O pernambucano Cristovam Buarque (Cidadania) tem uma militância de muitas décadas na área da educação. Ex-reitor da Universidade de Brasília (UnB) e ex-ministro da Educação no primeiro governo Lula, ele critica a falta de interesse dos brasileiros no assunto. Segundo ele, “não se acredita que a educação é o vetor do progresso e da comunicação”.
“O povo brasileiro não quer, os políticos não querem, não faz parte do imaginário brasileiro que pobres e ricos estudem na mesma escola. Inclusive, um pobre acredita que é capaz de ter um carro tão bom quanto um rico, mas não acredita que o filho dele pode ir a uma escola igual ao filho do rico. A escravidão ajudou nisso: durante 500 anos não era nem para haver escola para os escravos. Quando veio a urbanização, decidiu-se que não dava para negar escola para ninguém, então mantêm umas escolas tipo senzala para pobres e algumas escolas tipo casa-grande para ricos, como na obra de Gilberto Freyre. É lamentável”, disparou Cristovam, em entrevista ao podcast Direto de Brasília.
Leia maisEle lembrou da campanha presidencial em que foi candidato, em 2006, pouco após romper com o PT. Na época, ele ficou na quarta colocação e teve a educação como mote. “Fui o único candidato que fez um livrinho de programa de governo, com 45 temas, mas afirmando que a revolução era pela educação. Porque acho que é a educação que vai dar o eixo para resolver a violência, a corrupção, a dívida. Mas eu tinha 30 ou 40 segundos de propaganda eleitoral, eu tinha que falar uma coisa que marcasse. Se eu tivesse falado de tudo, ninguém nem lembrava que eu falei da educação. Essa convicção me deu uma marca”, contou o ex-ministro.
Cristovam ainda criticou a estruturação da educação brasileira. “Por que as universidades são federais e as escolas das crianças são municipais? Porque não há uma vontade nacional de que a gente seja campeão mundial de educação, que estejamos realmente entre os 10 melhores. Falta decisão política, mas é porque isso não está no imaginário do brasileiro. Não damos importância à educação de base para todos, com qualidade. Para mim, o grande erro da democracia, que levou à corrupção, ao descrédito, à falta de discernimento, é não termos dito que toda criança brasileira, ao nascer, tem o direito de ter uma escola de máxima qualidade. E a única saída é um esforço nacional de federalizar a educação de base”, concluiu Cristovam Buarque.
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