O Planalto, por sua vez, articula uma estratégia contra essa ofensiva. Um dos objetivos é pelo menos transformar esses requerimentos de convocação em convite, forma considerada menos agressiva e que dá margem para uma negociação maior sobre o comparecimento das autoridades.
Articuladores políticos do governo minimizam a ofensiva da oposição. Eles dizem que o governo tem acertado nas declarações que deu até o momento sobre o conflito, nas quais condenou os ataques terroristas, a morte de civis e defendeu um cessar-fogo na região.
O ataque do grupo terrorista Hamas a Israel no último fim de semana ocorreu por terra, ar e mar. As ações contra Israel provocaram a morte de 1.300 pessoas. Do outro lado, morreram até o fim da tarde deste sábado (14) 2.215 palestinos na retaliação israelense
No Congresso brasileiro, foram preparados requerimentos de convocação para os ministros Mauro Vieira (Relações Exteriores) e para o assessor especial da Presidência para assuntos internacionais, Celso Amorim.
O requerimento de convocação de Amorim na Câmara tem como justificativa pedir que ele explique fala dada em entrevista ao Painel, da Folha, no qual afirma que o ataque do Hamas teve como origem “anos de tratamento discriminatório” de Israel contra palestinos. Três deputados do PL ainda solicitaram aprovação de moção de repúdio a Amorim pela declaração.
Um autor de parte dos requerimentos de convocação é o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Eduardo assina dois requerimentos para convocar o chanceler Mauro Vieira. Um deles tem como objetivo explicar “que medidas estão sendo adotadas após o ataque terrorista do grupo Hamas e qual é a posição oficial do Brasil em relação ao grupo terrorista e às violações que estão sendo praticadas contra o povo israelense”.
Além dos requerimentos relativos às autoridades, o parlamentar ainda é coautor de um projeto de decreto legislativo que visa encerrar um acordo de cooperação entre Brasil e a Organização para a Libertação da Palestina, em nome da Autoridade Nacional Palestina.
Recentemente, voltaram a circular fake news nas redes sociais buscando associar os acordos, e mesmo doações feitas pelo Brasil à Organização para a Libertação da Palestina, com falsos repasses para o Hamas
Deputados e senadores têm explorado, em particular, a proximidade ideológica de alguns parlamentares do PT com a causa palestina. Alguns aliados de Lula chegaram a defender o Hamas no passado, o que amplia o potencial de desgaste para o governo.
Também buscam explorar o que consideram complacência do atual governo por não considerar o Hamas como um grupo terrorista. O Brasil adota a posição histórica de seguir a classificação ditada pela ONU, que não incluiu o Hamas nessa categoria.
Parlamentares do PT, incluindo os atuais ministros Alexandre Padilha (Relações Institucionais) e Paulo Pimenta (Secretaria de Comunicação Social), chegaram a assinar em 2021 uma nota em apoio ao Hamas, quando o Reino Unido decidiu classificar o grupo como uma organização terrorista.
Padilha também foi criticado recentemente por ter recebido, antes da eclosão do conflito, um assessor parlamentar que, no dia dos ataques, debochou nas redes sociais de uma das vítimas do Hamas. O assessor, Sayid Tenório, acabou exonerado do cargo que ocupava no gabinete do deputado Márcio Jerry (PCdoB-MA).
O ministro das Relações Institucionais anunciou na terça (10) que vai se encontrar em novembro com o presidente da Confederação Israelita do Brasil, Claudio Lottenberg. O anúncio ocorreu após repercussão de reunião, antes dos ataques, com integrantes do Instituto Brasil Palestina, incluindo Sayid Tenório, e com o chefe da representação do Brasil na Cisjordânia.
Lula, na primeira declaração sobre a guerra, disse ter ficado “chocado com os ataques terroristas”, mas não citou o Hamas diretamente. A fala, seguida do tuíte do presidente na quarta (11), foi considerada acertada por aliados, que viram equilíbrio no posicionamento.
Na última quarta, Pimenta afirmou que o Brasil segue a classificação da ONU e que por isso não iria, por enquanto, mudar a sua posição sobre o Hamas.
“O Brasil tem uma posição histórica, existe uma delegação, uma competência para informar esse conceito de organização terrorista para o mundo inteiro, há uma convenção por parte de todos os países que compete ao Conselho de Segurança da ONU a definição de tudo isso”, afirmou o ministro, em entrevista à GloboNews.
“O Brasil sempre respeitou e acompanhou as decisões da ONU sobre isso. Hoje, Estado Islâmico e Al Qaeda são organizações terroristas. Nós não vamos mudar essa posição, em função de uma situação específica. [É] uma posição histórica que faz com que o Brasil seja conhecido como um país protagonista da possibilidade de construção de acordos internacionais”, completou.
Pimenta ainda disse que o episódio da nota em apoio ao Hamas tem “sido utilizado de forma absolutamente equivocada, por pessoas que tentam transformar qualquer coisa em disputa política”.
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