A segurança pública em Pernambuco se constitui, historicamente, no maior gargalo, independente da coloração partidária do governo. Sabendo das dificuldades que enfrentaria nessa área, ao assumir o Governo em 1987, depois da campanha mais emocionante, que dizia que entraria pela porta que saiu, referindo-se ao ato violento da sua cassação pelo regime militar, Miguel Arraes escolhe um general do Exército para comandar a Secretaria de Segurança, hoje com a nomenclatura Defesa.
Currículo impecável, com passagem até pelo SNI, hoje ABIN, o general Evilásio Gondim aceitou o desafio proposto por Arraes. Antes de assumir a função, já havia comandado o Centro de Preparação de Oficiais da Reserva do Recife, foi chefe da 7ª Região Militar e diretor do Abrigo Cristo Redentor e do Rotary Club.
Leia maisGondim morreu em 2018 e sua partida foi registrada pelo deputado Alberto Feitosa, também militar, em discurso na Assembleia Legislativa. “Evilásio Gondim teve uma carreira militar exemplar, na qual chegou ao generalato. Ao passar para a reserva, não parou a militância em favor da educação, dos pernambucanos e das causas sociais. Deixou no seio da comunidade pernambucana muita admiração e respeito”, afirmou.
Linha dura, o general organizou a segurança do primeiro carnaval do Governo Arraes, já na função de secretário da Segurança Pública, em 1987. Na semana pré, aceitou convite da equipe de secretários para ir a um baile carnavalesco no clube Português. Bem jovem, chefe de gabinete de Arraes, Eduardo Campos brincava a valer com uma turma bem animada que caprichava, sem piedade, no uso de lança-perfume.
Lança-perfume ou loló é um produto desodorizante em forma de spray. O líquido é à base de cloreto de etila e acondicionado sob pressão em ampolas de vidro. O uso do lança-perfume como droga recreativa era ilegal no Brasil, mas bastante popular em festas e eventos, especialmente durante o Carnaval. Atualmente seu uso é menos comum devido às restrições legais e aos riscos à saúde associados a seu uso.
Quando inalado, pode causar euforia, alucinações e alterações no estado de consciência. O seu uso abusivo pode ocasionar lesões no sistema nervoso central, problemas respiratórios e cardiovasculares. Além disso, o uso prolongado pode causar danos irreversíveis ao cérebro.
Vendo aquela cena no camarote, o general passou a virar o rosto insistentemente, para não criar um problema desagradável. Virou tanto que ficou troncho. No tradicional balanço de carnaval do governador com o secretariado, Gondim pede a palavra e diz a Arraes que gostaria de falar sobre a festa do clube Português. O velho, já brifado por Eduardo e outros secretários mais próximos que gozavam da sua intimidade, foi rápido no gatilho.
“Pois é, general. Eu soube que o senhor está com torcicolo e o melhor mesmo é tomar um analgésico”.
Desta vez, Arraes não gargalhou solitário, mas com toda a equipe. Até o general deu um sorriso maroto.
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