Na usina Utinga, em Alagoas, Eduardo mostra ser possível produzir açúcar cuidando do meio ambiente e preservando a história

Ainda em Alagoas, sabendo que meu amigo Eduardo Monteiro, presidente do Grupo EQM, formado por três usinas no Nordeste e um jornal e duas rádios em Pernambuco, havia jogado suas tarrafas empreendedoras nas terras do Marechal Deodoro, calcei minhas botas de sete léguas, convenci minha Nayla Valença a me fazer companhia, e dei um saltinho na usina Utinga, em Rio Largo, na Grande Maceió.

Foi uma visita gratificante e emocionante, rica de conhecimentos. Como empresário visionário, daqueles que sonham e viajam na altitude dos voos de uma águia, Eduardo pisou no solo do Menestrel das Alagoas, o saudoso senador Teotônio Vilela, em 2009, para escrever uma nova história, ou reescrever a história da mais tradicional e famosa usina do Nordeste, a Utinga Leão, agora apenas Utinga.

Uma história que vem do Império, alicerçada no Engenho Utinga, do desbravador português Salvador Pereira da Rosa e Silva, liderança política das Alagoas, deputado provincial por várias legislaturas. Não se tem o registro de quando o Engenho Utinga iniciou suas atividades, mas pode-se estimar que foi nos primeiros anos do século XIX.

Ficava uma légua abaixo do Engenho Cachoeira. Salvador Pereira também foi proprietário do Engenho Subaúma conforme anotações de 1844. Em maio de 1847 foi nomeado comandante superior da Guarda Nacional da Comarca de Alagoas. Faleceu em 1849 no combate com as forças do capitão pernambucano Pedro Ivo Velloso, durante a Revolução Praieira (1848/50).

Era o comandante do Batalhão Provisório criado pelo presidente da Província José Bento da Cunha Figueiredo. Nesse mesmo ano, o Engenho Utinga já surgia nos registros como sendo de propriedade de Jacinto de Paula Calheiros. Em 1859 pertencia ao Major Simplício Pereira da Rosa Calheiros, indicando que continuava de posse dos descendentes do seu fundador.

Veja que responsabilidade caiu no colo de Eduardo! Até porque em 1980, com a construção do seu terceiro parque industrial, Utinga Leão chegou a ser considerada a mais moderna fábrica de açúcar e etanol da América Latina. Mas com seu tirocínio administrativo, herança do velho Armando Monteiro Filho, seu pai, que tinha cheiro de açúcar, Eduardo modernizou o parque industrial da Utinga preservando seus casarões, sua arquitetura colonial, a casa grande, de 1849.

Na visita a hoje bem equipada e tecnológica usina Utinga, a uma hora de Maceió, é possível fazer um mergulho na história do comendador Leão. O primeiro maquinário instalado na Utinga era de origem inglesa, com a coluna de destilação fornecida pela empresa francesa Savalle Fils. Novos maquinários chegaram em 1897, produzidos pela firma Mirless-Watson Iaryan Co, de Glasgow, permitindo o funcionamento do sistema de moagem dupla.

Com essas modificações, a safra 1901/02 produziu 1.334 toneladas de açúcar (22.233 sacos de 60 quilos). Na de 1904/05, o esmagamento que era até então de 100 toneladas de cana por dia, foi para 220 toneladas. Com a crescente expansão da capacidade produtiva e a consequente necessidade de comercializar seus produtos em melhores condições, surgiu em 1909, em Recife, a firma Leão & Cia para cuidar do comércio de açúcar.

Eram seus sócios: Francisco de Amorim Leão, Cláudio Leão Dubeux e Luiz Dubeux. Na verdade, foi a firma que “maiores vantagens oferecia” no comércio, indústria, representações e comissões em Pernambuco. O capital inicial foi de 100 contos de réis. Tinha 30 empregados. No Recife estava instalada à rua Barão do Triunfo, 303. A filial em Maceió ocupava o 1º andar do prédio nº 1 da Av. Comendador Leão, onde funcionou posteriormente o Banco de Alagoas no andar térreo.

Hoje, com a aquisição de novos e modernos equipamentos, como colhetedoras, tratores e transbordos, bem como ferramentas de gestão, como o FUT (Fila Única de Transbordo), Eduardo deu uma guinada na produção de açúcar e etanol. Ampliou também sua área agricultável em 35%, para, em colheita mecanizada, atingir 70% nos próximos dois anos, aliando produtividade e tecnologia em suas diversas atividades com qualidade ambiental.

De forma arrojada, expandiu a colheita mecanizada, introduziu o enriquecimento de vinhaça para fertilização localizada, implantou irrigação por gotejamento, instalou um setor de inteligência agrícola para rastreamento da frota e controle das operações e usa até drones para o monitoramento do campo. Todo esse investimento, claro, só poderia dar bons resultados.

Para a safra 2022/23, a nova Utinga processará, aproximadamente, 1,1 milhão de toneladas de cana, atingindo uma produção de 1,8 milhão de sacos de açúcar e 22.500 metros cúbicos de etanol, com uma moagem diária da ordem de 9 mil toneladas/dia. Para se chegar a resultados tão satisfatórios, Eduardo mobiliza um exército de 3.817 funcionários, a maioria morando em casas próprias da usina e com filhos estudando numa escola com padrão A, incluindo refeitório que serve uma comida de excelente qualidade.

Na questão ambiental, uma das maiores preocupações de Eduardo, a Utinga de hoje desenvolve projetos e ações de responsabilidade socioambiental. Exemplo disso é o projeto Arca, cujos pesquisadores já registraram mais de 100 espécies de aves na área, muitas raras e ameaçadas de extinção. Sua sensibilidade ambientalista vai além. Toca um projeto de reprodução de uma espécie em extinção: o Mutum-de-Alagoas, ave muito parecida com um urubu, com nome científico de Pauxi Mitu. No Zooparque Pedro Nardelli, conhecido pelo Programa de Reintrodução da Espécie, localizado na usina, vive um casal de mutuns desde 2017.

Presidente do Instituto para Preservação da Mata Atlântica, Fernando Mendes, que está à frente do projeto, foi a última pessoa a ver um ninho com ovos de mutum na natureza, há 42 anos, e se sente emocionado pelo ocorrido. “Nós estamos fazendo agora todo o protocolo para que a gente consiga, se não nessa primeira postura, porque foi de imprevisto, a gente não esperava isso, que na segunda postura dela que pode ser daqui a 3 ou 4 semanas, nós tenhamos toda uma estrutura de ninho, viveiro pronto, para ver se ela põe os ovos, choca e cria os filhotes nesse viveiro” destacou.

Na esteira dos atos golpistas de 8 de janeiro, mais de 1 000 bolsonaristas foram presos pela Polícia Federal, a Procuradoria-Geral da República já denunciou criminalmente 835 deles e o Supremo Tribunal Federal tem investigações em andamento para apurar a relação de políticos com os ataques aos três poderes.

Outra frente de trabalho sobre os atos surgiu no Congresso, por meio de pedidos de criação de Comissão Parlamentar de Inquérito. Há duas iniciativas em curso: um requerimento no Senado de Soraya Thronicke (União-­MS) e uma articulação feita pelo deputado bolsonarista André Fernandes (PL-CE) para criar uma CPMI, comissão mista de deputados e senadores.

No Palácio do Planalto, no entanto, essa possibilidade não é bem-vista, pois pode servir como palanque para a oposição jogar holofotes sobre eventuais erros de ministros como Flávio Dino, da Justiça, e José Múcio, da Defesa, na tarefa de proteger as instituições e o patrimônio público. As informações são da edição semanal da Revista Veja.

Temendo possíveis desgastes, o presidente Lula não quer nem ouvir falar do assunto. Tanto ele quanto Dino já rechaçaram a ideia. Como só o discurso não bastou, o governo e sua base de apoio no Congresso intensificaram movimentos para tentar barrar essas CPIs.

Por enquanto, o ataque parece estar sendo mais eficaz no Senado, onde nasceu a primeira proposta de CPI. Ela é encabeçada por Soraya e parecia ter um futuro promissor. Apresentada em janeiro, poucas horas após os atos de depredação em Brasília, o requerimento reuniu assinaturas de 38 senadores em mandato (são necessárias 27), além de doze que deixaram o Senado em fevereiro, com o início da nova legislatura. Em entrevista, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), chegou a dizer que havia “fato determinado, de magnitude e importância, e assinaturas suficientes”, motivo pelo qual não lhe restaria alternativa que não ler o pedido de CPI, ato que abre caminho para sua instauração.

A maioria das assinaturas, no entanto, foi feita por senadores de partidos da base aliada do governo na Casa. A maior parte desses parlamentares, agora, diz não apoiar mais a criação da CPI, usando um argumento coincidente com o do governo Lula: as investigações têm andado a contento no STF, na PGR e na PF e que não haveria necessidade de “duplicar” as apurações. “A assi­na­tu­ra foi feita no ‘sangue quente’ ”, justifica o senador Otto Alencar (BA), lulista que lidera a bancada do PSD, a maior do Senado, com dezesseis membros. Ele assinou o requerimento de Soraya Thronicke, mas pode voltar atrás. Por outro lado, alguns governistas não cravam a retirada de apoio à Comissão.

O movimento de abafa ao requerimento de Soraya pode ser favorecido por uma questão burocrática: há um entendimento da Secretaria-Geral da Mesa do Senado no sentido de que o pedido da senadora, apresentado ainda na legislatura anterior, antes de fevereiro, ficou prejudicado, assim como as assinaturas que apoiam a iniciativa.

“Deve-se ou abrir prazo para que se retirem assinaturas ou iniciar uma nova coleta de apoios”, diz o líder do PT no Senado, Fabiano Contarato (ES), que também assinou a criação da CPI “no calor do momento”. Soraya se defende citando um artigo do regimento do Senado para argumentar que o requerimento elaborado por ela, assim como as assinaturas de seus colegas, permanecem válidos. A senadora também diz ter a palavra de Rodrigo Pacheco de que ele leria o pedido de criação da CPI na próxima sessão deliberativa, prevista para o dia 28 de fevereiro, depois do Carnaval.

“Quando protocolei o requerimento, o único senador com quem conversei foi o presidente”, diz ela. Já não confiando mais na promessa, Soraya acionou no último dia 16 o STF por Pacheco ainda não ter instaurado a CPI e classificou o comportamento dele como “atuação política antidemocrática” e “omissão”. Ela pede que o Supremo ordene a abertura da comissão de inquérito. A Corte não tem prazo para analisar o pedido.

Enquanto a tentativa de CPI no Senado está em xeque, a proposta de CPMI articulada pelo deputado André Fernandes tem tido avanços. A proposta é de incluir na apuração supostos atos de omissão do governo Lula durante as invasões do 8 de janeiro. Fernandes reuniu até o momento 32 assinaturas no Senado, mais que as 27 suficientes, e na Câmara obteve 168 apoios — são necessárias 171 assinaturas de deputados.

“Deve-se buscar apurar, principalmente, se as autoridades do novo governo receberam os informes de inteligência e por que não foram reforçadas as medidas de segurança”, diz o senador e ex-vice-presidente Hamilton Mourão (Republicanos-RS), um dos apoiadores da CPMI.

Além de Mourão, engrossam no Senado os apoios à iniciativa pesos-­pesados do bolsonarismo como Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e os ex-ministros Rogério Marinho (PL-RN), Ciro Nogueira (PP-PI), Damares Alves (Republicanos-DF) e Tereza Cristina (PP-­MS). Entre os deputados, nomes como Eduardo Bolsonaro (PL-SP), Eduardo Pazuello (PL-RJ), Nikolas Ferreira (PL-MG), Bia Kicis (PL-DF) e Carla Zambelli (PL-SP) também querem a CPMI. Ironicamente, o próprio André Fernandes é investigado no Supremo por ter insuflado os atos de janeiro. Ele chegou a ironizar nas redes sociais a invasão do STF, postando uma foto da porta de um armário vandalizado na Corte, com o nome do ministro Alexandre de Moraes.

Escaldado por escândalos do passado que respingaram nos governos petistas, tendo origem em CPIs como a dos Correios, Lula sabe como ninguém como uma investigação parlamentar pode ser desgastante quando o Palácio do Planalto entra na mira da oposição. A dificuldade de frear a Comissão de 8 de janeiro reflete também um dilema que deve se repetir ao longo do seu mandato: em meio a incertezas na base aliada, o cuidado com o Congresso terá de ser permanente.

Ao longo de uma semana em São Sebastião (SP) em razão da tragédia das chuvas no litoral norte, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) procurou se mostrar um gestor solidário, presente, disposto ao diálogo e especialista em obras —o oposto do seu padrinho Jair Bolsonaro (PL).

Políticos próximos de Tarcísio e de Bolsonaro minimizam o processo de desbolsonarização do governador, em curso desde a campanha eleitoral e intensificado após a posse, sob o argumento de que ambos têm estilos distintos, o que não significa que não sejam aliados.

A avaliação é a de que o desastre deu a chance para que a população conhecesse Tarcísio, que sempre marcou suas diferenças em relação a Bolsonaro, embora tenha abraçado o ex-presidente para ser eleito. As informações são da Folha de S. Paulo.

Nos bastidores, porém, há incômodo entre bolsonaristas com o reposicionamento de Tarcísio, atribuído à influência de Gilberto Kassab (PSD), secretário e homem forte da gestão.

Especialmente a aproximação com o presidente Lula (PT) gerou críticas entre os mais conservadores, que veem uma ação coordenada para afastar o governador do ex-presidente tendo a tragédia como ensejo.

Com o radicalismo em baixa após a derrota de Bolsonaro e o 8 de janeiro, aliados dizem que a postura de Tarcísio diante da tragédia deve render ganhos em popularidade e vantagem eleitoral, mas o discurso geral é o de que o governador não mira a carreira política ao definir suas ações.

Diante da crise humanitária, as comparações imediatas em relação a Bolsonaro lembram seu desdém na pandemia e o fato de que ele não interrompeu passeios de jet-ski no final de 2021 quando cidades da Bahia enfrentavam calamidade por causa de chuvas.

Na oposição, que também vê discrepância nas atitudes de Tarcísio e Bolsonaro, a leitura é a de que o governador está cumprindo com sua obrigação e que, após quatro anos de bolsonarismo, isso acaba sendo visto como algo positivo. Deputados do PT, contudo, não deixam de traçar caminhos para vigiar e criticar o governo.

Na última semana, Tarcísio transferiu seu gabinete para São Sebastião, onde tem passado os dias ao lado de seus secretários vistoriando obras, fazendo reuniões e dando entrevistas a jornalistas –os elogios à imprensa, aliás, são outro ponto em que se afasta de Bolsonaro.

Na segunda-feira (20), o governador esteve ao lado de Lula, do prefeito Felipe Augusto (PSDB) e da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva (Rede) –numa união que, conforme destacou o presidente, é “uma cena que há muito tempo vocês não viam no Brasil”.

“É uma demonstração específica de que é possível exercer a nossa função na democracia mesmo quando a gente pertence a partidos diferentes e pensa diferente ideologicamente. O bem comum do povo é muito mais importante do que qualquer divergência”, discursou Lula na cidade, emendando com “acabou a eleição”.

Tarcísio agradeceu a presença do presidente. “Isso nos dá amparo, nos dá conforto no momento em que a gente precisa trabalhar em um regime de cooperação”, disse.

No início do mês, o governador chegou a dizer que ele e Lula agora são sócios. Antes disso, após eleito, declarou que não era “bolsonarista raiz”.

Tido como artífice da ponte entre Tarcísio e Lula, Kassab diz que o desastre deixa claro que “o governador sabe exercer liderança, é uma pessoa do diálogo, bem preparada e sensível”. “Ele está exercendo o cargo de governador na sua plenitude”, completa.

Questionado sobre a comparação com Bolsonaro, Kassab diz à Folha que prefere olhar para frente. “O governador e o Brasil estão enlutados, ninguém ganha com o que aconteceu, muito menos ele”, afirma o presidente do PSD sobre os dividendos políticos do episódio.

Para o deputado federal Jilmar Tatto (PT-SP), Tarcísio “se comporta como devem se comportar os eleitos, cumprindo o pacto federativo”. “Talvez, depois de quatro anos de Bolsonaro, as pessoas estranhem isso.”

Tatto duvida de que a popularidade de Tarcísio suba após a tragédia, pois avalia que o governador faz apenas sua obrigação. Ele também diz não acreditar em um descolamento de Bolsonaro: “Está cedo para avaliar, temos que ver seu comportamento na eleição municipal de 2024”.

“Realmente Tarcísio teve uma postura diferente do Bolsonaro. Presença e solidariedade são importantes, mas é preciso ações concretas, porque muitas vezes há um movimento de ajuda e depois a questão é esquecida”, diz o deputado estadual Paulo Fiorilo (PT), cobrando novas moradias e ações de prevenção.

Seguindo a linha de Kassab, o entorno do governador tem tirado o foco da pretensão política de Tarcísio e de sua relação com Bolsonaro –o discurso se concentra nas ações de governo, o que, de forma velada, tem no horizonte a perspectiva de uma candidatura à reeleição em 2026.

“O objetivo da ação do governador desde o primeiro dia de governo não é se aproximar ou se distanciar de estilo de qualquer outro político, incluindo Bolsonaro, mas sim trabalhar pelo estado”, diz o vice-governador Felicio Ramuth (PSD).

Ramuth afirma que “num momento triste, o estado teve o privilégio de ter um governador com a experiência de um engenheiro militar, que já atuou em outros locais críticos, como Amazônia e Haiti”.

“Se isso se reflete em ganho político é o menos importante para ele”, diz ainda.

O bolsonarista Filipe Sabará (Republicanos), secretário-executivo da Secretaria de Desenvolvimento Social, diz que, apesar de haver diferenças, não existe uma traição de Tarcísio a Bolsonaro.

“O governador sempre menciona Bolsonaro e o elogia. Ele não precisa ser igual a Bolsonaro para demonstrar fidelidade e gratidão”, diz à Folha. Sabará pondera ainda que o ex-presidente tem um “jeito rude de falar”, mas tomou medidas diante de crises semelhantes.

Outros secretários ouvidos pela reportagem também dizem não haver conflito entre Tarcísio e o bolsonarismo, já que o ex-presidente sabe que seu apadrinhado não segue a totalidade de sua cartilha e ainda assim o apoiou na eleição.

“Tarcísio sempre foi diferente [de Bolsonaro]. Ele tinha alinhamento apenas nas entregas na economia e infraestrutura”, completa Sabará.

Com uma atuação pública discreta, o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) vem se tornando um canal de diálogo do governo com alguns setores mais refratários ao PT, como militares, representantes do agronegócio e parlamentares da oposição.

Alckmin tem buscado se consolidar como uma ponte do Executivo com camadas da sociedade mais críticas à esquerda. Aliados dizem que essa atuação é a estratégia dele para manter protagonismo na gestão petista, uma vez que não participa do centro de poder do governo —concentrado na Casa Civil— ou da formulação da política econômica, algo que ocorre principalmente no Ministério da Fazenda.

O vice-presidente manteve apenas três despachos oficiais com Lula em 45 dias de governo, segundo a agenda do mandatário. Mas interlocutores do vice-presidente, que também é ministro do Desenvolvimento Indústria, Comércio e Serviços, ressaltam que os dois conversam também por telefone pelo menos uma vez por semana. As informações são da Folha de S. Paulo.

Governador de São Paulo por quatro mandatos, Alckmin deixou o PSDB e se filiou ao PSB para viabilizar a aliança eleitoral com Lula. A ida do ex-tucano para a chapa petista fez parte do plano de Lula para reduzir resistências ao PT no setor produtivo e se aproximar do centro e da centro-direita.

Após a vitória, Lula indicou Alckmin para ser o coordenador-geral do governo de transição. Havia uma especulação de que o posto poderia ser ocupado por Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT; ou ainda por Aloizio Mercadante, hoje presidente do BNDES e que coordenou o plano de governo petista. Pouco depois, o vice foi anunciado como ministro.

Alckmin esteve ao lado de Lula na reunião com governadores logo após os ataques golpistas de 8 de janeiro; também participou da primeira reunião ministerial do governo e do segundo encontro com os chefes dos Executivos estaduais.

Nesse terceiro evento, Lula fez uma brincadeira com o fato de Alckmin não ter sentado em sua cadeira no gabinete presidencial quando o mandatário viajou para Argentina e Uruguai.

Alckmin justificou a pessoas próximas que tampouco se sentou na cadeira do então governador Mário Covas (PSDB) quando era vice em São Paulo e precisava ocupar o cargo interinamente, de 1995 a 2001.

A relação de Lula com os militares está estremecida desde antes da posse. Parte significativa de oficiais e da tropa é crítica ao PT, enquanto o presidente e aliados desconfiam de um setor que consideram contaminado politicamente pelo bolsonarismo.

O próprio ministro da Defesa, José Múcio, chegou a afirmar que o mandatário estava com dificuldades para virar a página.

Nesse sentido, o ministério comandado por Alckmin virou uma ferramenta para tentar distensionar a relação com a caserna. Lula passou a tratar com os comandantes sobre projetos estratégicos para as Forças Armadas e escalou a pasta do Desenvolvimento Indústria, Comércio e Serviços para coordenar a participação da iniciativa privada nessas ações.

Na primeira viagem internacional de Lula, uma das agendas de Alckmin como presidente interino foi justamente acertar com Múcio e os comandantes militares a criação de um comitê de investimentos para os projetos estratégicos das Forças.

A questão ganhou destaque dentro do ministério de Alckmin, que passou a manter contato direto com Múcio e os comandantes.

Dessa forma, o vice-presidente reforçou o canal de diálogo entre o Planalto e os militares. Aliados de Alckmin afirmam que está sendo construída uma relação de confiança.

O vice também mantém aberto o seu gabinete para políticos de diferentes correntes ideológicas, incluindo a oposição. Recebeu, por exemplo, os governadores bolsonaristas Marcos Rocha (União Brasil-RO) e Jorginho Mello (PL-SC).

Também houve reunião com o ex-líder do governo Bolsonaro na Câmara Ricardo Barros (PP), que atualmente é secretário da Indústria, Comércio e Serviços do Paraná.

O vice-presidente teve atuação forte neste início de mandato para fortalecer a bancada no Senado do seu partido, o PSB, e consequentemente ampliar o arco de alianças do governo. Ajudou a trazer para o partido nomes que eram ligados a Bolsonaro, como o ex-vice-líder do governo Chico Rodrigues (RR); e outros que tinham uma atuação mais independente, como Flávio Arns (PR) e Jorge Kajuru (GO).

Em outra frente, Alckmin está abrindo canais com o agronegócio, que apoiou amplamente Bolsonaro e teve empresários acusados de financiar atos golpistas.

A aproximação inicial de Lula com o setor esteve a cargo de Carlos Fávaro, atual ministro da Agricultura. No entanto, interlocutores do governo apontam que Alckmin também está intensificando a aproximação com o agronegócio, principalmente a produção mais voltada para exportação.

Apontam nesse sentido o diálogo e a intensificação de ações e projetos para tratar da questão dos fertilizantes, que se tornou um problema com a guerra entre Rússia e Ucrânia, dois exportadores do produto.

Além disso, Alckmin preside a Cosban (Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação), principal mecanismo de coordenação institucional da relação Brasil-China. O país asiático é o principal parceiro comercial do país e destino prioritário do agronegócio brasileiro.

Em meio ao impasse entre as alas política e econômica sobre manter ou encerrar a desoneração do PIS e da Cofins que incidem sobre a gasolina e o álcool, o governo avalia uma solução de meio termo: a reoneração parcial.

Medida provisória editada pelo governo no início do ano estipulou que a desoneração duraria até a terça-feira (28). A ala política defende que a medida seja prorrogada. A ala econômica entende que, diante do impacto para as contas públicas, a cobrança dos impostos deve voltar integralmente. As informações são do portal G1.

A alternativa da reoneração parcial foi discutida numa reunião, na sexta-feira (24), entre Casa Civil, Petrobras e ministérios da Fazenda, e de Minas e Energia.

Gasolina

A possibilidade que está na mesa e que será levada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva prevê que a gasolina C, do consumidor, seja reonerada em 71% do PIS e da Cofins.

Ou seja, em vez de voltar a cobrar a totalidade do imposto, o que representaria R$ 0,69 por litro do combustível, o governo cobraria R$ 0,49 por litro.

Álcool

Já em relação ao álcool, a reoneração seria menor, de 25%.

Ou seja, dos R$ 0,24 por litro, que representa a totalidade do tributo federal, o governo voltaria a cobrar R$ 0,06 centavos. O objetivo é manter a competitividade do etanol.

Depende da aprovação de Lula

Nesta segunda-feira (27), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem reunião com os ministros Rui Costa (Casa Civil) e Fernando Haddad (Fazenda) e com o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates.

Se Lula aprovar a solução, uma nova medida provisória com as mudanças na cobrança dos impostos. deve ser assinada pelo governo.

Para amenizar o efeito da reoneração parcial, o governo espera que a Petrobras reduza o preço da gasolina nas refinarias nos próximos dias, já que o valor cobrado hoje pela gasolina está 6% acima do valor internacional, de acordo com a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis, a Abicom.

Na avaliação do governo, portanto, haveria espaço para a redução respeitando a política de paridade de importação (PPI).

Embates

A discussão da reoneração dividiu o ministério da Fazenda e a ala política do governo.

Haddad vinha defendendo que o subsídio não fosse renovado, o que renderia aos cofres público uma recomposição de receita de cerca de R$ 29 bilhões neste ano.

Mas o próprio presidente Lula externou preocupação do impacto que isso poderia gerar para o bolso do consumidor e para a inflação.

Nesta sexta-feira (24), adicionando mais uma argumentação ao embate, a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), escreveu em uma rede social que voltar a taxar combustíveis agora é “descumprir compromisso de campanha”.

“Não somos contra taxar combustíveis, mas fazer isso agora é penalizar o consumidor, gerar mais inflação e descumprir compromisso de campanha”, disse.

Em seu primeiro discurso no G20, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reforçou o empenho em fortalecer o multilateralismo. O encontro, realizado em Bangalore, na Índia, reúne os ministros de Finanças e presidentes de Bancos Centrais das principais economias do mundo e prepara o terreno para a reunião do próximo ano quando o Brasil assumirá a presidência rotativa do grupo.

“Herdamos um cenário diplomático problemático. O Brasil estava isolado, ausente e em desacordo com seus valores e tradições. Olhando para o futuro, vamos reconstruir nossa presença internacional. Os assuntos econômicos e financeiros são uma parte crucial desse esforço”, disse Haddad. As informações são do Correio Braziliense.

No pronunciamento, o ministro citou desafios globais como as consequências da pandemia, guerras, conflitos, aumento da pobreza, desigualdades e energia limpa a preços acessíveis e defendeu a reforma de organismos multilaterais de crédito com intuito de canalizar recursos, em especial aos países em desenvolvimento, para o combate à pobreza, à fome e às mudanças climáticas.

“O financiamento climático é mais caro e apresenta taxas de risco mais altas para esses países, o que dificulta o alcance das metas de redução de emissões de carbono”, enfatizou.

Haddad manifestou, ainda, preocupação do governo brasileiro com o endividamento dos países pobres e com as elevadas taxas de juros praticadas em nível global. “Estamos preocupados com os níveis da dívida, notadamente entre os países mais pobres. A elevação das taxas de juros em meio à fragilidade da economia global agrava este cenário”, declarou.

Harmonia com o BC

Após o tensionamento das relações entre o governo e o Banco Central (BC), com críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) aos juros altos e às metas de inflação, o ministro e o presidente do BC, Roberto Campos Neto, que também está no evento, seguem dando manifestações públicas de proximidade. Conversas amigáveis nos corredores e até um almoço a dois marcaram a viagem.

Este foi o segundo almoço entre Haddad e Campos Neto em uma semana. No dia 16, ambos almoçaram por cerca de duas horas antes da reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN), em Brasília.

O assessor especial do governo Joe Biden para o clima, John Kerry, chega a Brasília neste fim de semana para cumprir uma série de compromissos com autoridades brasileiras.

De acordo com a embaixada dos Estados Unidos no Brasil, a visita de John Kerry ao país tem como objetivo discutir dois assuntos centrais: questões climáticas e combate ao desmatamento.

g1 apurou junto a integrantes do governo brasileiro e do governo americano que a agenda deve ser dividida em duas vertentes de discussão. A primeira, considerada a agenda climática da viagem, envolverá discussões sobre temas como:

  • preservação do meio ambiente
  • energias renováveis
  • agricultura
  • indústria
  • comércio

Diplomacia

A outra parte da agenda, mais dedicada à parte diplomática da questão ambiental, deve envolver:

  • Convocação de reunião do Grupo de Trabalho de Alto Nível Brasil-EUA sobre Mudança do Clima (GTNC);
  • Intenção dos EUA de fornecer recursos para programas de conservação e preservação da Amazônia, incluindo o aporte de recursos para o Fundo Amazônia;
  • Cooperação Brasil-EUA na Convenção-Quadro da ONU sobre Mudança do Clima;
  • Cooperação Brasil-EUA sobre a implementação do Acordo de Paris.

Reuniões

A expectativa é que John Kerry se reúna com empresários, parlamentares e diversas autoridades do governo brasileiro, entre as quais:

  • Geraldo Alckmin, vice-presidente da República e ministro da Indústria e Comércio
  • Rodrigo Pacheco, presidente do Senado
  • Marina Silva, ministra do Meio Ambiente
  • Sônia Guajajara, ministra dos Povos Indígenas
  • Aloizio Mercadante, presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)
  • Essas agendas incluem reuniões, por exemplo, no Palácio Itamaraty (sede do Ministério das Relações Exteriores), na segunda-feira; e no Ministério do Meio Ambiente, na terça-feira.

Embaixador brasileiro para o clima

A viagem de Kerry ao Brasil acontece uma semana após o governo brasileiro ter anunciado o diplomata e ex-ministro das Relações Exteriores Luiz Alberto Figueiredo como novo embaixador extraordinário para o clima, cargo recriado pelo governo Lula.

Segundo o Itamaraty, Figueiredo deverá representar o Brasil em eventos internacionais sobre o clima e participar de discussões no exterior sobre o combate às mudanças climáticas.

Figueiredo já foi embaixador do Brasil nos Estados Unidos e atuou como representante do Brasil nas Nações Unidas, em Nova York (EUA). Na estrutura do Itamaraty, chefiou a Divisão de Política Ambiental do ministério.

O prefeito de Salvador, Bruno Reis (União Brasil), confirmou que mais de R$ 2 bilhões foram injetados na economia soteropolitana durante o Carnaval. Reis também defendeu a importância da realização da festa para a capital baiana e afirmou que mais 50 mil empregos diretos e indiretos foram gerados no período.

“Os números mostraram que foi o melhor Carnaval com participação popular. Foram quase três milhões de pessoas espalhadas nos diversos circuitos e nos bairros. Por onde andamos na cidade, todo mundo falava que nunca viu tanta gente. Apesar do grande volume de foliões, houve uma queda significativa de atendimentos que realizamos nas unidades de saúde. Atendemos 4.149 pessoas, o que representou redução de 27% em relação ao ano de 2020”, pontuou, em coletiva de imprensa. As informações são do Portal M!.

“Se de um lado havia mais gente nas ruas, do outro, houve uma segurança muito maior. Isso mostra que tivemos uma festa mais tranquila, onde as pessoas vieram para rua para se divertir”, finalizou.

Ainda segundo o gestor municipal, o Carnaval deste ano serviu para mostrar o grande desafio da Prefeitura para 2024, que é fazer com que todos os circuitos tenham ainda mais atrações. A folia da capital baiana deste ano teve quase 3 mil horas de música, 512 atrações nos palcos temáticos e 637 nos circuitos da festa.

“Nosso Carnaval é o maior do mundo e isso ficou evidenciado nas ruas, redes sociais e imprensa. A cidade foi a mais comentada no planeta. Nós estamos fortalecendo mais o Centro. Vamos trazer mais novidades, mais conteúdo. Quem viu as imagens aqui durante esse período lembrou o passado, da época em que esse Carnaval era o mais desejado. Então, cumprimos nosso objetivo”, assegurou Bruno Reis, reafirmando que Ivete Sangalo já assumiu compromisso de se apresentar no circuito Osmar no próximo ano.

Reis ainda celebrou a revitalização do percurso mais tradicional da folia e garantiu ainda mais investimentos para 2024. “Foram 10 dias de muita agitação (contando com o pré-Carnaval) que levaram muita felicidade para os quatro cantos da cidade. Hoje posso dizer que realizamos o maior Carnaval da história. Depois da espera de mais de mil dias para sua realização, no qual muita gente questionava se teríamos esse retorno, graças a Deus fechamos a festa com chave de ouro”, afirmou o chefe do Executivo municipal.

Em conversas sobre sua escolha para os indicados ao Supremo Tribunal Federal (STF), Lula deixa claro a interlocutores que mudou as prioridades que vão norteá-lo em relação a escolhas anteriores.

Nas gestões Lula 1 e 2, entre 2003 e 2010, o apoio político que os cotados tinham era fator determinante na sua decisão. Além disso, o presidente levava em consideração a opinião de conselheiros, como o ex-deputado Sigmaringa Seixas, que recusou duas vezes o convite do próprio Lula para integrar o STF. Outro nome sempre ouvido era o do ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos. Seixas morreu em 2018 e Bastos, em 2014. As informações são da colunista Bela Megale, do O Globo.

Hoje, Lula diz que o critério que vai definir seu escolhido não será mais o do apoio político e nem de representação de determinados segmentos. Seu julgamento pessoal é o que vai pesar na escolha dos candidatos. O presidente destaca que seu indicado terá duas características: lealdade e não ter medo de se posicionar contra a opinião pública.

Nos 580 dias em que ficou preso, Lula manifestou diversas vezes contrariedade com o posicionamento de ministros do STF e do Superior Tribunal de Justiça (STJ) indicados por ele e Dilma Rousseff, que, na sua avaliação, tomaram decisões a reboque da opinião pública.

O presidente do Conselho Administrativo do Distrito de Irrigação do Nilo Coelho (Dinc), José Loyo Arcoverde, encaminhou, no início desta semana, ofício ao ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, solicitando uma ação imediata contra a invasão da reserva legal do Projeto Público Irrigado Senador Nilo Coelho.

Segundo o documento, a área de reserva legal do Projeto, localizada nas porções baiana e pernambucana do perímetro público foi mais uma vez invadida pelo movimento intitulado sem terra.

“A ocupação e atividades de supressão vegetal que já foram identificadas pela nossa equipe de segurança ocorreram no último dia 18 de fevereiro”, afirma o documento.

O texto ressalta que a ocupação, que tem características de assentamento não temporário, pode ser confirmada/identificada a qualquer tempo por qualquer órgão de Estado.

“Trata-se de um ato de voluntária e consciente afronta à legalidade e aos regramentos da lei ambiental em vigência, além de ser uma prática reincidente que, após a tramitação com êxito de processo de reintegração de posse promovido pela CODEVASF, culminou com a desocupação da área pela Polícia Federal em 2019 como já mencionamos”.

Ainda de acordo com o ofício, a ocupação em tela produz, sobretudo, efeitos bastante deletérios sobre a segurança do Projeto, quer do ponto de vista do impacto direto à infraestrutura do canal de irrigação do PPI, (captações irregulares feitas sem critérios e mediante destruição da berma/borda); quer do ponto de vista do desenvolvimento/indução da salinização das áreas onde a produção agropecuária é pretendida, com solos inapropriados para as práticas produtivas, razão pela qual são considerados como áreas de sequeiro, destinadas à reserva.

“Isto posto, imbuídos do nosso dever de ofício de acionarmos todas as autoridades competentes para que as providências cabíveis sejam adotadas, aproveitamo-nos da oportunidade para também pedirmos a Vossa Excelência o apoio institucional e político com vistas ao restabelecimento da desocupação de nossas áreas de reserva”, finaliza o texto.