João Pessoa (PB) foi palco da reunião dos governadores do Consórcio Nordeste. Presidida pelo governador João Azevêdo (PSB), da Paraíba, o encontro apontou as prioridades a serem apresentadas ao presidente Lula. No geral, investimentos em infraestrutura, energias renováveis e sugestões de reforma tributária.
O Nordeste tem, nessa quadra, uma oportunidade única. A de atualizar seu papel neste novo tempo de país e de se reposicionar enquanto região estratégica, e virar a chave do estigma de porção periférica.
Agora com as águas da Transposição, o histórico Nordeste da seca tem de desaguar o território com grande vocação para fruticultura e produção de alimentos.
Do povo vítima de preconceito para grande polo formador de privilegiada mão de obra em tecnologia e inovação, com capacidade de preservar aqui o seu estoque intelectual e criativo.
De estados com baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) para o metro quadrado de maior potencial de produção de energias renováveis.
Se o Nordeste não é mais o de antes, também deve se comportar igualmente diferente. Ao invés do humilhante pires na mão, um cardápio rico a oferecer ao Brasil. Para ser visto de outra forma, precisamos primeiro nos ver de outro modo.
Quebrando o retrovisor de quem nos enxerga pequeno e deixando para trás nossa tentação de autocomiseração, um Nordeste que pensa, age e é grande!
A articulação unificada dos governadores é um passo importante. Com portas reabertas no Planalto, chegou a hora de cobrar a fatura desse peso político decisivo na balança de 2022.
A dívida eleitoral de Lula com a região é enorme e a compensação administrativa tem de ser exigida na mesma proporção do crédito. Nada a menos.
*Jornalista, apresentador de rádio e televisão, entrevistador, articulista político, fundador e diretor do Portal MaisPB e da Rede Mais Conteúdo.
Centenas de milhares de peruanos protestam pelas ruas de Lima e das principais cidades. Nada é capaz de pará-los. Até agora, 55 já morreram. Há estudantes, médicos, carpinteiros, motoristas, operários, desempregados e pequenos comerciantes. Em todos os protestos a multidão grita o mesmo refrão: “Já não estamos numa democracia”.
Tem sido dura e violenta a repressão ordenada pela presidente Dina Boluarte, que chegou ao poder depois de uma frustrada tentativa de golpe de estado por seu antecessor Pedro Castillo, eleito pelo partido marxista Peru Livre. Em 6 anos o país teve 6 presidentes.
Nos últimos dias mais e mais peruanos têm aderido às manifestações, que começaram no Sul, na província de Puno, onde na cidade de Juliarca 19 morreram em 10 de janeiro, entre eles um garoto de 15 anos. No Sul do Peru, nos anos 1980, surgiram os guerrilheiros marxistas do Sendero Luminoso e do Movimento Revolucionário Tupac Amaru, que travaram batalhas sangrentas com as tropas do governo.
Agora, as batalhas sangrentas voltaram. Manifestantes de todas as regiões do país se uniram pela “tomada de Lima”. Ganharam apoio dos estudantes da Universidade de São Marcos, a mais antiga das Américas. Na última 5ª feira (19.jan.2023) ocorreu o 1º choque entre policiais e manifestantes. Muitos feridos, um grande incêndio, mas nenhum morto. Querem a renúncia de Dina Boluarte e eleições gerais. Lutam pela estabilidade política.
Pedro Castillo era um professor da zona rural de Cajamarca, uma cidade com 500 anos, que entrou para a História numa sexta-feira. Naquela tarde de 16 de novembro de 1532, o espanhol Francisco Pizarro capturou o rei inca Atahualpa, numa batalha na qual milhares morreram. Foi o 1º grande banho de sangue do Peru. Muitos outros viriam.
Cajamarca não é um lugar qualquer. Desde que os olhinhos ambiciosos de Pizarro brilharam ao mirarem as peças de ouro entre os presentes a ele enviados pelo rei inca um dia antes da batalha, esta região no Norte peruano foi tida e havida como rica. Terra rica e povo pobre.
Ali está Yanacocha, maior mina de ouro da América Latina. Em outubro de 2022, produziu 8 toneladas de ouro, algo como R$ 2,5 bilhões a preços de hoje. Apesar de tanta riqueza, Cajamarca tem um dos piores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) com 0,425. Praticamente metade da população vive na pobreza, mostra um estudo da Sociedad Nacional de Industrias (SNI). Foi desta Cajamarca dos pobres que veio Castillo, figura caricata, com aquele seu chapelão branco.
O Peru saiu dividido da eleição vencida por Castillo em 19 de julho de 2021, numa situação que tem sido a regra na América Latina nos últimos 3 anos. O país viveu uma crise com a Operação Lava Jato, cujas investigações acabaram ligando o ex-presidente Ollanta Umala ao esquema de propinas irrigado pela Odebrecht. O Judiciário peruano ganhou musculatura e passou a ter um peso maior que os demais Poderes. Desde então, nenhum presidente parou na Casa de Pizarro, como é chamado o palácio presidencial em Lima.
Nestes anos de crise política, o ex-presidente Alan Garcia suicidou com um tiro quando policiais foram cumprir uma ordem de prisão por suposto envolvimento com a Odebrecht. Pedro Pablo Kuczynski, o PPK, eleito presidente em 2016, governou até março de 2018. Ele renunciou depois que o Ministério Público descobriu ser ele também um freguês da velha Odebrecht de guerra.
Seu vice Martín Vizcarra assumiu e governou até novembro de 2020, quando foi afastado da presidência pelo Congresso por incapacidade moral. Foi substituído pelo presidente do Congresso Manuel Merino, que ficou só 5 dias na cadeira. Até que o poder caiu nas mãos do veterano deputado Francisco Sagasti e ele governou até a posse de Pedro Castillo.
Dina Boluarte está entrincheirada no palácio. Resiste distribuindo pancadaria e tiros nos manifestantes. “São uns maus cidadãos que querem criar o caos para tomar o poder”, declarou a presidente num pronunciamento oficial. Enquanto Lima pegava fogo, Arequipa, no Sul, era tomada por violentos protestos com mais uma morte. O estado de emergência foi declarado. Salve-se quem puder.
Vamos ver até onde Boluarte aguenta a pressão. Ela sabe que seu prazo de validade é curto e que o general José Williams, 71 anos, presidente do Congresso e líder da direita, está pronto para assumir seu lugar. Em abril de 1997, depois que os guerrilheiros do Movimento Revolucionário Tupac Amaru tomaram a embaixada do Japão, ele liderou o resgate de 72. O feito rendeu medalhas e fama de herói. Talvez o Peru queira um herói, talvez mais precise do que queira. Talvez seja este mais um herói de mentirinha. Quem sabe Brecht estava certo quando disse que as nações infelizes precisam de heróis.
Reportagem do site Metrópole, de Brasília, postada ontem, revelou o lado mais perverso do Governo Bolsonaro: a mesma corrupção, os mesmos vícios e escândalos da era petista, envolvendo desvio de dinheiro público. Bolsonaro estufava o peito para afirmar que em seu governo ninguém roubava. Em debates ao longo da campanha chamou Lula de ladrão, por diversas vezes.
Segundo o site, as investigações que correm no Supremo Tribunal Federal, sob o comando do ministro Alexandre de Moraes, avançam sobre um personagem-chave de um suposto esquema de caixa-1, o tenente-coronel do Exército Mauro Cesar Barbosa Cid, o “coronel Cid”. Ele foi ajudante de ordens de Jair Bolsonaro até os derradeiros dias do governo que acabou em 31 de dezembro.
O militar, segundo o que foi levantado na postagem, Cid compartilhava da intimidade do então presidente. Além de acompanhá-lo em tempo quase integral, dentro e fora dos palácios, era o guardião do telefone celular de Bolsonaro. Atendia ligações e respondia mensagens em nome dele. Também cuidava de tarefas comezinhas do dia a dia da família. Pagar as contas era uma delas – e esse é um dos pontos mais sensíveis do caso.
“Entre os achados dos policiais escalados para trabalhar com Alexandre de Moraes estão pagamentos, com dinheiro do tal caixa informal gerenciado pelo tenente-coronel, de faturas de um cartão de crédito emitido em nome de uma amiga do peito de Michelle Bolsonaro que era usado para custear despesas da ex-primeira-dama”, diz o site.
As primeiras análises do material, ainda segundo a reportagem, já apontavam que Cid centralizava recursos que eram sacados de cartões corporativos do governo ao mesmo tempo que tinha a incumbência de cuidar do pagamento, também com dinheiro vivo, de diversas despesas do clã presidencial, incluindo contas pessoais de familiares da então primeira-dama Michelle Bolsonaro.
Durante a investigação, os policiais se depararam com um modus operandi que lembrava em muito aquele adotado pelo clã bem antes da chegada de Bolsonaro ao Palácio do Planalto e que, anos depois, seria esquadrinhado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro nas apurações das rachadinhas do hoje senador Flávio Bolsonaro, o filho 01 do ex-presidente.
Saques e rachadinhas – “Dinheiro manejado à margem do sistema bancário. Saques em espécie. Pagamentos em espécie. Uso de funcionários de confiança nas operações. As semelhanças levaram a um apelido inevitável para as transações do tenente-coronel do Exército: “rachadinha palaciana”. A certa altura do trabalho, os investigadores enxergaram indícios fortes de lavagem de dinheiro. Chamou atenção, em especial, a origem de parte dos recursos que o oficial e seus homens da ajudância de ordens manejavam”, acrescenta a reportagem.
A laranja de Michelle – O site Metrópole revela, também, que entre os pagamentos há faturas de um cartão de crédito adicional emitido por uma funcionária do Senado Federal de nome Rosimary Cardoso Cordeiro. Lotada no gabinete do senador Roberto Rocha, do PTB do Maranhão, Rosimary é amiga íntima de Michelle Bolsonaro desde os tempos em que as duas trabalhavam na Câmara assessorando deputados. Rosi, como os mais próximos a chamam, é apontada como a pessoa que aproximou Jair Bolsonaro e Michelle quando o ex-presidente ainda era um deputado do baixo clero que nem sonhava um dia chegar ao Palácio do Planalto. Moradora de Riacho Fundo, cidade-satélite de Brasília distante pouco mais de 20 quilômetros do centro do Plano Piloto, até hoje ela mantém laços estreitos com o casal.
Boulos cutuca Múcio – O deputado eleito Guilherme Boulos (Psol-SP) criticou as declarações do ministro da Defesa, José Múcio, sobre manifestantes acampados em frente ao QG do Exército em Brasília depois do resultado da eleição presidencial. Logo depois da sua posse, o ministro afirmou que tinha amigos e familiares acampados em Brasília. Na ocasião, afirmou tratar-se de “uma manifestação da democracia” e avaliou que os atos acabariam em breve. Em entrevista, ontem, à Folha de S. Paulo, Boulos rebateu a declaração e disse que Múcio “deveria escolher melhor seus amigos”.
Sem arrependimento – O ministro da Defesa, José Múcio, disse, ontem, que “não houve envolvimento direto das Forças Armadas” nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro, que destruíram as sedes dos Três Poderes, em Brasília (DF). Múcio também ressaltou que não se arrepende de ter definido as manifestações bolsonaristas em frente aos quartéis como democráticas. “Não me arrependo porque eu vim para negociar. Eu não podia negociar com você e, a priori, criar um pré-julgamento para você”, explicou.
Nordeste unido – A governadora Raquel Lyra (PSDB) saiu da reunião dos governadores do Nordeste, ontem, em João Pessoa, apostando nas saídas dos problemas regionais com o discurso da unidade. “A união dos governadores é fundamental para garantir projetos estruturadores para a região. Precisamos garantir investimentos em obras estruturadoras, infraestrutura viária, acesso à água, moradia e também articulação de programas que possam enfrentar o nosso principal desafio no Brasil e no Nordeste, especialmente, que é a superação da pobreza, combate à fome e à miséria”, disse.
CURTAS
FRENTE A FRENTE – Atuando no outro lado do balcão da governadora, o prefeito do Recife, João Campos (PSB), é presença garantida na primeira reunião dos prefeitos da Região Metropolitana com a gestora na próxima terça-feira, no Palácio das Princesas.
HOMENAGEADOS – O cantor Geraldo Azevedo, a passista de frevo Zenaide Bezerra e a rainha de maracatu Marivalda Maria dos Santos serão os homenageados do Carnaval do Recife este ano, conforme anunciou, ontem, o prefeito João Campos (PSB).
Perguntar não ofende: Quem Raquel apoia para presidente da Assembleia Legislativa?