Na última corridinha de 8 km do ano, há pouco, em Afogados da Ingazeira, bati de frente com a minha eterna professora Tadea Moraes. Ela não me ensinou o beabá nos bancos do Colégio Normal. Daquela época, nos anos 70, a que mais me marcou foi a múltipla Letícia Góis, que ensinava francês com a obrigação, antes do início das aulas, de cantar de pé e com a mão direita no peito, La Marseillaise, o hino da França.
Tadea deu sequência ao período ginasial, uma das melhores professoras de Português, ao lado de Socorro Dias. Professores como Tadea nunca saem da memória, porque são mestres incríveis, que transformam a sala de aula em um lugar mágico de aprendizado, nos inspiram e motivam. Têm paciência, amor e sabedoria. Para mim, sua influência foi muito além da sala de aula. Moldou-me o caráter, um farol de transferência do conhecimento.
Leia maisDoces lembranças de um tempo feliz, seu avental sempre sujo de giz. Doces recordações de nossa mestra querida. Que bom revê-la saudável e feliz, logo cedo, na calçada da sua casa! Não resisti a um abraço fraterno, uma foto e um beijo na sua face. Beijo de gratidão por tudo que fez por mim na construção dos alicerces dos meus textos como jornalista.
Tadea teve uma dedicação incansável a todos os seus alunos. Não sabe ela, mas aqui confesso: desvendou-me os mistérios do conhecimento. A ela, ofereço uma rosa e esta crônica por continuar a dedicar sua vida ao ensino e ensinar pessoas a viver.

Ainda na corridinha matinal, encontrei-me com meu irmão Marcelo Martins, ao lado da sua Suzana, que não teve a mesma sorte minha de ser aluno de Tadea, mas de outro grande talento, o professor Durval Galdino, um dos mais gabaritados mestres em Matemática. Um ano mais à frente na idade, Marcelo viveu ao meu lado as emoções de dividir a tela do Cine São José, por onde também passei em frente, no percurso.
Éramos tão bagunceiros que o velho Nilton, espécie de arrendatário do cinema, criou a “lista negra” dos jovens que não podiam mais frequentar o cinema, os barrados no baile, com Marcelo, César Henrique, Renato, Dida e eu no topo da lista. Sem alternativas, para não perder os filmes de Tarzan e Mazzaropi, a gente subia no telhado da casa vizinha ao São José e assistia pelos buracos das janelas.

Que tempos belos! Com meu irmão travesso, aprendi desde cedo a dividir espaço, a compartilhar histórias, a brigar e a perdoar. Tivemos a sorte de nascer na mesma família e de ter a companhia um do outro sempre. Ter irmão é ter, para sempre, uma infância lembrada com segurança em outro coração. As nossas brigas da infância fizeram-me ficar treinado para as maiores disputas da vida.
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