João Campos se elegeu deputado federal, em 2018, com 460.387 votos. Foi a maior votação para a Câmara Federal já obtida em Pernambuco. Ele desbancou até mesmo o bisavô, Miguel Arraes, que também foi campeão de votos em disputas proporcionais.
E João, quando estreou na política, tinha apenas 24 anos. Dois anos e meses depois, quando já tinha completado 27 anos, venceu Marília Arraes na disputa pela prefeitura do Recife. Se reelegeu em 2024, com 78,11% dos votos.
Além desse histórico de boas votações, nos primeiros quatro anos à frente dos destinos do Recife consolidou a imagem de bom gestor. Críticas e cobranças existem, claro. Mas o índice da reeleição e as pesquisas de opinião pública atuais mostram que a maioria da população da capital aprova o seu trabalho.
Herdeiro político de Arraes e Eduardo Campos, bom de voto, aprovado como administrador. Só esses três fatores já o credenciam para dar um salto maior na política. Mas tem mais.
João se comunica bem com o povo nas ruas, usa as redes sociais com competência e naturalidade, tem dado mostras que faz bem as costuras de bastidores da política. Sabe fazer as articulações internas e por isso vez por outra surpreende a própria adversária, com o anúncio de uma adesão inesperada.
O rapaz esbanja simpatia, não resta a menor dúvida. Não é a impressão de um fã, pois esse texto não é uma confissão de voto, é uma análise dos fatos. Até quem não gosta do PSB, quem vota em Raquel é capaz de admitir que o jovem prefeito é simpático.
Isso importa? Sim. Pode ser uma besteira, pode fazer muita diferença.
Políticos carrancudos, pouco simpáticos também tiveram êxito na política de Pernambuco. Basta citar dois: Miguel Arraes se elegeu governador três vezes e Jarbas Vasconcelos duas. E nem Jarbas ou Arraes eram modelos de simpatia.
Ah! Roberto Magalhães também chegou ao governo sem sorrisos ou abraços fáceis. Mas muita gente já se deu mal em política pela antipatia.
Quem é mais simpático, João ou Raquel? Não há dúvida de que nesse quesito o prefeito do Recife ganha fácil.
Raquel Lyra tem se esforçado, nas ruas tem procurado mostrar desenvoltura ao abraçar pessoas de todas as idades. Nos vídeos, que até melhoraram, tenta passar a imagem de popular, que chega junto do povão com naturalidade. Só que ainda não conseguiu convencer. No contato pessoal e nos vídeos às vezes parece estar representando, não convence, pelo menos a maioria.
Há um problema também com o discurso da governadora. Ela está chegando no final do terceiro ano e continua colocando a culpa de todos os problemas do Estado no PSB. Ora, o eleitor julgou a gestão do Partido Socialista em 2022, agora e principalmente no próximo ano vai julgar o governo dela.
Além do mais, como pode Raquel falar tanto do PSB se ela foi deputada estadual e secretária de Eduardo Campos filiada à legenda socialista? A governadora é de uma família tradicional na política.
Seu avô e seu pai foram prefeitos de Caruaru, como ela. João Lyra Neto, o pai, foi vice de Eduardo Campos, pelo PSB. Um tio de Raquel, Fernando Lyra, foi deputado da ala autêntica do MDB, daqueles que arriscou a vida lutando contra a ditadura. Então, não fica bem para a governadora essa proximidade com a direita, com os bolsonaristas, o posicionamento dúbio com relação à política nacional.
João Campos, espertamente, está mais próximo de Lula, que perto de completar 80 anos continua forte, principalmente em Pernambuco, seu estado natal. Então, há um conjunto de fatores que contribuem para o prefeito do Recife liderar as pesquisas. Não vai ser fácil para Raquel sair das cordas.
Ela pode negar o DNA de João Campos? Pode acusar João de não saber administrar? Descredenciar as boas votações obtidas pelo adversário em sua curta carreira política? Pode criticar a possível aliança do socialista com Lula?
Não, não, não e não.
Aí, dizer que está reconstruindo o estado que “o PSB destruiu em 16 anos” não é discurso suficiente, ainda mais que ela e o pai fizeram parte dessa década e meia das gestões do Partido Socialista.
Com todos esses dados já se pode afirmar que João Campos é o próximo governador? De maneira nenhuma, a eleição será realizada em outubro de 2026 e mais de um ano em política é uma eternidade.
Sim, sempre pode cair um avião, alguém morrer de infarto ou aparecer uma facada no meio da multidão. Parece, porém, que o filho de Eduardo está preparado para as surpresas.
Ele não tem nada de Armando Monteiro nem de Danilo Cabral. É melhor mesmo, na política, do que Marília Arraes. Isso já está provado.
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