Por Anthonny Santana
Do Blog da Folha
O Projeto de Lei que estabelece o Dia Municipal do Nascituro no Recife, data dedicada à defesa da vida intrauterina, foi retirado da pauta da Câmara dos Vereadores nesta terça-feira (10), quando passaria por segunda votação. De autoria da vereadora Michele Collins (PP), a proposta enxerga o feto como um sujeito de direitos e traz, em sua justificativa, a prática do aborto como um crime, ignorando, inclusive, os casos permitidos em lei.
Sob o número 299/2022, o PL foi aprovado em primeira votação realizada na segunda-feira (9), quando recebeu 18 votos a favor, dois contra e uma abstenção. O que chamou a atenção dos movimentos sociais na votação foi a falta de discussão da matéria entre os vereadores e o apoio de parlamentares do PSB, sigla considerada, do ponto de vista ideológico, como de centro-esquerda.
Ivan Moraes (PSOL) foi um dos únicos dois vereadores que se manifestaram contra a proposição momentos antes da primeira votação. À reportagem da Folha de Pernambuco, ele lamentou a falta de compreensão dos seus pares sobre a importância da pauta.
Leia mais“Possivelmente a maioria não se atentou. Não sei se foi o fim do ano, a participação online. Eu espero que a mobilização das mulheres possa chamar a atenção dos vereadores para o absurdo dessa data, que por mais que seja comemorativa, atribui a embriões a perspectiva de serem sujeitos de direitos”, afirmou o vereador.
Ativistas do movimento feminista ocuparam as galerias da Câmara do Recife com faixas e cartazes, gritando palavras de ordem em defesa do direito ao aborto. Carmem Silva, do Instituto Feminista SOS Corpo, afirmou que a aprovação do projeto na segunda-feira pegou o movimento de surpresa, mas garantiu que as mulheres estarão atentas para procurar barrar o andamento da matéria na Casa.
“Se começa a fazer um dia cívico com festas, trabalhos nas escolas acerca de algo que não existe, que não nasceu, se cria condições para que as leis do País proíbam as mulheres de exercer o direito ao aborto como a lei permite”, pontuou a ativista.
A proposta foi retirada de pauta em razão da ausência da vereadora Michele Collins no Plenário da Câmara para a discussão. Na prática, a oposição ganha mais tempo para tentar negociar com os vereadores a rejeição ao projeto.
Os parlamentares que se opõem ao projeto somam seis votos, embora na primeira votação três estavam ausentes e uma teve problemas com o voto por conta de um erro no sistema. Na próxima votação, para conseguir a rejeição da matéria, a oposição teria que tentar a adesão do PSB, partido com oito vereadores a favor da proposta.
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