Políticos não se forjam, já nascem no berço, dizia meu avô. E político de verdade já nasce inteligente, sagaz e astuto. Acho que Miguel Arraes adotou a filosofia cuja assertiva para sobreviver tanto tempo na vida pública seria imprescindível uma mente sagaz. Corria o ano de 1994, Joaquim Francisco estava encerrando seu mandato de governador com popularidade em baixa.
Arraes, que havia governado antes dele, eleito em 1986 numa das campanhas mais emocionantes, perfeita em plasticidade, escolha de slogan e um guia eleitoral inigualável – o mote dizia que voltaria pela porta que saiu – queria ser candidato novamente. Mas já não unia todas as forças, muitas delas desapontadas com o seu governo de viés social – da Vaca na corda e da universalização da luz no campo.
Leia maisJá não tinha o apoio de Jarbas Vasconcelos, uma das principais lideranças de esquerda e de partidos robustos, como o então PMDB, hoje MDB. Mas Arraes tinha feeling e achava que se elegia, mesmo contrariando os que debandaram para o palanque do seu oponente, o ex-governador Gustavo Krause, que perdeu. O mito Arraes, além de emplacar seu terceiro mandato e último, puxou Roberto Freire para o Senado.
Não elegeu o segundo senador, o ex-ministro Armando Monteiro Filho, que perdeu a vaga para o ex-governador Carlos Wilson, por uma série de equívocos de campanha, mais tarde reconhecidos pelo próprio Armando. Fernando Henrique foi eleito presidente, Lula sofreu a terceira derrota, mas Arraes foi eleito governador de Pernambuco no primeiro turno.
Entre os que torciam contra o seu projeto de voltar ao Palácio do Campo das Princesas no PMDB estava a principal liderança dos Coelho em Petrolina, o ex-senador Fernando Bezerra Coelho, na condição de prefeito daquele município. E FBC, como é mais conhecido, inventou de se insurgir contra a candidatura de Arraes.
Arraes deixou a impressão de ter aprendido que, levando a política também com a cativante paixão pelo humor, quebrava as pedras dolorosas, fazia de um problemão letra morta. Rir, para Arraes, além de fazer bem à saúde, irritava os adversários.
Preferiu tratar Fernando Bezerra inspirado em Madre Teresa de Calcutá, que disse que a paz começa com um sorriso. E a FBC deu a seguinte resposta numa conversa com um interlocutor que me revelou: “Esse rapaz, da mesma forma que um cachorro novo, está entrando muito cedo no mato”.
E deu, mais uma vez, uma sonora gargalhada.
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