Por Rudolfo Lago – Correio da Manhã
Divulgado na semana passada, o Índice de Progresso Social (IPS), ferramenta que mede o desempenho social e ambiental de territórios coloca o Pará no último lugar do quadro entre as unidades federativas. O primeiro lugar é do Distrito Federal, em segundo lugar vem São Paulo.
Depois da absurda agressão à ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, por parlamentares da região Norte, eis aí mais um grande problema para a realização no final do ano da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP30. É justamente o Pará a sede da conferência. E há quem tema que não se conseguirá mascarar completamente essa situação na capital do estado. Belém. A capital paraense ficou apenas em 22º lugar no ranking.
Leia maisHá uma série de problemas que andam preocupando autoridades e empresários que querem ir a Belém. Um deles é a falta de lugares para se hospedar e o preço altíssimo. Um empresário comenta que uma pessoa aluga quarto para todos os dias da COP por R$ 120 mil.
Outro problema já preocupava desde a COP29, em Baku, no Azerbaijão. A conferência virou uma espécie de grande feira, com uma enorme presença de empresários. Em Baku, impressionava a fila de aviões no aeroporto, poluindo de fumaça de querosene a atmosfera.
São situações que podem esvaziar a conferência, na qual o Brasil aposta fortemente no plano internacional. À divisão sobre o discurso ambiental dentro do governo, que ficou evidente nas agressões a Marina e os problemas mencionados acima, a oposição vem fazendo uma marcação cerrada sobre as contratações feitas para a conferência. O Correio Político já mencionou o pedido ao Tribunal de Contas da União (TCU) de análise de um contrato de quase R$ 500 milhões com a Organização dos Estados Ibero-Americanos para a montagem das duas zonas de realização da conferência, Green Zone e Blue Zone, para público e autoridades.
Agora, a senadora Damares Alves (Republicanos-DF) pede ao TCU também a análise de outros contratos. Especialmente um repasse de R$ 179 milhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) a um consórcio do governo do Pará para obras.
Segundo o pedido feito por Damares, faria parte desse consórcio uma empresa de nome Bernavem, condenada por fraude em licitações. Damares também aponta um sobrepreço de até 611% na compra de galões de água na 5ª Conferência Nacional do Meio Ambiente.
Como se leu aqui, é o próprio líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues (PT-AP), que falta “unidade” ao discurso ambiental do governo, e que essa foi a razão que acabou motivando as agressões feitas a Marina, além, claro, da falta de educação dos envolvidos.
A COP30 vai começar no dia 10 de novembro. O tempo, portanto, é curto para que se corrijam todos esses problemas e esse discurso seja afinado. Do contrário, corre-se o grande risco de a conferência virar uma constrangedora exposição mundial das contradições brasileiras.
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