Por Renato Fonseca*
Nos últimos anos, Pernambuco tem assistido a um crescimento alarmante dos casos de intolerância religiosa, especialmente contra as religiões de matriz africana. Terreiros invadidos, líderes religiosos ameaçados, símbolos sagrados profanados – episódios que não são isolados, mas parte de uma estrutura racista que insiste em marginalizar as tradições afro-brasileiras.
Diante desse cenário, protocolei recentemente ofícios tanto na Secretaria de Defesa Social (SDS) quanto no Palácio do Campo das Princesas, solicitando a criação de uma Delegacia Especializada no Combate aos Crimes de Racismo e Intolerância Religiosa. Essa demanda não é apenas necessária, mas urgente.
Leia maisA ausência de uma delegacia especializada faz com que as denúncias de intolerância religiosa sejam muitas vezes minimizadas ou ignoradas, e os agressores sigam impunes. Sem um setor específico para tratar esses crimes, os casos se perdem na burocracia policial, e a impunidade continua a alimentar novas agressões.
Outros estados já avançaram nessa pauta, reconhecendo que crimes de intolerância religiosa e racismo exigem uma abordagem qualificada, com agentes preparados para lidar com a complexidade dessas ocorrências. Pernambuco, no entanto, segue atrasado, sem uma estrutura eficiente para coibir esses atos.
O governo de Raquel Lyra até agora não deu qualquer resposta ao pedido. O silêncio da gestão estadual sobre essa questão é ensurdecedor e preocupante. A criação dessa delegacia não é um favor, mas uma necessidade para garantir segurança e direitos fundamentais a milhares de pernambucanos que professam suas fés sem medo.
Enquanto o Estado se omite, os ataques continuam. No último mês, o Terreiro de Xambá, um dos mais importantes patrimônios culturais e religiosos de Pernambuco, foi alvo de ameaças explícitas feitas por membros da Assembleia de Deus. Se até mesmo um terreiro com esse reconhecimento sofre perseguição, imaginem os espaços religiosos menores, sem a mesma visibilidade?
Não podemos aceitar que a intolerância e o racismo sigam sendo tratados como problemas secundários. O povo de terreiro exige respeito e segurança, e essa luta não vai parar. Pernambuco precisa avançar e garantir que todos os cidadãos possam viver sua fé em paz.
Agora é a hora de pressionar. A sociedade civil, os movimentos sociais e os religiosos de matriz africana precisam cobrar do governo uma posição. Se o governo de Pernambuco continuar de braços cruzados, não hesitaremos em levar essa luta para as ruas.
Afinal, como diz um provérbio iorubá: “O silêncio diante da injustiça é a cumplicidade do opressor”.
Axé!
*Administrador da página Macumba Ordinária
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