“O coração da democracia é a liberdade”, diz José Sarney

Por Fernando Rodrigues

Do Poder360

José Sarney tomou posse como presidente da República há exatos 40 anos, em 15 de março de 1985. Era uma sexta-feira. Ele tinha 54 anos. Hoje, está com 94. Sua chegada ao Planalto foi o epítome do processo de redemocratização e do fim do regime militar, que havia durado 21 anos.

Hoje, neste sábado (15), o Brasil completa 40 anos ininterruptos de democracia. É um recorde de estabilidade institucional na história dos 525 anos do país.

Na manhã da última quarta-feira (12), Sarney recebeu o Poder360 para uma entrevista em sua casa de estilo colonial em Brasília. Fazia sol. Ele acabara de fazer sua fisioterapia diária, para reforçar os músculos. Vestia um terno azul-marinho, camisa social branca e gravata estampada com tons de azul e amarelo. Não tinge mais de preto os cabelos nem o bigode, hábito que manteve durante muitos anos quando ocupava cargos públicos.

Ainda não se vê nenhum item marrom no vestuário de Sarney. Ele é supersticioso. Nunca usa essa cor. “Que las hay, las hay”, brinca. É uma citação ao conhecido aforismo espanhol “yo no creo en las brujas, pero que las hay, las hay” (eu não acredito em bruxas, mas que elas existem, existem).

“Na minha idade, o importante é ter força nas pernas”, disse ao entrar na sala onde seria iniciada a conversa. Na varanda ao lado, sobre uma mesa, repousava um exemplar do livro “Nexus” (2024), do professor israelense de história Yuval Harari, já com mais da metade das 504 páginas lidas e anotadas. Sarney sublinha o que considera mais interessante com caneta esferográfica de tinta preta.

“É muito interessante o conceito que ele [Harari] sintetiza sobre informação não ser sinônimo de verdade”, diz o ex-presidente, que vai completar 95 anos em 24 de abril. Com o raciocínio afiado, demonstrou estar também bem-disposto fisicamente ao final da entrevista, quando passeou um pouco pelos jardins de sua casa com a equipe deste jornal digital. Já era quase meio-dia. O calor havia aumentado. Sarney parecia não se importar. Atendeu aos pedidos do repórter fotográfico Sérgio Lima para se posicionar num local arborizado e assim ter sua imagem registrada.

No início da entrevista gravada em vídeo, definiu o que é democracia: “O coração da democracia é a liberdade. Essa é a definição mais precisa de democracia: liberdade. A liberdade tem um poder criativo que se derrama sobre a sociedade”.

A tolerância é uma das marcas de José Ribamar Ferreira de Araújo Costa, o nome de batismo de Sarney (que adotou o prenome do pai como sobrenome já na vida adulta). Nos cinco anos em que esteve no Planalto, foi um dos presidentes mais criticados pela mídia e por políticos de esquerda e de direita. Aguentou firme. “Nunca processei nenhum jornalista nem nenhum jornal. Eu achava que essa liberdade dada é como a da 1ª Emenda à Constituição dos Estados Unidos, que nós seguimos como democracia. Tive muitos críticos ferinos. Acredito que a democracia e a liberdade de imprensa têm um poder tão grande que no futuro pode corrigir tudo que foi dito”.

Não guardou mágoa de ninguém? “Eu nasci com a absoluta impossibilidade de ter ódio […]. Eu não tenho inimigos. Eu sempre tive adversários. Eu acho que essa é uma coisa nova na política brasileira que nós devemos superar e abandonar. A política feita para ter adversário, não para ter inimigos”.

Sarney assumiu seu primeiro cargo público em 1955, como deputado federal pelo Maranhão. Ele nasceu na cidade de Pinheiro, que fica no norte do Estado e a 333 km de São Luís, a capital maranhense. A carreira de Sarney é longeva. Ele foi governador do Maranhão (1966-1970), senador pelo Maranhão (1971-1985) e senador pelo Amapá (1991-2015). Presidiu o Senado por três mandatos: 1995-1997, 2003-2005 e 2009-2013.

Casado com Marly desde 1952, tem três filhos: Roseana, 71 anos; Fernando, 69 anos, e José Sarney Filho, o Zequinha Sarney, de 67 anos.

Escreveu e publicou 123 livros. É membro da Academia Brasileira de Letras. Deixou a política eleitoral ao terminar seu último mandato de senador, pouco antes de completar 86 anos, em 2015. Mas não parou de ser procurado por muitos políticos, que desejam ouvir suas análises e conselhos. Em 10 de março de 2025, passou cerca de três horas no Palácio do Planalto na cerimônia das posses dos ministros Alexandre Padilha (Saúde) e Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais). Foi abraçado e tietado por várias autoridades, inclusive pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) – um crítico do passado e hoje um amigo.

Observador da vida nacional, Sarney aponta alguns líderes na política atual: o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e os governadores do Pará, Helder Barbalho (MDB), de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), e o de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) – este último, “um excelente quadro”.

Leitor voraz, elogia Itamar Vieira Junior, de quem leu o livro “Torto Arado” (de 2019). Lamenta não haver jornais impressos em papel. Vira-se lendo tudo num iPad, o tablet da marca Apple. Pretende finalizar agora em 2025 seu 124º livro, “O Brasil e seu labirinto”. Escreve à noite, em geral depois das 22h. Usa um computador Dell e o processador de textos Word, da Microsoft. Dorme cerca de seis horas por noite. Qual o segredo para chegar bem aos 95 anos? Sarney responde sorrindo: “Dormir muito, comer pouco e não discutir com mulher”.

Em 2026, o ex-presidente opina que o seu partido, o MDB, deveria manter o apoio a Lula. “Ele [Lula] ainda é o maior líder popular que tem no país. Tem experiência”.

Assista à entrevista de José Sarney ao Poder360:

A seguir, trechos editados da entrevista de Sarney ao Poder360:

Poder360 – O que é a democracia?

José Sarney – O coração da democracia é a liberdade. Essa é a definição mais precisa de democracia: liberdade. A liberdade tem um poder criativo que se derrama sobre a sociedade.

Alguém já disse que a democracia é a troca do grupo que está no poder de vez em quando. Essa é também é uma boa definição?

É boa, mas é uma definição secundária. A democracia é de fato um regime no qual pode haver substituição. Há alternância no poder. Mas essa é uma explicação do mecanismo, de como se exerce a democracia.

O atual período democrático começou há 40 anos, em 15 de março de 1985, com a sua posse como presidente da República. O então presidente eleito, Tancredo Neves, teve de ser internado por causa de uma diverticulite. Como foi a tensão daquelas horas que antecederam sua posse?

Eu fui tomado de absoluta perplexidade. Eu não havia me preparado para ser presidente da República. Nem Tancredo tinha me convidado para participar da formulação do seu programa de governo, da escolha dos seus ministros. Eu sou um homem de fé. Eu acreditava que o Tancredo jamais morreria. Eu sabia, pela minha experiência da vida pública, o que era governar o Brasil. Um país complexo e com grandes problemas. E nós estávamos com um outro problema muito maior: a transição do poder autoritário para um poder democrático. Saíamos de um regime militar, autoritário e de poder absoluto, para um regime de absoluta liberdade….

O senhor assumiu como presidente interino. Só depois, com a morte de Tancredo em 21 de abril de 1985, passou a ser presidente de maneira definitiva. Além de assumir o poder de forma inesperada, era um interino nas primeiras semanas…

Quando o presidente morreu, aí tomei aquela consciência das minhas responsabilidades. Eu usava a expressão “estou com os olhos de ontem”.

Quais foram as personagens relevantes ao seu lado naquele período de transição, na sua posse como interino e depois em definitivo?

Em primeiro lugar, Ulysses Guimarães [1916-1992] [então deputado federal e presidente da Câmara]. Eu disse a Ulysses que não queria assumir. Causaria uma certa perplexidade ao povo brasileiro: em vez de Tancredo, eu assumindo a Presidência da República. Eu havia sido presidente do PDS, da Arena [as siglas que deram sustentação ao regime militar].

Em segundo lugar, foi importante naquele momento o dr. Leitão de Abreu [1913-1992, ministro da Casa Civil do governo do presidente João Figueiredo]. E também o general Leônidas Pires Gonçalves [1921-2015] [que havia sido escolhido por Tancredo para ser ministro do Exército].

Houve uma comissão de pessoas que se reuniu para decidir o que fazer em 14 de março de 1985, pois Tancredo não teria como tomar posse no dia seguinte. Faziam parte dessa comissão Ulysses, Leitão de Abreu, Leônidas, Fernando Henrique Cardoso, Pedro Simon e Heráclito Fortes, entre outros. Eles se reuniram no Hospital de Base, em Brasília, onde estava internado Tancredo. Falávamos no corredor.

Eu fui engolido pelo cansaço. Começaram a discutir quem devia assumir. Eu disse: “Olha, eu tenho a minha posição expressada ao dr. Ulysses. Eu não quero assumir. Vocês estão discutindo aqui, no hospital. Eu vou para minha casa”.

Leônidas sustentou que quem deveria tomar posse era eu. Leitão de Abreu, nessas conversas, tinha de defender a posição de Figueiredo, que não desejava a minha posse, dizendo que Ulysses deveria ocupar o Planalto.

O ministro do Exército de Figueiredo era o general Walter Pires [1915-1990]. Ele estava disposto a cumprir a determinação de Figueiredo. Ao saber que a comissão havia decidido que quem assumiria seria eu, Walter Pires disse ao Leitão de Abreu: “O presidente não aceita. Vou para os quartéis agora e vamos impedir essa posse”. Aí Leitão de Abreu respondeu: “Você não é mais ministro. O ‘Diário Oficial’ de hoje publica sua demissão” [já era madrugada de 15 de março de 1985].

Em que horário chegou a informação de que o senhor iria assumir a Presidência?

Às 3h da madrugada.

E quem comunicou?

Leônidas Pires Gonçalves, que seria o ministro do Exército, escolhido por Tancredo. Eu disse a ele o que já havia dito quando eu também havia estado no hospital: “Leônidas, você conhece a minha posição. Eu só quero assumir com o Tancredo”. Ele respondeu: “Sarney, vocês levaram muitos anos para que isso acontecesse [a transição do regime militar para a democracia]. Então você não pode criar mais nenhum caso. Vamos deixar de sentimentalismos”. Essa era a mesma expressão usada por Ulysses antes quando eu dissera a ele que não deveria assumir. Nessa conversa com Leônidas, já na madrugada do dia 15, ele concluiu assim: “Às 8h da manhã vão buscá-lo para cumprir tudo o que está no cerimonial. Boa noite, presidente”. E bateu o telefone. Foi a partir daquele momento que eu passei a saber que a decisão estava tomada.

A ditadura militar, na sua opinião, foi derrubada ou acabou caindo sozinha por ter fracassado?

Ela foi substituída por um processo de engenharia política que orgulha muito os políticos brasileiros.

Na independência, tivemos também um processo negociado. Pegamos um príncipe estrangeiro [d. Pedro 1º], transformamos em brasileiro. Não tivemos luta, como na América espanhola, cujas independências foram feitas de batalha.

Nós atravessamos isso na República da mesma maneira. Não tivemos nenhuma luta sangrenta. Na Revolução de 1930, prepararam-se para ter grandes embates. Não teve nenhum. Saímos também com uma posição negociada na renúncia de Jânio Quadros [1917-1992], em 1961. A mesma coisa na posse de Jango Goulart [1919-1976].

Os políticos brasileiros construíram tudo isso ao longo do tempo. E Ulysses teve grande importância nesse processo, com o PMDB. E nós nos juntamos a ele com o nosso grupo que, embora tivesse apoiado o regime de 1964, teve como objetivo não deixar fechar o Congresso.

A característica brasileira de não violência é em geral elogiada. Mas há quem diga que dessa forma, sem rupturas abruptas, o país enfrenta processos mais longos e demorados de transição. Isso é bom ou ruim?

O Brasil foi uma construção civil. Não foi uma construção militar como as outras independências.

O José Bonifácio [1763-1838], que vinha da Europa, conduziu um processo em que o imperador convocou uma Constituinte. Era uma maneira de mostrar que aquilo vinha dos civis, para fazer uma monarquia constitucional.

Essa atitude conciliatória torna o Brasil mais lento na evolução das suas instituições em comparação com países que tiveram revoluções sangrentas?

O sangue sempre foi uma maneira de dividir as sociedades e marcá-las durante muito tempo. Veja nos Estados Unidos: até hoje o problema dos pretos remanesce. É um grande problema com o qual eles têm de lidar. É uma hipoteca da independência.

Na América do Sul, o brasilianista chamado Ronald Schneider diz que a transição brasileira para a democracia foi a mais exitosa de todas. Não deixou hipotecas militares.

Ainda assim, apesar do processo de anistia de 1979, hoje o Supremo Tribunal Federal discute se deve reavaliar certos fatos que não deveriam ter sido incluídos nesse processo de perdão.

Quem dirigiu esse processo da anistia foi o Petrônio Portela [1925-1980]. Ele fez a negociação que possibilitou a transição democrática. O que foi a anistia? Foi para os dois lados. Sem isso nós não teríamos a transição democrática.

Os militares jamais aceitariam. Tinham armas na mão. Não aceitariam que fossem punidos depois.

Isso possibilitou que fizéssemos a transição democrática e comemorarmos agora os 40 anos de democracia no Brasil. Acredito que se o Supremo encontrar, de maneira legal, sem mexer no acordo da anistia, é a Justiça que examina se deve punir ou não de acordo com as leis que nós temos atualmente. Temos de fazer leis atuais. Punir aqueles que atualmente tenham feito [cometido delitos], e não como coisas do passado.

O STF analisa atualmente um caso do passado, de Rubens Paiva, que foi deputado. A ideia é avaliar se devem ser punidos aqueles que mataram e ocultaram o cadáver de Rubens Paiva.

A anistia para os criminosos de sangue não foi feita. Nós conseguimos, naquela época, que isso fosse excluído. Isso já foi. Nós tivemos uma maneira de pacificação […]. Nós não podemos mexer na anistia para o passado, que foi uma construção com as Forças Armadas, que tiveram um papel muito importante.

Durante o meu governo, dei duas diretrizes ao ministro do Exército, para que ele transmitisse a todos. A primeira diretriz foi que eu era o comandante em chefe das Forças Armadas. E o dever de todo comandante é zelar pelos seus subordinados. A segunda diretriz era que a transição seria feita com as Forças Armadas e não contra as Forças Armadas. Essa era uma diretriz também de Tancredo, quando ele disse que jamais faria perseguições, jamais faria represália e que o passado seria esquecido.

No caso específico do ex-deputado Rubens Paiva, o que o Supremo deve fazer?

Eu não digo que o STF não deva examinar a anistia. Deve examinar a lei que tem e, dentro da lei, fazer as suas punições, se é que ele pode fazer.

O senhor não saberia dizer se essa punição é algo que deve ser aplicada?

Isso é um problema jurídico. Está submetido ao Supremo Tribunal. É a quem nós entregamos a guarda da Constituição.

O senhor foi alvo de muitas críticas durante sua passagem pelo Planalto. Chegou a processar algum jornal ou jornalista?

Nunca processei nenhum jornalista nem nenhum jornal. Eu achava que essa liberdade dada é como a da 1ª emenda à Constituição dos Estados Unidos, que nós seguimos como democracia.

O jornalista Paulo Francis (1930-1997) era um crítico ferino seu…

Tive muitos críticos ferinos. Eu acredito que a democracia e a liberdade de imprensa têm um poder tão grande que no futuro podem corrigir tudo o que foi dito.

Eu estou lendo um livro de [Yuval] Harari sobre informação e ele diz muito sobre isso. Estou vendo hoje com muita felicidade muitos atualmente fazendo uma leitura mais generosa a respeito do meu governo. Isso é a democracia. Não debito isso [revisionismo] à minha pessoa. Debito ao processo democrático. Eu deixei o governo sem ter tido nenhum dia de prontidão militar. Um país pacificado, que foi entregue a um adversário meu [Fernando Collor de Mello, que venceu a disputa presidencial em 1989].

O senhor não guardou mágoa de ninguém?

Eu nasci com a absoluta impossibilidade de ter ódio. Só tenho que agradecer ao Criador. Eu sou muito religioso, você sabe. Ele me fez assim. Ele me deu tantas coisas, tantas oportunidades, colocou na minhas mãos as oportunidades e dificuldades e ao mesmo tempo me deu condições de superá-las. Eu não posso jamais ter raiva de ninguém.

E sei que cumpri aquele princípio Dele de perdoar os seus inimigos. Eu não tenho inimigos. Eu sempre tive adversários. Eu acho que essa é uma coisa nova na política brasileira que nós devemos superar e abandonar. A política é feita para ter adversários, não para ter inimigos.

Há uma frase atribuída a Samuel Wainer [1910-1980] sobre esse tema no livro “O homem que estava lá” (2020). Ele teria dito que “o ódio é uma perda de tempo”.

É uma boa frase. O ressentimento é contra a gente mesmo. O ressentimento e o ódio prejudicam a nossa busca da felicidade. Aquilo que está na Constituição dos Estados Unidos, na frase que foi incluída por Thomas Jefferson [1743-1826].

A democracia é um sucesso no Brasil ao completar 40 anos. A economia, nem tanto. O PIB do Brasil nesse período cresceu 166%. O da China (que nem é uma democracia) cresceu 2.933%. Mas países democráticos tiveram mais sucesso que o Brasil. A Índia teve seu PIB crescendo 1.007% em 40 anos. A Coreia, 736%. Por que a economia no Brasil teve menos êxito do que a democracia?

Porque a democracia não significa soluções econômicas. A democracia mostra bem a volta da liberdade. E da liberdade, inclusive, na economia. O processo econômico tem outras implicações, que não são aquelas de natureza institucional e dentro da própria sociedade, como ela se organiza.

Mas eu não sou tão pessimista. Já tivemos os anos dourados dos Estados Unidos. Já tivemos os anos dourados da Europa. Já tivemos os anos dourados da Ásia. O que resta do mundo para ter seus anos dourados são África e América Latina. Vai chegar a nossa vez e eu espero que seja neste século.

Eu disse uma vez ao Deng Xiaoping [1904-1997] [chefe do Comitê Central do Partido Comunista da China de 1978 a 1990] que o século 21 seria o século da China. E ele completou: “E do Brasil”. E eu disse: “E da América Latina”.

O Estado precisaria ser um pouco mais ágil, não tão grande, no Brasil? O país precisa de tantas estatais? De onde vem essa cultura da dependência do Estado?

Vem justamente do marxismo, que criou a cultura do planejamento. Essa [o planejamento] foi uma herança boa que o marxismo deixou para o mundo inteiro. Todo mundo passou a ter o seu planejamento.

O Brasil tem algumas empresas estatais icônicas como a Petrobras, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal. Essas grandes empresas devem ser para sempre estatais?

A Petrobras e essas que você cita são empresas que agregaram o trabalho do povo brasileiro durante muitos anos. Nós não podemos entregar agora à iniciativa privada uma coisa que foi construída com os impostos pagos pelo povo durante esses anos todos.

O presidente Lula enfrenta dificuldades agora. A aprovação ao governo caiu, apesar de a economia ter registrado crescimento robusto acima de 3% por dois anos e a taxa de desemprego ter sido baixa. Por que há insatisfação de parte dos eleitores?

Ninguém governa o tempo em que governa. As circunstâncias que existem tornam o presidente o escravo de sua circunstância. Como dizia Ortega y Gasset [1883-1955], o homem é ele e suas circunstâncias.

Quem são hoje os líderes políticos que merecem ser olhados com atenção?

Uma das piores falhas do movimento de 64 foi a extinção dos partidos políticos [por meio do Ato Institucional nº 2, de 1965, que permitiu apenas duas legendas, Arena, pró-governo, e MDB, de oposição consentida]. Os partidos eram uma escola. Nós nunca tivemos tradição de partidos nacionais. Sempre eram partidos regionais.

Se a gente olhar para os países que nos cercam, o Paraguai, Argentina e Chile, os partidos são centenários. E nós não tivemos essa tradição. Isso foi muito danoso para a formação de líderes. Nós vivemos um pouco uma crise de liderança. Mas estão aparecendo líderes bons, novos, como o presidente da Câmara, o deputado Hugo Motta [Republicanos-PB]. Tenho uma boa impressão dele.

E entre os governadores atuais?

Helder Barbalho [governador do Pará, pelo MDB]. Ronaldo Caiado [União Brasil, Goiás] está fazendo um bom governo. E o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas [Republicanos], também um excelente quadro.

O senhor defende o sistema eleitoral distrital-proporcional misto. Como seria possível ter esse modelo no Brasil?

O voto nos distritos seria para uma eleição majoritária, de um deputado por distrito. E todos os votos dados aos deputados seriam contados para as legendas. Dessa forma, a metade dos deputados seria eleita nos distritos – o mais votado em cada distrito. E, a outra metade, pelo voto total de votos de cada partido no Estado. Aí teria de discutir se esses deputados fora do distrito serão escolhidos por lista partidária ou por um segundo voto dentro do distrito.

Vamos pegar um exemplo. O Acre tem oito cadeiras na Câmara. O Acre seria dividido em quatro distritos. Cada distrito elegeria de maneira majoritária um deputado. E os votos que cada partido receberia dentro de cada distrito também seriam usados para escolher os outros quatro representantes do Acre. Mas o problema seria em como convencer o Congresso a dividir os distritos, não?

Você menciona agora o ponto mais difícil: dividir os distritos. O Brasil teve a tradição distrital do império, mas era um país que tinha uma população muito menor do que tem hoje. Não tínhamos a realidade que temos hoje. Nos grandes países em que a democracia se consolidou com o voto distrital, o sujeito já nasce no seu distrito. A partir dali, eles têm uma tradição, como na Inglaterra.

O senhor acredita que algum dia haverá consenso no Congresso para fazer essa mudança?

Eu acho que sim. Hoje, na eleição proporcional, é uma briga entre os candidatos. Você tem como adversário o seu companheiro de partido. Isso não ajuda na existência de partidos nem na formação de líderes.

A Câmara agora pensa em aumentar as vagas de deputados de 513 para 527 deputados. É uma medida positiva?

O Brasil tem de fixar o número de vagas da Câmara de maneira definitiva.

Mas é positivo aumentar o número de deputados?

Acho que não é. Em nenhum lugar que tenha um aumento de deputados isso é uma solução para os problemas do parlamento. [Recomendaria] que refletissem melhor. Temos de buscar uma fórmula que seja definitiva: não aumentar mais nem diminuir. Isso não significa que não se aumente agora, mas que seja de uma maneira definitiva.

O senhor está escrevendo um livro no qual que vai mencionar melhorias possíveis no sistema político eleitoral. Quando sai o livro?

Até o fim do ano. Vai se chamar “O Brasil no seu labirinto”. Como se deve definir o que foram os atos de vandalismo de 8 de janeiro de 2023? Foram episódios absolutamente impossíveis de a gente pensar que pudessem existir no Brasil. Vi aquilo como uma coisa vergonhosa para o Brasil. A definição do que foi, a Justiça está vendo. Se tiver as provas necessárias, deve punir.

O senhor ajudou na aprovação da Lei de Acesso à Informação, quando era presidente do Senado, em 2011. Como foi o processo para aprovar a LAI?

Eu não devo esconder a verdade dos fatos. Eu tenho que dizer e não é uma maneira de fazer um elogio a você. Você foi realmente o interlocutor. Como presidente do Senado, tive aquele tempo para nós aprovarmos uma lei e você foi a pessoa que me fez despertar para que essa lei fosse aprovada no Brasil, porque era um avanço na maneira que o povo brasileiro tinha de acesso às informações e que tem funcionado bem no Brasil.

Dos 123 livros que o senhor escreveu, quais são os seus prediletos?

Vou me fixar nos romances: “O Dono do Mar” [1995], “Saraminda” [2000], “A Duquesa vale uma Missa” [2007] e “O Norte das Águas” [1969]. Desses quatro, eu acho que no “Dono do Mar” eu consegui fazer um romance que tem princípio, meio e fim, bem estruturado.

Como o senhor escreve? Em qual horário? É no computador?

No princípio, eu não tinha computador. Eu escrevia a máquina e à mão. Depois da era do computador, eu me adaptei. Hoje, eu escrevo no computador. Mas com uma técnica: um espaço maior entre as linhas e não corrijo os erros de digitação. Mando para minha secretária passar para papel. Corrijo no papel e mando de novo para minha secretária.

E aí tem um arquivo novo no computador?

Isso. É um processo em que eu chego a até 12 releituras.

O senhor escreve em algum horário específico do dia?

Eu sou um pouco disciplinado. Tenho uma organização desorganizada [risos]. Às 10h da noite eu me recolho à biblioteca e aí eu fico lendo e escrevendo. Se a coisa é boa, eu escrevo até a madrugada. Ou leio até a madrugada.

Seu horário predileto então é o da noite?

À noite. Mas eu leio também de manhã. Acordo muito cedo, e leio.

Qual a marca do computador que o senhor usa e programa que usa para escrever?

Meu primeiro computador foi um Sharp, que me foi dado pelo Matias Machiline [1933-1994] [fundador Sharp]. Era um computador que levava um tempo… A gente ficava esperando que ele ligasse. Hoje, eu tenho um Dell e escrevo no Word.

Esta entrevista foi marcada numa conversa minha com o senhor pelo celular. O senhor é um usuário frequente do telefone celular?

Olha, eu uso, sim. É por meio do celular que a gente muitas vezes trabalha, resolve as coisas. A gente antigamente tinha que comparecer e marcar hora.

E o senhor escreve no celular, mensagens de WhatsApp?

Eu escrevo com alguma dificuldade com esses dois dedos [mostra os dois polegares]. Primeiro eu escrevia com um dedo só. Agora, eu estou escrevendo com os dois. Mas bem devagar.

Comunica-se com a família por meio do WhatsApp? Tem um grupo da família?

Não. Eu não gosto de grupo. Não tenho participação em grupo. Quando alguém quer me meter em um grupo, eu caio fora.

E televisão? Que programas o senhor aprecia? Novelas?

Não. Nunca assisti a novela. Não quero censurar quem assiste, porque eu tenho dentro de casa minha mulher, que é bem devota das novelas. Eu vejo os programas de televisão de noticiário. Esses eu a acompanho. O “Jornal Nacional”, os telejornais.

E o hábito de leitura das notícias na mídia tradicional? Ainda lê em papel ou lê no computador ou tablet?

Eu tenho uma saudade imensa do papel! Eu me habituei e gostava de pegar no jornal. Gosto tanto que eu leio os jornais locais [de Brasília] toda manhã, no papel.

E os outros?

Outros eu leio no meu iPad.

O senhor navega na internet? Entra em endereços na internet e também nas redes sociais?

Nas redes sociais e na internet em geral eu escolho alguns. Com 95 anos que vou fazer no próximo mês eu acho que a gente já pode distinguir o que é bom, o que é mau. O que é interessante, o que não é. A gente vai passando aqui, ali, descartando o que não é importante. Até porque eu já estou na fase da releitura.

Quem são os autores contemporâneos brasileiros que o senhor aprecia?

O Itamar Vieira Junior. Eu li um livro dele, “Torto Arado” [2019], e achei muito bom. É um livro forte, muito denso, quando ele começa com a cena do corte da língua. Uma cena marcante. Uma técnica de prender o leitor, e, ao mesmo tempo, o livro tem princípio, meio e fim.

O que o senhor está relendo atualmente?

Eu sempre releio o Guimarães Rosa [1908-1967]. O Machado de Assis [1839-1908] é impossível a gente não deixar de reler, sobretudo as crônicas.

Como é a sua rotina? E a saúde? Tem dormido bem?

Eu tenho um problema de sono. Sempre dormi pouco, quatro ou cinco horas. Talvez um costume de estudante que varava a noite estudando e tomando café. Hoje, já estou me recuperando: estou dormindo mais, umas seis horas.

Qual é o segredo para chegar nessa fase da vida, saudável, com a cabeça funcionando bem aos quase 95 anos?

Os chineses dizem que é o seguinte: dormir muito, comer pouco e não discutir com mulher [risos].

Qual conselho o senhor daria para o presidente que será eleito em 2026?

Eu acho que o meu partido, o MDB, deve manter o apoio a Lula. Eu tenho essa opinião. Ele [Lula] ainda é o maior líder popular que tem no país. Tem experiência. Está vivendo uma crise de popularidade. Mas os governos sempre alternam em matéria de popularidade.

Só que uma sucessão é sempre imprevisível. Basta ver a política brasileira. O suicídio de Getúlio Vargas [1954]. A doença de Tancredo Neves [1985]. Muitas coisas acontecem. A própria primeira eleição de Lula é consequência das instituições criadas a partir de 1985. Nós tivemos a oportunidade de ter presidentes militares, advogados, engenheiros, médicos e chegamos a um operário no poder. É uma coisa muito difícil. Se dissessem na Inglaterra que um operário iria ao poder, eles cairiam de costas.

Eu sou otimista. Nós consolidamos a democracia. Na minha mão, ela não morreu. Ela foi criada. Foi consolidada. Nós tivemos um período de muitas críticas. Eu paguei por essas críticas. Períodos difíceis. Períodos de ameaça de retrocesso. Tudo isso tivemos. Passei o governo a um opositor, com as instituições consolidadas. Tanto que as instituições venceram o processo de impeachment do presidente que me sucedeu [Fernando Collor, que foi impedido em 1992]. Também tivemos outro impeachment [de Dilma Rousseff, em 2016]. E tivemos esses acontecimentos do 8 de Janeiro.

Só que uma sucessão é sempre imprevisível. Basta ver a política brasileira. O suicídio de Getúlio Vargas [1954]. A doença de Tancredo Neves [1985]. Muitas coisas acontecem. A própria primeira eleição de Lula é consequência das instituições criadas a partir de 1985. Nós tivemos a oportunidade de ter presidentes militares, advogados, engenheiros, médicos e chegamos a um operário no poder. É uma coisa muito difícil. Se dissessem na Inglaterra que um operário iria ao poder, eles cairiam de costas. … Leia mais no texto original: (https://www.poder360.com.br/poder-brasil/o-coracao-da-democracia-e-a-liberdade-diz-jose-sarney/) © 2025 Todos os direitos são reservados ao Poder360, conforme a Lei nº 9.610/98. A publicação, redistribuição, transmissão e reescrita sem autorização prévia são pr

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Quest e Paraná confirmam números do Opinião    

Em parceria com o instituto Opinião, este blog trouxe, em novembro passado, a primeira pesquisa de intenção de voto para governador de Pernambuco. Apontou uma frente ampla para o prefeito do Recife, João Campos (PSB), mais de 40 pontos de vantagem no confronto com a governadora Raquel Lyra (PSD), candidata à reeleição.

Os aliados de Raquel e a imprensa chapa branca ignoraram. E até zombaram. No mês passado, o Opinião foi a campo, aplicou dois mil questionários em 80 municípios e constatou, mais uma vez, o favoritismo do pré-candidato socialista. Novamente, os raquelzistas e a mídia que bate continência para o poder tentaram vender a ideia de que estávamos – o Opinião e este blog – maquiando um cenário improvável.

Na última sexta-feira, o Paraná Pesquisas, que está levantando cenários eleitorais em todos os Estados, divulgou seu primeiro retrato de 2026 em Pernambuco. Os números? Exatamente os mesmos encontrados pelo Opinião: 62% para João e 22% para Raquel, ou seja, 40 pontos de vantagem para o prefeito, enquanto o nome bolsonarista, seja Gilson Machado ou Anderson Ferreira, não passa da casa dos 5%.

Para descredenciar o Opinião e este blog, que está fora da espiral chapa branca, os que vivem à sombra do poder fazem de tudo. Para azar deles, não foi apenas o Paraná Pesquisas que trouxe números credenciando ainda mais o Opinião. Há 30 dias, o Quest, um dos mais credenciados do País, divulgou o ranking de avaliação dos governadores que administram Estados mais importantes e Raquel só não ficou no rabo de gata, porque o governador do Rio, Cláudio Castro, consegue ser pior do que ela.

Ainda em relação aos números do Paraná Pesquisas, o que se conclui é que, apesar de torrar uma montanha de dinheiro com propaganda – e haja publicidade nas TVs, nas emissoras de rádio e na internet – a governadora não reage. Se as eleições fossem hoje, ela seria massacrada nas urnas por João. Não ganharia em nenhum município da Região Metropolitana nem das demais regiões.

Na sua Caruaru, também perderia, embora por um placar mais apertado. E a mais que repetida pergunta que se faz: a governadora vai se recuperar? Ainda há tempo, é verdade. Pela frente, um ano e meio. Até lá, entretanto, ela terá que andar na velocidade de jato para entregar obras, que não são tantas. E que andam como tartaruga, devagar, quase parando.

ASSOMBRAÇÃO PARA HUMBERTO – Nos números para o Senado, o Paraná Pesquisas também confirmou que o senador Humberto Costa (PT), que uma hora flerta com João e outra com Raquel, só tem salvação na chapa do candidato da oposição. E que se não abrir o olho pode até perder a vaga para o ex-prefeito de Petrolina, Miguel Coelho, com quem antecipou pela mídia a briga por uma das vagas na chapa do pré-candidato do PSB ao Palácio do Campo das Princesas, João Campos. Miguel aparece empatado, tecnicamente, com o senador petista.

PSDB deve ficar com Porto – Na sua passagem por Brasília na semana passada, o presidente da Assembleia Legislativa, Álvaro Porto, recebeu da cúpula do PSDB nacional uma boa notícia: o controle da legenda tucana não será entregue a governadora Raquel Lyra, que, espertamente, tirou a vice-governadora Priscila Krause do Cidadania e a filiou no PSDB apenas com a intenção de continuar dando as cartas no partido. Ninguém do comando nacional, do presidente Marconi Perillo ao ex-presidente Bruno Araújo, vai entrar no jogo da governadora, segundo Porto ouviu da tucanada em Brasília.

O capitão está de volta – O ex-ministro José Dirceu diz que foi “convocado” pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para “duas tarefas “: participar do processo de eleição interna para o comando do PT, marcada para julho, e lançar-se como candidato à Câmara dos Deputados em 2026. Segundo Dirceu, a conversa com Lula em que recebeu as tarefas ocorreu em 2024. Ele afirmou que vai decidir pela candidatura a deputado “no final do ano “. “Agora temos que governar o Brasil “, disse o ex-ministro, ao chegar à comemoração de seus 79 anos no centro de São Paulo, sábado passado.

Paraíba desbanca 1 – Durante muito tempo, João Pessoa foi uma espécie de patinho feio do litoral nordestino. Agora, a capital paraibana exibe plumagem renovada como um polo de crescimento econômico, atraindo empresas e pessoas em busca de novas oportunidades. O turismo aquecido atrai grandes empreendimentos no setor que estimulam outros investimentos, como os do mercado imobiliário e em outras regiões do Estado. O Banco do Brasil estimou crescimento para o PIB da Paraíba de 6,9% no ano passado, bem acima da média nacional de 3,4% apurada pelo IBGE.

Paraíba desbanca 2 – Além dos negócios, a cidade atrai cada vez mais gente como uma alternativa às metrópoles mais caras. Segundo o Censo 2022, do IBGE, João Pessoa foi a cidade que mais cresceu em número de habitantes entre as 20 mais populosas do país: 15,26% em pouco mais de uma década. A nova realidade econômica do Estado da Paraíba foi objeto de uma reportagem especial, ontem, no jornal O Estado de São Paulo. Entre os novos investimentos citados, o resort do Tauá abre em março de 2026 com 500 quartos e pretende dobrar a capacidade até 2027. O empreendimento deve gerar mil empregos diretos até 2028, com aporte de R$ 650 milhões.

CURTAS

AVANTE – O deputado federal Valdemar de Oliveira, o Dema, irmão do ex-deputado Sebastião Oliveira, confirmou ao blog que tem conversado com a governadora sobre o ingresso do Avante no Governo. Segundo ele, o partido pode abocanhar Fernando de Noronha e uma secretaria estadual.

SEBÁ NO JOGO – Dema disse, ainda, que o seu irmão Sebastião Oliveira, mais conhecido como Sebá, não está alheio aos entendimentos abertos com Raquel. “Ele está participando de tudo, até porque não tenho autonomia para tomar uma decisão dessa magnitude”, afirmou.

RECORDAR É VIVER – Em tempo: nas eleições passadas, o Avante esteve no palanque de Marília Arraes, derrotada por Raquel. Sebá foi o candidato a vice-governador e de lá para cá se entendeu com João Campos, ocupando o Procon na gestão socialista.

Perguntar não ofende: Pelo andar da carruagem, o turismo paraibano vai dar de goleada no pernambucano?

Jaboatão - Combate Dengue

Da CNN Brasil

O Diretório Nacional do Cidadania decidiu não renovar a federação com o PSDB, que estava válida desde as eleições de 2022. O martelo foi batido de forma unânime em reunião na manhã deste domingo (16), em Brasília.

O partido alega que a parceria gerou desvantagem ao Cidadania, como a redução de sua representação nas prefeituras, câmaras municipais e estaduais, além da diminuição do número de cadeiras no Congresso Nacional.

A própria legenda divulgou que representantes dos estados relataram uma “convivência difícil e desvantajosa” para o Cidadania. Agora, a intenção é recuperar a identidade e definir os novos rumos, pensando nas eleições de 2026.

De acordo com o presidente do partido, Comte Bittencourt, o Cidadania ainda não decidiu se vai disputar o próximo pleito sozinho ou se vai realizar outra federação.

A legenda precisa esperar até o ano que vem para oficializar a separação com PSDB, já que a legislação determina que uma federação precisa vigorar por, no mínimo, quatro anos.

De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), se o partido decidir sair da federação antes do prazo, ela não poderá ingressar em outra ou entrar em uma coligação nas duas eleições seguintes, além de perder acesso ao fundo partidário até o prazo acabar.

A decisão segue a Executiva Nacional do partido, que também foi unânime na votação para o fim da aliança no mês passado.

Renovação

No pleito de 2022, o Cidadania elegeu cinco deputados federais. No mesmo ano, perdeu para o PSDB o único senador que tinha, Alessandro Vieira (SE) — que hoje está no MDB. Recentemente, a sigla deixou de ter uma deputada, Carmen Zanotto (SC), que se elegeu prefeita em Lajes.

O Cidadania passa por um processo de renovação desde 2019, quando adotou o novo nome e abandonou a nomenclatura Partido Popular Socialista (PPS). A legenda surgiu nos anos 1990, após romper com o antigo Partido Comunista Brasileiro (PCB).

Federações partidárias

A união de partidos em federações foi instituída pelo Congresso Nacional na Reforma Eleitoral de 2021 e funciona como um teste para eventual fusão. Elas são diferentes das coligações, que são uniões entre siglas apenas para uma disputa eleitoral.

A diferença básica entre as duas é o tempo de compromisso. Na coligação, os partidos se unem apenas durante a eleição e funcionam como um só perante a Justiça Eleitoral. Enquanto que, na federação, as siglas mantém suas identidades, mas atuam de forma conjunta pelo período mínimo de quatro anos.

Atualmente, existem três federações no Brasil:

  • Federação Brasil da Esperança, com PT, PCdoB e PV.
  • Federação PSOL-Rede, com PSOL e Rede.
  • Federação PSDB-Cidadania, com PSDB e Cidadania.
Conheça Petrolina

O voo da GOL 1745 de Recife com destino a Brasília teve que pousar de emergência em Salvador, após uma passageira perder a consciência por uma parada cardiorrespiratória.

Três médicos estavam no voo, entre eles o cardiologista cabroboense Dr. Lucas Novaes, o qual nos informou que a paciente sofreu uma parada cardíaca em assistolia/atividade elétrica sem pulso, secundária a uma hipoglicemia severa. Os médicos iniciaram protocolo de ressuscitação cardio-pulmonar com equipamentos de suporte da aeronave e, após as medidas associadas à administração de glicose endovenosa, a paciente voltou a circulação espontânea e pôde ser transferida para o Hospital Edgar Santos em Salvador-BA.

O cardiologista estava no voo rumo a Rio Branco, onde está atuando mensalmente como médico hemodinamicista e cardiologista, e relatou que a intervenção rápida e a presença do grupo de médicos foram essenciais para evitar o óbito da paciente. Ele também alertou sobre os riscos para pacientes idosos e diabéticos de hipoglicemia como causa de parada cardiorrespiratória e consequentemente óbito.

Dulino Sistema de ensino

Por Tavares Neto

Do blog do Tavares Neto

O dramaturgo e jornalista pernambucano Nelson Rodrigues fez duras críticas ao arcebispo de Olinda e Recife, Dom Hélder Câmara. Em entrevista concedida à revista Veja, publicada em 1º de junho de 1969, Nelson afirmou que Dom Hélder representava um cristianismo sem transcendência:

“Ele é um cristão sem vida eterna. É o cristão marxista. É o cristão sem o sobrenatural. Esqueceu tanto a letra do Hino Nacional como o Pai-Nosso e a Ave-Maria. É, portanto, um falsário.”

O escritor também ironizou o fato de Dom Hélder manter o uso da batina, sugerindo que sua escolha não era motivada pela fé, mas por conveniência:

“Ele não abandona a batina, não por motivos de fé, não por nenhum arroubo místico, não porque isso lhe seja vocacional. Ele não abandona a batina porque não pode usar terno, não pode ser almofadinha, não pode ser um janota, porque nenhum cachorro vira-lata o acompanhará. Dom Hélder de terno será líder de coisa nenhuma.”

A entrevista gerou grande repercussão na época, refletindo o clima de polarização política e ideológica do Brasil durante a ditadura militar. Dom Hélder Câmara, conhecido por sua atuação em defesa dos mais pobres e por seu posicionamento contra o regime, era frequentemente alvo de críticas por parte de setores mais conservadores.

Ipojuca No Grau

Do g1

O presidente dos EUA, Donald Trump disse ter ordenado, no último sábado (15), ataques aéreos contra rebeldes Houthis, grupo apoiado pelo Irã no Iêmen e mandou um aviso a Teerã (veja mapa mais abaixo).

Pelo menos 31 pessoas morreram e 101 ficaram feridas nos ataques americanos, de acordo com o Ministério da Saúde administrado pelos rebeldes.

Ameaça ao transporte marítimo global

Em outubro de 2023, após o início da guerra entre o Hamas e Israel, o grupo rebelde começou a atacar navios militares e comerciais em um dos corredores de navegação mais movimentados do mundo. Os alvos eram embarcações de Israel e de seus aliados — em especial os Estados Unidos e o Reino Unido —, alegando solidariedade aos palestinos.

Desde então, mais de 100 ataques foram realizados contra navios mercantes e militares. Dois deles afundaram, e quatro marinheiros foram mortos. As ofensivas foram interrompidas com o atual cessar-fogo em Gaza, que entrou em vigor em janeiro.

Mas, na quarta-feira (12), os Houthis anunciaram que voltariam a abrir fogo, depois de Israel interromper a ajuda humanitária a Gaza para pressionar o Hamas durante as negociações do cessar-fogo.

A ofensiva focaria nos mares Vermelho e Arábico, pelo Estreito de Bab al-Mandab e pelo Golfo de Áden, rotas que vão da Índia até o Egito e ligam a Ásia à África.

“Esses ataques incessantes custaram aos EUA e à economia mundial bilhões de dólares enquanto, ao mesmo tempo, colocavam vidas inocentes em risco”, disse Trump no sábado ao anunciar os ataques aéreos em uma postagem nas redes sociais.

O avanço dos Houthis contra navios americanos tem provocado os combates mais intensos da marinha americana desde a Segunda Guerra Mundial.

Os Estados Unidos, sob a administração de Joe Biden, assim como Israel e o Reino Unido, já haviam atacado áreas controladas pelos Houthis no Iêmen em ocasiões anteriores. Mas um oficial dos EUA afirmou que a operação mais recente foi conduzida exclusivamente pelos EUA.

Trump afirmou que os ataques visavam “proteger o transporte marítimo americano, os ativos aéreos e navais, e restaurar a liberdade de navegação”.

O foco de Trump nos Houthis e em seus ataques sucessivos chamou a atenção para o grupo, que enfrenta pressões econômicas e políticas em meio à guerra no Iêmen, estagnada há mais de uma década e que devastou a nação árabe mais pobre do mundo.

Pressão contra os iranianos

Com esse contra-ataque aos Houthis, Trump também tem o objetivo de pressionar o Irã, que é um dos principais financiadores e apoiadores dos rebeldes, assim como faz com o Hamas e outros aliados no Oriente Médio.

Trump prometeu responsabilizar o Irã “totalmente” pelas ações dos Houthis.

O Departamento de Estado americano, no início de março, reinstaurou a designação de “organização terrorista estrangeira” para os Houthis, que traz sanções e penalidades para quem fornecer “apoio material” ao grupo.

Essas medidas ocorrem em meio à tentativa de Trump de negociar um acordo sobre o programa nuclear iraniano. Segundo o presidente americano, uma carta foi enviada ao presidente do irã, Masoud Pezeshkian, sobre o tema.

Na terça-feira, Pezeshkian disse que não negociaria com os Estados Unidos enquanto estivesse sendo ameaçado ou forçado a isso, segundo a mídia estatal do país. Posição reforçada pelo líder supremo, aiatolá Ali Khamenei.

O programa nuclear do Irã é motivo de preocupação de países do Ocidente, como os EUA e Israel. O país do Khamenei vem enriquecendo urânio ao longo dos últimos anos e aumentando a capacidade do país para produzir armas nucleares. O Irã insiste que seu programa nuclear é pacífico.

Em 2018, Trump retirou de forma unilateral os Estados Unidos do acordo nuclear com o Irã. Agora, voltou a dizer que não permitirá que o programa iraniano continue operando.

O presidente dos EUA também impôs novas sanções ao Irã como parte de sua campanha de “pressão máxima”, enfatizando que ainda acredita na possibilidade de um novo acordo nuclear entre as partes.

Quem são os Houthis?

Os Houthis pertencem ao chamado “Eixo de Resistência”, uma rede de organizações simpáticas ao Irã e hostis ao Estado de Israel, que inclui o Hezbollah libanês, o Hamas e o regime sírio deposto de Bashar al Assad.

A organização surgiu em 1990 para combater o governo do então presidente Ali Abdullah Saleh. Liderados por Houssein al Houthi, os primeiros integrantes do grupo eram do norte do Iêmen e faziam parte de uma minoria muçulmana xiita do país, os zaiditas.

Os Houthis ganharam força ao longo dos anos, principalmente após a invasão do Iraque liderada pelos Estados Unidos em 2003. Clamando frases como “Morte aos Estados Unidos”, “Morte a Israel”, “Maldição sobre os judeus” e “Vitória ao Islã”, o grupo não demorou para se declarar parte do “eixo da resistência” liderado pelo Irã contra Israel e o Ocidente.

Houthis e Guerra do Iêmen: 10 anos de conflito

  • A guerra do Iêmen começou em 2014, quando os Houthis saíram do norte do país e tomaram a capital, Sanaa, forçando o governo reconhecido internacionalmente a fugir para o sul e depois para o exílio.
  • A Arábia Saudita entrou na guerra em 2015, liderando uma coalizão militar com os Emirados Árabes Unidos e outras nações árabes. O grupo, apoiado pelos Estados Unidos, realizou uma campanha de bombardeios destrutivos e apoia as forças governamentais e as milícias no sul do território iemenita.
  • Com o passar do tempo, o conflito se tornou uma guerra indireta entre Arábia Saudita e Irã e seus respectivos apoiadores. Por exemplo, de acordo com um relatório publicado em janeiro de 2023, armas fornecidas pelo Reino Unido e pelos Estados Unidos e usadas pela coalizão mataram dezenas de pessoas no conflito.
  • Há anos, nenhum dos lados obtém ganhos territoriais: enquanto os Houthis mantêm seu controle sobre o norte, Sanaa, e grande parte do oeste densamente povoado, o governo e as milícias controlam o sul e o leste, incluindo as principais áreas centrais, onde estão a maior parte das reservas de petróleo iemenitas.
  • A guerra no Iêmen foi classificada pela ONU como o mais grave desastre humanitário da atualidade, com deslocamento interno de mais de 4,5 milhões de pessoas e 80% da população vivendo na pobreza. As mais afetadas são as crianças: cerca de 11 milhões delas vivem em situação desesperadora e precisam de ajuda, segundo as Nações Unidas.
Caruaru - IPTU 2025

Por Bela Magale

Do jornal O Globo

Um dos principais defensores da anistia aos condenados no 8 de janeiro no Congresso Nacional, o deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO) não compareceu hoje ao ato com Jair Bolsonaro em Copacabana, no Rio de Janeiro.

Gayer chegou a ter o nome incluído na lista de autoridades com presença confirmada no evento, na sexta-feira. Ao longo da semana ele também se reuniu com colegas parlamentares para tratar do ato e confirmou que compareceria.

Questionado pelo motivo de sua ausência no ato da anistia, Gayer não respondeu à coluna. O líder do PL, Sóstenes Cavalcante (RJ), afirmou que o deputado não foi por causa do falecimento de uma pessoa próxima. Gayer afirmou a aliados que está de luto porque a mãe de uma assessora e amiga morreu na quinta-feira passada.

Gayer passou a enfrentar uma crise no Congresso Nacional nos últimos dias, após fazer postagens com ataques à ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann. O deputado usou a fala misógina do presidente Lula de que teria escolhido uma “mulher bonita” para melhorar a articulação do governo com o Congresso para atacar a petista. Em uma de suas postagens, que depois foi apagada, ele disse imaginar um possível “trisal” entre Gleisi Hoffmann, Lindbergh Farias e o presidente do senado, Davi Alcolumbre.

Alcolumbre afirmou que irá acioná-lo na Justiça e no Conselho de Ética da Câmara e o presidente da Casa, Hugo Motta, ligou para Gayer para lhe passar uma reprimenda.

Camaragibe Cidade do Trabalho

Do Estadão Conteúdo

O líder do PL na Câmara dos Deputados, Sóstenes Cavalcante (RJ), afirmou neste domingo (16) durante ato pela anistia aos bolsonaristas presos e condenados pelo 8 de Janeiro, que pedirá urgência na tramitação da proposta que perdoa os crimes pelos quais respondem no Supremo Tribunal Federal (STF).

“Estou assumindo compromisso com vocês. Nesta semana, na reunião de colégio de líderes, vamos dar entrada com 92 deputados do PL e de outros partidos, para podermos pedir urgência do projeto da anistia para entrar na pauta na semana que vem”, afirmou.

A bancada do PL é composta, segundo informação da Poder Legislativo, por 92 deputados. Os bolsonaristas presos foram condenados por abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado, deterioração do patrimônio tombado e associação criminosa armada.

Os manifestantes pró-anistia estão reunidos em Copacabana, no Rio de Janeiro, desde a manhã deste domingo. Participam do ato o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), os governadores Tarcísio de Freitas (São Paulo) e Cláudio Castro (Rio de Janeiro), senadores e deputados.

O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) puxou coro de “Lula, ladrão” contra o atual presidente da República. Para o parlamentar, a anistia será aprovada. “Vamos aprovar a anistia muito em breve”, afirmou.

Cabo de Santo Agostinho - IPTU 2025

O deputado estadual de Pernambuco, Júnior Tércio (PP), se envolveu em uma confusão no início do ato pró-anistia promovido neste domingo (16), em Copacabana, no Rio de Janeiro. No vídeo gravado pela equipe do portal Metrópoles, o parlamentar tenta dar um soco na mão de um dos seguranças que o contém e logo em seguida avança com o dedo em riste. “Eu sou deputado, rapaz! Eu sou deputado!”, gritou Tércio. A discussão aconteceu durante a chegada do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). As informações são do Blog Cenário.

É possível perceber que o deputado estadual e a esposa, a deputada federal Clarissa Tércio (PP), são impedidos de seguir para a área onde Bolsonaro estava. O vídeo acaba mostrando Clarissa ao lado do marido, tentando conversar com outros seguranças que buscaram acalmar Júnior Tércio.

Sobre o ocorrido, o Blog Cenário entrou em contato com a assessoria do parlamentar e aguarda retorno. O espaço segue aberto.

Toritama - Prefeitura que faz

No dia 16 de março de 1990, Fernando Collor de Mello anunciava o Plano Collor, um pacote econômico que confiscou a poupança dos brasileiros e mergulhou o país em uma crise profunda. Trinta e cinco anos depois, a história desse período ganha uma nova perspectiva com a estreia do podcast “Trapaça”, uma reportagem em oito episódios que investiga os bastidores da ascensão e queda do primeiro presidente eleito após a ditadura militar.

A produção original da Plataforma Brasília é baseada no livro “Trapaça – Saga Política no Universo Paralelo Brasileiro”, do jornalista Luís Costa Pinto. O roteiro e a direção ficam por conta de Gabriel Priolli, enquanto a edição, mixagem, desenho sonoro e trilha foram desenvolvidos por Kléber Araújo e Luís Santiago Málada, da Tímpano Produções.

O podcast estreia em 25 de março e estará disponível no Spotify, YouTube Podcasts, Apple Podcasts e Deezer. Para não perder nenhum episódio, os ouvintes podem seguir a página e ativar as notificações nas plataformas de áudio.

Palmares - Outlet

Da Agência O Globo

Enquanto o PSDB discute seu futuro com a possibilidade de fusão com quatro partidos, o governador do Rio Grande do Sul, o tucano Eduardo Leite, se vê diante de uma encruzilhada para viabilizar seu projeto presidencial em 2026. Anteontem, pela primeira vez, ele admitiu a possibilidade de deixar o partido.

— Tenho 24 anos de PSDB, com muito orgulho, mas a gente tem que encontrar o caminho que nos dê a capacidade de contribuir. Se estreitar o caminho através do PSDB, vamos ter que procurar aquele que melhor me permita a participação — disse o governador, durante almoço com empresários.

O tucano — assim como a governadora de Pernambuco, Raquel Lyra, que concluiu o movimento — recebeu convite para se filiar ao PSD, mas resiste. No partido de Gilberto Kassab, ele não teria legenda para disputar o Planalto, já que a sigla tende a lançar a candidatura própria do governador do Paraná, Ratinho Júnior, ou apoiar o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Essa decisão depende dos movimentos do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que, mesmo inelegível, mantém-se como figura central na articulação da direita.

Plano mantido

Entre os partidos que negociam se unir ao PSDB, Republicanos e MDB dificilmente apoiariam uma candidatura presidencial de Leite. Já Podemos e Solidariedade indicam que poderiam apoiar o governador. A presidente nacional do Podemos, deputada Renata Abreu (SP), tem bom relacionamento com Leite e interesse em aderir a um projeto avesso à polarização.

Nos bastidores, o Podemos tem feito sucessivos acenos aos tucanos, em uma tentativa de mostrar fidelidade. Integrantes do partido afirmam ter facilitado a saída de dois senadores, Oriovisto Guimarães e Styvenson Valentim, que se filiaram ao PSDB. Os tucanos negam relação entre os episódios.

Apesar de ter assumido que pode deixar o PSDB, aliados de Leite asseguram sua fidelidade partidária e descartam uma saída da legenda. Por enquanto, a sigla e o governador mantêm publicamente a defesa de sua candidatura ao Planalto em 2026. Ao GLOBO, o presidente nacional, Marconi Perillo, afirmou que o projeto “Eduardo Leite presidente” tem sido apresentado aos demais partidos como uma prioridade:

— A candidatura própria de Eduardo, que representa o centro democrático, é prioridade. Estamos colocando como central (nas negociações).

Já em vídeo publicado nas redes sociais esta semana, Leite destacou o papel do PSDB na construção de um “futuro melhor” para o Brasil.

— Os brasileiros querem mais solução e menos briga política. O PSDB tem coragem e competência para colocar o país nos eixos. A gente já fez uma vez, e vai fazer de novo — afirmou o gaúcho.

Aliados do governador afirmam que o projeto presidencial é “inegociável”. Leite não tem interesse, segundo eles, em concorrer ao Senado.

Além das indefinição em relação ao seu futuro, Leite ainda não decidiu quem será seu candidato à sucessão no governo do Rio Grande do Sul. Seu vice, Gabriel Souza (MDB), manifesta intenção de disputar, mas enfrenta resistência interna. Tucanos sugerem outros nomes, como o do secretário da Casa Civil, Artur Lemos, e da prefeita de Pelotas, Paula Mascarenhas, considerada próxima a Leite.

Reunião com o Republicanos

Após perder espaço em eleições recentes, o PSDB negocia uma fusão ou federação com partidos como Podemos, Solidariedade, Republicanos e MDB. A estratégia é um esforço para a legenda, que já comandou o Planalto e historicamente polarizou o debate nacional com o PT, se recuperar após sucessivas derrotas eleitorais.

Caciques tucanos se reuniram com dirigentes do Republicanos anteontem para debater um possível acordo. A conversa foi vista como positiva dentro do PSDB, mas a prioridade, no momento, é uma costura com Podemos e Solidariedade. Um eventual apoio a Eduardo Leite em 2026 não foi colocado à mesa.

Nas eleições passadas, o PSDB não disputou pela primeira vez a Presidência. A sigla se aliou a Simone Tebet (MDB) e indicou sua vice, a senadora Mara Gabrilli. A aliança foi definida após o próprio Leite desistir de ser candidato, assim como o ex-governador de São Paulo João Doria. A depender de com qual sigla decida se unir, o PSDB pode acabar fora da disputa mais uma vez.

Pesa contra os tucanos o mau desempenho nas urnas na eleição presidencial de 2018. Na ocasião, o hoje vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) tinha a maior coligação e o maior tempo de TV, mas obteve só 4,64% dos votos, ficando em quarto lugar.

Além disso, o partido também viu sua capilaridade minguar nos últimos anos. O número de prefeitos eleitos no ano passado representa menos de um terço do alcançado em 2000, enquanto a bancada na Câmara caiu de cem para 13 desde 1998.

Do jornal O Globo

O ato convocado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na Praia de Copacabana, hoje, contou com a participação de 18,3 mil manifestantes, segundo cálculo feito com base em imagens aéreas pelo grupo de pesquisa “Monitor do debate político” do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), coordenado por Pablo Ortellado e Márcio Moretto, da Universidade de São Paulo (USP), e pela ONG More in Common. Isso significa que a mobilização foi bem menor do que a de outros atos do bolsonarismo no Rio. A margem de erro do levantamento é de 2,2 mil pessoas para mais ou para menos.

Em 7 de setembro de 2022, também na Praia de Copacabana, o mesmo grupo de pesquisadores da USP e do Cebrap calculou um encontro de 64,6 mil manifestantes, um patamar que é cinco vezes maior do que neste domingo. Já em abril do ano passado, foram 32,7 mil participantes.

— Essa foi uma manifestação pequena para os padrões de mobilização do bolsonarismo — afirma Ortellado.

Veja manifestação de 2022

Na avaliação do pesquisador, no entanto, ainda é preciso haver mais manifestações com esse patamar menor de mobilização para afirmar que a oscilação é sinal de enfraquecimento político do bolsonarismo no Rio. De acordo com ele, o conflito entre os organizadores sobre o apoio ou não ao pedido de impeachment do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pode ter atrapalhado a convocação.

— Essa foi uma manifestação cuja mobilização foi muito tumultuada — afirmou.

Além disso, ele defendeu que oscilações desse tipo são normais. Ortellado afirmou que as manifestações contra a então presidente Dilma Rousseff (PT), em 2016, também chegaram a registrar públicos menores e depois voltaram a crescer.

Veja manifestação de 2024

Para o cálculo deste domingo, foram tiradas fotos da praia de Copacabana em quatro diferentes horários (10:00, 10:40, 11:30 e 12:00), totalizando 66 fotos. O pico do encontro foi ao 12h, quando o grupo selecionou seis fotos que cobriam toda a extensão da manifestação, sem sobreposição.

Depois disso, um software é usado para identificar e marcar automaticamente as cabeças das pessoas. Usando inteligência artificial, o sistema localiza cada indivíduo e conta quantos pontos aparecem na imagem. Segundo os pesquisadores, esse processo garante uma contagem precisa, mesmo em áreas densas.

O método atualmente possui uma precisão de 72,9% e uma acurácia de 69,5% na identificação de indivíduos. Na contagem de público, o erro percentual absoluto médio é de 12%, para mais ou para menos, em imagens aéreas com mais de 500 pessoas.

Veja o público das manifestações bolsonaristas:

  • 18,3 mil em 16/03 de 2025 – O ato deste domingo mirou na anistia aos presos do 8 de Janeiro e ocorre após a denúncia de Bolsonaro e aliados por tentativa de golpe de Estado.
  • 45,7 mil em 7/09 de 2024 – Protesto de apoiadores de Bolsonaro na Av. Paulista, em São Paulo. O ato pediu o impeachment de Alexandre de Moraes e teve público abaixo do esperado.
  • 32,7 mil em 21/4 de 2024- Ato em Copacabana no feriado de Tiradentes. Foi marcado por falas de cunho religioso e ataques a Lula.
  • 185 mil em 25/02 de 2024 – Ato na Av. Paulista. Evento foi em apoio a Bolsonaro, em meio às investigações da PF por suposta tentativa de golpe.
  • 32,6 mil em 7/09 de 2022 – Manifestação na Av. Paulista convocada por Bolsonaro para impulsionar a campanha à reeleição ao Planalto.
  • 64,6 mil em 7/09 de 2022 – Manifestação em Copacabana, no Rio. O ato em homenagem ao Bicentenário da Independência virou evento de campanha à reeleição.

Da Folha de S.Paulo

Se a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) trouxe de volta a normalidade institucional ao Planalto, o mandatário atual compartilha com o anterior uma retórica preconceituosa sobre o sexo feminino.

“Por isso eu coloquei essa mulher bonita para ser ministra de Relações Institucionais, é que eu não quero mais ter distância entre vocês”. A fala, proferida por Lula na última quarta (12), foi direcionada aos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado.

Gleisi Hoffmann é a ministra cujos atributos intelectuais e trajetória política foram diminuídos em prol de sua aparência física na declaração do presidente, que não é a primeira desse naipe.

Lula já disse que nenhuma mulher quer namorar ajudante geral e que mulher com profissão não precisa de ajuda do pai para comprar batom. Relatou que perguntou a uma mãe de cinco filhos quando ela iria “fechar a porteira”; ao comentar sobre a violência contra mulheres após jogos de futebol, disse que “se o cara for corintiano, tudo bem”.

No caso do petista, tais falas, mais do que gafes, são expressões de machismo arraigado na política brasileira, assim como são as falas ainda mais escandalosas de Jair Bolsonaro (PL).

O ex-presidente disse que petistas são feias e “incomíveis” e que, para as mulheres, notícia boa é beijinho e presente. Defendeu o turismo sexual, desde que não praticado por gays: “Quem quiser vir aqui [ao Brasil] fazer sexo com uma mulher, fique à vontade”. Foi condenado a pagar indenização à repórter Patrícia Campos Mello, da Folha, por um ataque verbal com conotação sexual.

Apesar dos avanços nos direitos das mulheres, o machismo se espraia pela sociedade, independentemente da ideologia política, e homens de mais idade tendem a manifestá-lo sem amarras.

Contudo o cargo de chefe de Estado exige contenção do ocupante, e as brasileiras merecem respeito num país que enfrenta grave desigualdade de gênero.

No Global Gender Gap, ranking do Fórum Econômico Mundial que avalia paridade entre os sexos em 146 países, o Brasil saiu da 94ª posição em 2022 para a 57ª em 2023, mas caiu para 70ª no ano passado. Somos superados por vizinhos como Chile (21ª), Argentina (32ª) e Peru (40ª).

Dentre os quatro setores analisados (economia, educação, saúde e política), o Brasil tem a pior avaliação no último. Está longe de satisfatório o nível de participação feminina na seara do poder público. E falas como a de Lula sobre a ministra de Relações Institucionais não contribuem para ampliar esse espaço.