Ainda em Alagoas, sabendo que meu amigo Eduardo Monteiro, presidente do Grupo EQM, formado por três usinas no Nordeste e um jornal e duas rádios em Pernambuco, havia jogado suas tarrafas empreendedoras nas terras do Marechal Deodoro, calcei minhas botas de sete léguas, convenci minha Nayla Valença a me fazer companhia, e dei um saltinho na usina Utinga, em Rio Largo, na Grande Maceió.
Foi uma visita gratificante e emocionante, rica de conhecimentos. Como empresário visionário, daqueles que sonham e viajam na altitude dos voos de uma águia, Eduardo pisou no solo do Menestrel das Alagoas, o saudoso senador Teotônio Vilela, em 2009, para escrever uma nova história, ou reescrever a história da mais tradicional e famosa usina do Nordeste, a Utinga Leão, agora apenas Utinga.
Leia maisUma história que vem do Império, alicerçada no Engenho Utinga, do desbravador português Salvador Pereira da Rosa e Silva, liderança política das Alagoas, deputado provincial por várias legislaturas. Não se tem o registro de quando o Engenho Utinga iniciou suas atividades, mas pode-se estimar que foi nos primeiros anos do século XIX.
Ficava uma légua abaixo do Engenho Cachoeira. Salvador Pereira também foi proprietário do Engenho Subaúma conforme anotações de 1844. Em maio de 1847 foi nomeado comandante superior da Guarda Nacional da Comarca de Alagoas. Faleceu em 1849 no combate com as forças do capitão pernambucano Pedro Ivo Velloso, durante a Revolução Praieira (1848/50).
Era o comandante do Batalhão Provisório criado pelo presidente da Província José Bento da Cunha Figueiredo. Nesse mesmo ano, o Engenho Utinga já surgia nos registros como sendo de propriedade de Jacinto de Paula Calheiros. Em 1859 pertencia ao Major Simplício Pereira da Rosa Calheiros, indicando que continuava de posse dos descendentes do seu fundador.
Veja que responsabilidade caiu no colo de Eduardo! Até porque em 1980, com a construção do seu terceiro parque industrial, Utinga Leão chegou a ser considerada a mais moderna fábrica de açúcar e etanol da América Latina. Mas com seu tirocínio administrativo, herança do velho Armando Monteiro Filho, seu pai, que tinha cheiro de açúcar, Eduardo modernizou o parque industrial da Utinga preservando seus casarões, sua arquitetura colonial, a casa grande, de 1849.
Na visita a hoje bem equipada e tecnológica usina Utinga, a uma hora de Maceió, é possível fazer um mergulho na história do comendador Leão. O primeiro maquinário instalado na Utinga era de origem inglesa, com a coluna de destilação fornecida pela empresa francesa Savalle Fils. Novos maquinários chegaram em 1897, produzidos pela firma Mirless-Watson Iaryan Co, de Glasgow, permitindo o funcionamento do sistema de moagem dupla.
Com essas modificações, a safra 1901/02 produziu 1.334 toneladas de açúcar (22.233 sacos de 60 quilos). Na de 1904/05, o esmagamento que era até então de 100 toneladas de cana por dia, foi para 220 toneladas. Com a crescente expansão da capacidade produtiva e a consequente necessidade de comercializar seus produtos em melhores condições, surgiu em 1909, em Recife, a firma Leão & Cia para cuidar do comércio de açúcar.
Eram seus sócios: Francisco de Amorim Leão, Cláudio Leão Dubeux e Luiz Dubeux. Na verdade, foi a firma que “maiores vantagens oferecia” no comércio, indústria, representações e comissões em Pernambuco. O capital inicial foi de 100 contos de réis. Tinha 30 empregados. No Recife estava instalada à rua Barão do Triunfo, 303. A filial em Maceió ocupava o 1º andar do prédio nº 1 da Av. Comendador Leão, onde funcionou posteriormente o Banco de Alagoas no andar térreo.
Hoje, com a aquisição de novos e modernos equipamentos, como colhetedoras, tratores e transbordos, bem como ferramentas de gestão, como o FUT (Fila Única de Transbordo), Eduardo deu uma guinada na produção de açúcar e etanol. Ampliou também sua área agricultável em 35%, para, em colheita mecanizada, atingir 70% nos próximos dois anos, aliando produtividade e tecnologia em suas diversas atividades com qualidade ambiental.
De forma arrojada, expandiu a colheita mecanizada, introduziu o enriquecimento de vinhaça para fertilização localizada, implantou irrigação por gotejamento, instalou um setor de inteligência agrícola para rastreamento da frota e controle das operações e usa até drones para o monitoramento do campo. Todo esse investimento, claro, só poderia dar bons resultados.
Para a safra 2022/23, a nova Utinga processará, aproximadamente, 1,1 milhão de toneladas de cana, atingindo uma produção de 1,8 milhão de sacos de açúcar e 22.500 metros cúbicos de etanol, com uma moagem diária da ordem de 9 mil toneladas/dia. Para se chegar a resultados tão satisfatórios, Eduardo mobiliza um exército de 3.817 funcionários, a maioria morando em casas próprias da usina e com filhos estudando numa escola com padrão A, incluindo refeitório que serve uma comida de excelente qualidade.
Na questão ambiental, uma das maiores preocupações de Eduardo, a Utinga de hoje desenvolve projetos e ações de responsabilidade socioambiental. Exemplo disso é o projeto Arca, cujos pesquisadores já registraram mais de 100 espécies de aves na área, muitas raras e ameaçadas de extinção. Sua sensibilidade ambientalista vai além. Toca um projeto de reprodução de uma espécie em extinção: o Mutum-de-Alagoas, ave muito parecida com um urubu, com nome científico de Pauxi Mitu. No Zooparque Pedro Nardelli, conhecido pelo Programa de Reintrodução da Espécie, localizado na usina, vive um casal de mutuns desde 2017.
Presidente do Instituto para Preservação da Mata Atlântica, Fernando Mendes, que está à frente do projeto, foi a última pessoa a ver um ninho com ovos de mutum na natureza, há 42 anos, e se sente emocionado pelo ocorrido. “Nós estamos fazendo agora todo o protocolo para que a gente consiga, se não nessa primeira postura, porque foi de imprevisto, a gente não esperava isso, que na segunda postura dela que pode ser daqui a 3 ou 4 semanas, nós tenhamos toda uma estrutura de ninho, viveiro pronto, para ver se ela põe os ovos, choca e cria os filhotes nesse viveiro” destacou.
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