Morreu na madrugada de sábado para domingo, aos 93 anos, o ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), José Maria Marin. O ex-dirigente estava em casa, na capital paulista, quando passou mal e foi levado ao Hospital Sírio-Libanês. Não resistiu e teve o óbito confirmado às 3h30 da manhã deste domingo.
Marin já estava com a saúde bastante fragilizada. No fim de 2023, sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) e precisou ser internado. Desde então, seu estado era considerado delicado, e ele vinha recebendo cuidados médicos constantes. Nos últimos anos, vivia de forma reclusa em São Paulo. O velório acontece neste domingo, entre 13h e 16h, na Funeral Home, no bairro da Bela Vista. As informações são do jornal O Globo.
Leia maisFigura central de uma das fases mais controversas da história recente da CBF, Marin presidiu a entidade entre 2012 e 2015. Coube a ele liderar o futebol brasileiro durante a realização da Copa das Confederações de 2013 e da Copa do Mundo de 2014, ambas no Brasil. Foi, portanto, sob sua gestão que a seleção brasileira sofreu a histórica derrota por 7 a 1 para a Alemanha, no Mineirão — um dos maiores traumas esportivos do país.
Sua presidência na CBF foi marcada também por homenagens polêmicas: em julho de 2014, a nova sede da entidade, na Barra da Tijuca, no Rio, foi inaugurada com o nome de “Edifício José Maria Marin”. No entanto, menos de um ano depois, a fachada foi discretamente alterada. O nome foi retirado em maio de 2015, dias após Marin ser preso na Suíça, acusado de envolvimento em um amplo esquema de corrupção no futebol mundial, revelado pelas investigações do FBI no caso conhecido como Fifagate.
Condenado por crimes como lavagem de dinheiro, fraude bancária e conspiração, Marin tornou-se o primeiro dirigente brasileiro de alto escalão a ser preso no escândalo da Fifa. Ele foi extraditado aos Estados Unidos, onde cumpriu pena em Nova York. Em 2020, por motivos de saúde e idade avançada, foi autorizado pela Justiça americana a cumprir o restante da sentença em prisão domiciliar no Brasil.
Antes de se tornar dirigente esportivo, Marin teve carreira política longa e alinhada à ditadura militar. Foi vereador da cidade de São Paulo entre 1963 e 1970, deputado estadual por cinco mandatos, e vice-governador de Paulo Maluf. Em 1982, assumiu o governo paulista interinamente por cerca de dez meses. Filiado à Arena, partido de sustentação do regime, chegou a fazer pronunciamentos elogiosos ao delegado Sérgio Fleury, símbolo da repressão política durante os anos de chumbo.
Sua relação com o futebol, no entanto, não era nova. Marin chegou a jogar profissionalmente como ponta-direita do São Paulo e da Portuguesa, nos anos 1950. Nos bastidores, teve papel importante na Federação Paulista de Futebol, da qual foi presidente entre 1982 e 1988, antes de se tornar vice da CBF na gestão Ricardo Teixeira.
A ascensão à presidência da CBF veio em 2012, após a renúncia de Teixeira. Durante sua gestão, Marin se envolveu em outro episódio que gerou desgaste público: durante a cerimônia de premiação da Copa São Paulo de Futebol Júnior daquele ano, foi flagrado embolsando uma das medalhas. O gesto foi amplamente criticado e virou motivo de chacota nas redes sociais.
Com a morte de Marin, encerra-se uma trajetória marcada por poder, polêmicas e contradições. De político ligado ao regime militar a protagonista de um dos maiores escândalos do futebol mundial, sua figura simboliza um capítulo turbulento da história da política e do esporte brasileiro.
José Maria Marin deixa esposa, um filho e dois netos.
Leia menos