Gazeta Pernambucana
Pernambuco é um estado onde a história pulsa não apenas nas capitais dos livros, mas nas ladeiras dos interiores, nos corredores das câmaras municipais, nas salas de aula das escolas públicas e nos salões de cultura espalhados por municípios muitas vezes esquecidos pelos grandes centros de poder. É nesse cenário que a trajetória do jornalista Magno Martins ganha contorno especial. Ao lançar seu mais recente livro, ‘Os Leões do Norte’, e empreender uma verdadeira cruzada pelo interior do estado, ele reafirma o papel da imprensa como guardiã da memória e aliada da cidadania.
A obra não é uma mera coletânea de biografias. É um documento de valor histórico que percorre quase um século de política pernambucana, reunindo 22 perfis de ex-governadores que marcaram a condução do estado entre 1930 e 2023. Nomes como Etelvino Lins, Miguel Arraes, Marco Maciel, Eduardo Campos e Paulo Câmara são revisitados sob o olhar do repórter que pesquisa, cruza fontes, ouve bastidores e compreende os bastidores do poder. O resultado é um panorama sólido, onde a história não se apresenta como relato oficial, mas como uma tessitura de escolhas, conflitos, acertos e omissões que ajudam a compreender o Pernambuco de ontem e de hoje.
Leia maisTão relevante quanto o conteúdo em si é o gesto de levá-lo pessoalmente ao interior. Com apoio de prefeituras e lideranças locais, Magno percorre cidades como Capoeiras, Angelim, Caetés, Garanhuns e outras tantas que integram o circuito do Agreste Meridional. Ao fazer isso, ele rompe a lógica elitista que restringe o debate histórico aos grandes centros urbanos. Ele democratiza o saber, devolve à população o direito de conhecer a trajetória dos homens públicos que governaram o estado em diferentes contextos históricos. Numa época em que a superficialidade ameaça o debate público, esse esforço é, antes de tudo, um ato de resistência cultural.
Importa destacar o simbolismo do que está em curso. Em vez de lançar o livro em auditórios acadêmicos ou palácios institucionais, Magno escolhe as escolas, os auditórios municipais, os espaços do povo. Sua presença nas cidades não é protocolar. É pedagógica. Ele entra como jornalista, mas se apresenta como cronista do tempo, como mediador entre o passado e o presente, como alguém que insiste em lembrar que a história não pode ser monopólio dos arquivos nem das narrativas oficiais. Ela precisa ser contada, discutida, reapropriada pela comunidade.
É também louvável o esforço físico e intelectual envolvido nessa jornada. Levar livros, montar eventos, dialogar com estudantes, prefeitos, vereadores, professores. Nada disso é trivial. E tudo isso é indispensável. A missão de Magno Martins não se resume à divulgação de uma obra. É uma ação de engajamento com a identidade pernambucana, uma reafirmação do papel que o jornalismo pode exercer quando decide ir além da notícia e assumir seu dever de memória.
‘Os Leões do Norte’ cumpre essa função com altivez. E o autor, ao percorrer estradas e povoar de história as agendas das pequenas cidades, prova que o jornalismo, quando enraizado na realidade social, pode ser não apenas um ofício, mas uma forma de servir ao público com profundidade, consciência e compromisso com o futuro.
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