamado Sul Global confirmaram apoio à iniciativa sul-africana.

O crime de genocídio implica na adoção de ações intencionais, destinados à destruição, total ou parcial, de um grupo nacional, étnico, racial ou religioso.

Da Agência Brasil

A cantora e deputada estadual por São Paulo Leci Brandão (PCdoB), 79 anos, está internada em um hospital da capital paulista por “questões vasculares em uma de suas pernas”, informou a sua assessoria de imprensa.

Segundo a assessoria, Leci está internada desde a última segunda-feira (15), quando foi realizar exames de rotina. A situação da deputada não é grave, mas requer cuidados específicos, reforçou sua equipe de comunicação.

“Leci já realizou um procedimento no ano passado para enfrentar o mesmo problema e os profissionais avaliaram que, devido a uma agenda intensa e extensa que ela enfrentou nos últimos meses, a recuperação dela se daria de forma mais efetiva se ela permanecesse no hospital por alguns dias”, diz o comunicado que foi enviado à imprensa.

Leci Brandão é cantora, compositora e umas das mais importantes intérpretes de samba da música popular brasileira. Ela é também a segunda deputada negra da história da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp). Filiou-se ao PCdoB em 2010 e está em seu terceiro mandato na Alesp.

O ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), teve alta hospitalar neste domingo (21), após passar por uma cirurgia. O procedimento, realizado no Hospital Vila Nova Star, em São Paulo, foi uma operação robótica para corrigir uma hérnia inguinal direta e uma hérnia umbilical. 

Segundo o boletim médico, a cirurgia foi um sucesso e o magistrado permaneceu em observação antes de receber alta. A alta de Toffoli foi avaliada pela cardiologista Ludhmilla Hajjar, que chegou a ser cotada para ser ministra da Saúde, mas recusou o convite.

Na manhã deste domingo (21), a Prefeitura do Recife e o Instituto Dom Helder Câmara (IDHeC) firmaram um convênio para manutenção do legado e memória do arcebispo emérito de Olinda e da capital pernambucana. Com a parceria, o IDHeC passará a ter a manutenção das atividades e de preservação de todo o acervo com um investimento de cerca de R$ 300 mil, ao longo de um ano, pela Fundação de Cultura da Cidade do Recife (FCCR). O convênio foi assinado durante uma cerimônia eucarística na Igreja Nossa Senhora das Fronteiras, no bairro da Boa Vista, que contou com a presença do prefeito João Campos, da ministra da Ciência, Tecnologia e Inovações, Luciana Santos.

“Toda vez que venho na Igreja das Fronteiras tenho um sentimento de muita emoção porque a história que me trouxe até aqui tem muita ligação forte com Dom Helder. Meu avô, Dr. Cyro, foi médico do arcebispo e, através dele, tive a oportunidade, enquanto criança, de ouvir muitos testemunhos sobre a convivência dos dois. Dom Helder foi uma testemunha prática do Evangelho de Jesus Cristo, então não poderia deixar de estar aqui hoje, representando a nossa cidade, para garantir a preservação de todo o seu legado, sua manutenção e dar prioridade a isso”, declarou o prefeito João Campos, após a assinatura do convênio. 

O IDHeC está completando 40 anos e é responsável pelo memorial e museu que contemplam a vida do arcebispo emérito de Olinda e Recife, Dom Helder Câmara, o defensor da paz, da justiça e da cultura pernambucana. Com o convênio, todo o acervo material e intelectual da vida pessoal, eclesiástica e da obra do religioso estará aberto ao público recifense e de outras regiões que visitam o estado. Além disso, serão cedidos bibliotecários, historiadores e profissionais focados em desenvolvimento de projetos para que o Instituto participe ativamente de editais voltados para a cultura.

“A parceria entre o Instituto Dom Helder Câmara e a Prefeitura é muito feliz e fundamental para a manutenção do memorial, a manutenção de todos os seus escritos, legados, livros, discursos, filmes, como também são permanentes. Então, o Instituto Dom Helder Câmara fica muito contente, muito feliz e tenho certeza que a preservação da memória de Dom Helder Câmara é fundamental para a democracia”, afirmou Virgínia Augusta Castellar, representante do IDHeC. 

A ministra Luciana Santos ressaltou a importância do legado do arcebispo. “Considero que o Instituto Dom Helder e tudo que ele representa é muito contemporâneo, é uma necessidade hoje para o tempo que nós vivemos, de negacionismo e intolerância no nosso País. Não podemos voltar para trás, precisamos avançar como um povo único, que pode conviver com as diferenças com civilidade. E eu penso que Dom Helder é um desses grandes brasileiros, que tiveram uma vida dedicada ao amor ao próximo e à compaixão, então precisamos difundir sua memória e palavra”, declarou.

As instalações do instituto, do memorial, do museu e de outras dependências também estarão à disposição do município do Recife e da FCCR, quando necessário, para realizar ações culturais, que possibilitem a preservação da memória do saudoso arcebispo. O acordo prevê ainda a realização de cursos, oficinas, simpósios, estudos, capacitações, treinamentos, pesquisas, visitas de servidores e outras atividades sobre a obra e vida de dom Helder Câmara e temas correlatos.

“O acervo é riquíssimo e contém vídeos, escritos e os bens pessoais de Dom Helder, o que faz necessário preservar, acima de tudo, a memória e toda a vida do arcebispo que foi dedicado aos mais humildes, à igreja e aos pobres. Portanto, essa parceria com a Prefeitura do Recife reforça e prioriza essa necessidade”, disse Marcelo Canuto, presidente da Fundação de Cultura da Cidade do Recife. 

Dom Helder e o instituto 

Dom Hélder Pessoa Câmara nasceu em Fortaleza, no Ceará, em 7 de fevereiro de 1909 e faleceu no Recife, em 27 de agosto de 1999. Foi um bispo católico, arcebispo emérito de Olinda e Recife. Um dos fundadores da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e grande defensor dos direitos humanos durante a ditadura militar no Brasil. Pregava uma igreja simples, voltada para os pobres, e a não violência. Por sua atuação, recebeu diversos prêmios nacionais e internacionais. Foi o brasileiro por mais vezes indicado ao Prêmio Nobel da Paz, com quatro indicações. O religioso está sepultado na Catedral da Sé, em Olinda.

O Instituto está localizado na antiga residência do arcebispo emérito de Olinda e Recife, no prédio anexo à Igreja das Fronteiras, na Rua Henrique Dias, na Boa Vista. Entre o conjunto das obras estão atos litúrgicos bastante procurados por fiéis, batinas, cálices, condecorações, óculos, manuscritos, prêmios, títulos e fotografias. Mil peças estão em exposição. Há móveis e utensílios usados por dom Helder no tempo que viveu por lá (1968/1999). Escrivaninha, mesa, cadeiras, rede, quadros, esculturas sacras. No andar superior, um painel mostra a linha do tempo do religioso, desde o nascimento em Fortaleza até o dia de sua morte no Recife, em 1999.

Neste domingo (21), o pré-candidato a prefeito de Lagoa de Itaenga, Dimas Natanael, se filiou ao Republicanos. Empresário na região, Dimas disputará sua primeira eleição majoritária e conta com o aval e apoio do presidente licenciado da sigla, o ministro Silvio Costa Filho.

“Dimas chega ao Republicanos para somar e ajudar o partido a continuar crescendo no Estado. É um homem do bem, de grande espírito público e que tem experiência bem sucedida na iniciativa privada, o que lhe credencia para disputar a prefeitura da cidade. Com muito diálogo com todo o seu grupo político na cidade, vamos construir uma candidatura forte que, sem dúvida, vencerá as eleições de outubro. A população de Lagoa quer mudança e Dimas é o nome certo”, disse Silvio Costa Filho.

O pré-candidato também agradeceu ao apoio do ministro e do presidente estadual do Republicanos, Samuel Andrade. “Com muito trabalho, ouvindo a população e todas as lideranças na região, vamos resgatar a esperança do povo de Lagoa e fazer uma linda campanha. Se Deus quiser, vamos vencer e, com apoio do ministro Silvio, trazer desenvolvimento para o município”, declarou.

Da Carta Capital

Ronnie Lessa, o autor dos disparos que mataram Marielle Franco e Anderson Gomes, fez um acordo de delação premiada com a Polícia Federal e trará novos detalhes sobre o assassinato da vereadora do Rio de Janeiro, ocorrido em 2018.

Se homologado pelo Supremo Tribunal Federal, esse será o segundo acordo realizado pela PF na tentativa de solucionar o caso. O primeiro acordo foi firmado com Élcio Queiroz, motorista do carro utilizado para perseguir e executar a vereadora. Segundo fontes ouvidas pelo jornal O Globo, o ex-policial militar já estaria revelando detalhes do crime à PF.

Relembre o caso

Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes foram mortos a tiros na noite de 14 de março de 2018, quando trafegavam pelas ruas do Estácio, no centro do Rio de Janeiro. Um ano após o assassinato, Lessa e Élcio de Queiroz foram presos após PF confirmar que ambos eram executor e motorista no caso.

Na delação premiada firmada por Queiroz, o ex-policial afirmou que Lessa havia dito que a motivação do crime era pessoal e não envolvia dinheiro.

O Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR) retoma, na segunda-feira (22), as sessões de julgamento sob expectativa de analisar, já nos próximos dias, as ações que pedem a cassação do hoje senador Sergio Moro (União Brasil), após um parecer do Ministério Público Eleitoral favorável à perda do mandato por abuso de poder econômico, em dezembro. O caso ainda não foi pautado pelo relator, o desembargador Luciano Carrasco Falavinha Souza, que promete fazê-lo em breve, o que gera indefinição sobre qual será a composição do plenário que dará o veredito, diante do calendário de substituições previstas no tribunal.

Os processos contra Moro questionam gastos com sua pré-campanha, período em que o ex-juiz desistiu de concorrer a presidente e optou por disputar o Senado. Com base em notas fiscais enviadas pelo União e por sua antiga legenda, o Podemos, o MPE calculou gasto de R$ 2,03 milhões e considerou que o valor foi excessivo para a disputa ao Senado no Paraná, o que configura, na sua avaliação, abuso de poder econômico. As informações são do O Globo.

A legislação eleitoral não tem uma previsão de limite para pré-campanhas, mas se o gasto for considerado excessivo pela Justiça Eleitoral, pode ser enquadrado como abuso, segundo especialistas. O principal precedente é a cassação da ex-senadora Selma Arruda (MT), em 2019. Na época, a Justiça apontou gasto anterior à campanha equivalente a 72% do arrecadado por sua candidatura.

Segundo a Procuradoria, a soma de investimentos feitos pelo Podemos e União na pré-campanha de Moro representa pouco mais de 45% do limite de gastos para a eleição de senador no estado, em 2022, de R$ 4,4 milhões (o ex-juiz gastou R$ 4,2 milhões no período oficial). O valor também equivale a mais que o dobro da média de gastos dos dez candidatos ao pleito.

“A lisura e a legitimidade do pleito foram inegavelmente comprometidas pelo emprego excessivo de recursos financeiros no período que antecedeu o de campanha eleitoral”, argumentou. Caso seja comprovada a despesa de R$ 2,03 milhões, é como se Moro, mesmo respeitando o teto durante a campanha, tivesse despendido valor superior a R$ 6,2 milhões para se eleger.

Procurado pelo GLOBO, Moro não respondeu. Para evitar sua condenação, o parlamentar tem como principal desafio reduzir o montante de despesas contabilizado como investimento direto para sua participação na eleição. Ao longo do processo, a defesa do senador tem defendido que os valores destinados a serviços advocatícios, assim como outras despesas apontadas pelas partes e pelo MPE, foram prestados a vários pré-candidatos e às legendas. Também aponta que a contratação de advogados, assim como a de serviços de segurança, não trouxeram vantagem competitiva na disputa do Paraná. O senador alega que os gastos eleitorais da sua pré-campanha somaram apenas R$ 144 mil.

De avião a advogados

Especialista em Direito Eleitoral, o advogado Eduardo Damian explica que, de acordo com a legislação, para configurar abuso de poder econômico basta detectar que houve gasto significativo na pré-campanha, sem necessidade de apontar o benefício gerado pelo investimento. Ele destaca que é preciso, no entanto, considerar nessa análise apenas despesas pessoais, sem incluir as compartilhadas ou que não tiveram finalidade eleitoral.

“Não é necessária a demonstração do benefício direto, basta demonstrar gravidade do ato ilícito”, aponta.

Autores das ações contra Moro, PT e PL haviam levantado gastos maiores com a pré-campanha, de R$ 21,6 milhões e R$ 7,6 milhões respectivamente. O Ministério Público entendeu, porém, que parte das despesas listadas também beneficiou outros pré-candidatos do Podemos e União Brasil, ou não teve a relação com a pré-campanha suficientemente comprovada. A Procuradoria apontou ainda que não há indícios de prática de caixa dois e uso indevido dos meios de comunicação, acusações também feitas pelos autores das ações.

As maiores despesas consideradas pelo MPE na conta se referem a viagens do então pré-candidato. A lista inclui, por exemplo, a contratação, pelo diretório paranaense do União Brasil, de uma aeronave da empresa Táxi Aéreo Hércules que teve entre os beneficiados Moro. Ao todo, foram identificados 21 voos, com destinos no Paraná e em São Paulo, que tiveram o senador e sua equipe entre os passageiros, entre julho e agosto de 2022. As viagens totalizaram, segundo os procuradores, R$ 429,7 mil. Já o Podemos desembolsou outros R$ 129,8 mil em passagens aéreas e serviços de hotelaria destinados a Moro e seu primeiro suplente, o advogado Luis Felipe Cunha.

O segundo maior pagamento registrado diz respeito à contratação do escritório de Cunha, seu suplente, pelo diretório nacional do União, entre abril e julho do ano eleitoral. Embora sua equipe não tenha cuidado apenas da pré-campanha de Moro, o MPE calcula que os serviços prestados apenas ao ex-juiz chegam a R$ 333,3 mil. Também se destacam contratos de publicidade digital (R$ 200 mil) e serviços de segurança (R$ 180 mil).

Formação do plenário

A dúvida sobre a composição do plenário que vai julgar a ação, formado por sete magistrados, ocorre porque o mandato do juiz Thiago Paiva dos Santos termina na terça-feira (23). Ele ocupa uma das vagas destinadas à classe dos advogados. Os mandatos dos substitutos José Rodrigo Sade e Roberto Aurichio Junior também terminam no dia 27. Para analisar a cassação de Moro, o tribunal precisa ter quórum máximo.

A escolha do próximo juiz é uma atribuição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Para fazer a indicação, no entanto, ele aguarda a aprovação de uma lista tríplice pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Segundo a Corte eleitoral, não há previsão para essa análise ocorrer. O tribunal só retoma em 1º de fevereiro.

Há ainda outra mudança que pode alterar a lista de juízes do caso. O hoje presidente do TRE paranaense, Wellington Coimbra de Moura, pode não participar do julgamento. Ele deixa o posto no dia 31 de janeiro e será substituído pelo desembargador Sigurd Roberto Bengtsson.

Política é feita de gestos. Essa máxima foi colocada em prática e pode ser facilmente observada no encontro, na última sexta-feira (19), entre o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e o pré-candidato do PT à Prefeitura do Jaboatão dos Guararapes, Elias Gomes, durante a primeira agenda em Pernambuco do chefe do Palácio do Planalto em 2024.

Elias e Lula estiveram reunidos em um hotel na Região Metropolitana pouco antes da cerimônia do termo de compromisso da construção da Escola de Sargento das Armas (ESA), em Araçoiaba. Entre os pré-candidatos a prefeito de todo o estado, apenas Elias e João Campos (PSB), que irá disputar a reeleição no Recife, foram recebidos por Lula em um encontro reservado.

Na ocasião, Elias entregou em mãos ao presidente da República uma carta com propostas para o setor da segurança pública e defesa social do país. Entre as sugestões, a criação de uma conferência municipal no setor, a ser realizada por todos as cidades brasileiras, como forma de inserir os governos locais como protagonistas de um plano nacional integrado de segurança pública e paz social.

Ainda durante a reunião, Lula reafirmou o município do Jaboatão dos Guararapes como uma das prioridades da executiva nacional do Partido dos Trabalhadores para 2024. Essa máxima tem sido reforçada desde o ato de filiação de Elias ao PT, em setembro de 2023, quando a presidente da legenda, a deputada federal Gleisi Hoffmann, garantiu o irrestrito apoio da sigla ao ex-prefeito Elias Gomes.

“Se restava alguma dúvida, agora ficou claro que o PT pretende tirar a cidade do Jaboatão das mãos do PL e realinhar o desenvolvimento do município a partir de uma parceria exitosa com o Governo Federal”, observou um membro da alta cúpula do PT após o ato.

Antes de o PP entrar no governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em setembro de 2023, o presidente nacional da legenda, senador Ciro Nogueira (PI), recebeu um recado de emissários do Palácio do Planalto: Lula queria falar com ele. A intenção era trazer o partido para o governo. Os dois foram aliados no passado, mas um muro foi erguido quando Ciro assumiu a Casa Civil na gestão de Jair Bolsonaro (PL).

Ciro se recusou a falar com Lula. A interlocutores, fez uma brincadeira para dizer não. “Em três minutos de conversa com o Lula, você se apaixona. Ele é irresistível.” Mas não precisou de três minutos. No dia 20 de dezembro, Lula entrou no plenário da Câmara para acompanhar a promulgação da reforma tributária. Em meio ao empurra-empurra, o petista viu o senador no meio da muvuca, parou e o puxou pelo pescoço para um abraço. Os dois sorriram como velhos amigos, surpreendendo aliados ao redor. As informações são do Estadão.

O senador falou que era impossível o PP “fazer o L”, mas o partido entrou no governo. André Fufuca, um fiel escudeiro do dirigente partidário, virou ministro do Esporte, firmando os tentáculos do grupo na gestão petista. Até a sede da legenda no Maranhão, que Fufuca preside, tem a cor vermelha nas peças de divulgação. O partido também emplacou o presidente da Caixa, Carlos Vieira, no cargo.

Toda a situação mostra como o senador migrou do papel de influente chefe da Casa Civil de Jair Bolsonaro, mandando e desmandando do orçamento secreto, para uma oposição a Lula que mantém tentáculos na base aliada.

Com o PP no governo e o presidente da sigla fazendo discurso de opositor, parlamentares do partido estão livres para negociar com o governo conforme o ritmo das negociações. Falar que não é base automática faz parte do jogo. Pois, dessa forma, podem pedir cargos e verbas sempre que Lula quiser aprovar algo e se afastar para não colarem sua imagem no governo. É uma posição confortável para a legenda, reinventando o papel do Centrão, que sempre foi governista em gestões anteriores.

O ex-ministro de Bolsonaro continua dando cartas em Brasília. Ele tem o comando do PP, que tem a presidência da Câmara e a liderança da minoria no Senado. O senador é um dos líderes que articula a sucessão das duas casas legislativas, no próximo ano. Além disso, passou a ter forte influência no governo de São Paulo, maior colégio eleitoral do País, compondo a cúpula de articulação política da gestão Tarcísio Freitas (Republicanos). Equilibrando-se nesses campos, Ciro tem sido chamado nos bastidores de “presidente administrativo” do País.

O parlamentar deu o apoio e o voto para aprovação da reforma tributária no Senado. Da mesma forma, não fez oposição às indicações de Flávio Dino para o Supremo Tribunal Federal (STF) e de Paulo Gonet para a Procuradoria-Geral da República, apesar de não ter revelado seu voto. Elaborou ainda uma cartilha de projetos que o partido vai apoiar. Quando vai ao Twitter ou a uma entrevista, a regra é falar mal do “governo do PT”, e menos de “Lula” diretamente. “O Lula gosta de mim, não é uma coisa política, e eu confio nele. Uma pessoa para não gostar do Lula é difícil. Ele é cativante, mas não posso trair o presidente Bolsonaro”, afirmou Ciro Nogueira ao Estadão.

O abraço em Lula provocou preocupação em Ciro Nogueira. Ele chegou a agradecer a interlocutores por nenhuma imagem do momento ter sido divulgada – até agora. O parlamentar é constantemente levado a renovar sua aliança com Bolsonaro. No dia seguinte ao abraço, falou à Coluna do Estadão, justificou que foi um gesto entre “duas pessoas civilizadas” e negou a possibilidade de se aproximar do petista. “Chance zero”, afirmou. No mesmo dia, disparou em grupos de mensagem e nas redes mais um episódio do “Cirocast”, sua série de vídeos com falas contra a gestão petista.

Já no dia 4 de janeiro, o parlamentar publicou um vídeo nas redes sociais jurando fidelidade eterna ao ex-presidente Bolsonaro, até seus “últimos dias na política”. “Minha relação com o Bolsonaro é como se fosse um casamento. Casamento você diverge, você discorda, mas nunca vai acontecer o divórcio”, afirmou.

Na avaliação de Ciro, o presidente Lula “graças a Deus” comete o mesmo erro de Bolsonaro ao falar com seu próprio público. A exceção foi o discurso do petista no Natal, bem escrito e formulado, na opinião do senador. Não faltam elogios para o governo: a escolha por Ricardo Lewandowski para o Ministério da Justiça e Segurança Pública e as “boas intenções” do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na condução da política econômica. Mas também sobram críticas: frustração do eleitor que esperava picanha e cerveja no primeiro ano de governo, falta de grandes obras começadas e entregues e o descaso com a segurança pública.

Com a eleição para o comando do Congresso no radar, Ciro trabalha ao lado do atual presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), para fazer o sucessor na Casa. Até então, o escolhido é Elmar Nascimento (União-BA). O deputado baiano, no entanto, tem fortes atritos com o PT e encontra dificuldades para receber o apoio do governo na disputa. Hoje, é tratado como um candidato com validade, que aumentará o preço para ceder apoio a outro deputado na disputa.

O plano “B” de Lira – e do próprio Ciro – para o comando da Câmara passou a ser o deputado Marcos Pereira (SP), presidente nacional do Republicanos e atual vice-presidente da Casa. Para consolidar a articulação, o PP de Ciro deve oficializar uma federação com o Republicanos, o que também abriria caminho para alianças nas eleições municipais e nas próximas eleições presidenciais. O bloco pode atrair também o União Brasil, formando uma “super federação”. Aí entra a candidatura do senador Davi Alcolumbre (União-AP) a presidente Senado, apoiado por Ciro, completando o acordo das três legendas.

No último dia 8 de janeiro, os líderes desses três partidos se ausentaram do ato convocado por Lula para marcar um ano dos ataques golpistas aos Três Poderes. Foi um forte recado para o petista, sinalizando que as articulações políticas em Brasília serão encabeçadas pelo grupo, sem adesão automática aos planos do Palácio do Planalto.

Ciro Nogueira quer ser vice de Tarcísio em 2026

Torcedor do São Paulo Futebol Clube, o território paulista também passou a fazer parte da cartilha de influência política de Ciro Nogueira – e com prioridade. Ele montou uma espécie de gabinete virtual no Palácio dos Bandeirantes, com acesso livre ao governador Tarcísio de Freitas (Republicanos). A última cartada foi filiar o secretário da Casa Civil do Estado, Arthur Lima, no PP.

Sob influência de Ciro, Lima passou a dividir o poder de negociar emendas e cargos com o secretário de Governo da gestão paulista, Gilberto Kassab, presidente do PSD. Os dois disputam a filiação de prefeitos órfãos do PSDB em São Paulo e, por enquanto, Kassab saiu na frente, com 329 prefeituras. A meta de Ciro é chegar a 80 prefeitos filiados nas eleições de outubro no Estado – desde 2020, o número subiu de 28 para 46.

Outro sonho de Ciro é filiar o governador no PP. O senador passou a defender a candidatura de Tarcísio à Presidência em 2026, diante da decisão que deixou Bolsonaro inelegível. O parlamentar fala até em ser candidato a vice na chapa. Ele disse ao Estadão que esse é o seu objetivo, mas pondera: “sou péssimo em prever meu futuro”. Ter um vice nordestino é uma estratégia vista como positiva para diminuir a distância com o PT na região. A ideia, no entanto, esbarra em Tarcísio, que vê vantagem em tentar a reeleição ao governo do Estado.

A dúvida volta a ser quem será o candidato da oposição à Presidência em 2026, com Bolsonaro inelegível. Ciro Nogueira sabe que não há vácuo na política e colocou a senadora Tereza Cristina (PP-MS) para presidir um instituto do partido em São Paulo. Tereza terá a função de articular estudos, propostas políticas e “passar o chapéu” entre empresários para arrecadar fundos para a entidade. E também virou pré-candidata a presidente da República, uma carta a mais na manga da oposição.

Mas, antes de tudo isso, o parlamentar precisa organizar o próprio futuro político no Piauí, seu reduto eleitoral. O mandato como senador acaba em 2027. Os outros dois senadores do Estado, Marcelo Castro (MDB) e Wellington Dias, este último licenciado para ser ministro do governo, estão com Lula. O governador Rafael Fonteles (PT) é uma das promessas da nova geração petista e também faz parte da base de apoio do presidente. Ciro esteve junto com todos eles no passado, no mesmo grupo político, mas agora está isolado, fazendo uma política própria com prefeitos. Sem o apoio de Lula, fica mais difícil ser eleito no Piauí. Mas nada que uma conversa de três minutos não resolva.

O vereador Marcos Mariano lançou a sua pré-candidatura a prefeito de São Joaquim do Monte, Agreste de Pernambuco, neste sábado (20). A caminhada começa com o apoio do ex-prefeito Zé Birro e de dois grandes partidos: PSB e Republicanos. Atualmente no PSDB, o pré-candidato vai disputar as eleições em uma legenda de oposição à atual gestão municipal, buscando romper um ciclo que já dura 12 anos.