Áudios capturados pela Polícia Federal na investigação de uma suposta trama golpista no fim do governo de Jair Bolsonaro revelam que o tenente-coronel Mauro Cid, então ajudante de ordens do presidente, tratava diretamente com o colega de farda sobre um golpe de Estado. Em uma das mensagens, ele afirma que o plano deveria ser colocado em prática “antes do dia 12”.
Para a PF, Cid se refere ao dia 12 de dezembro, data da diplomação da chapa formada por Luiz Inácio Lula da Silva e Geraldo Alckmin no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A cerimônia ocorreu na tarde daquele dia.
Leia mais“Dia 12 seria… Teria que ser antes do dia 12, né? Mas com certeza não vai acontecer nada. E sobre os caminhões, pode deixar que eu vou comentar com ele, porque o Exército não pode ‘papar mosca’ de novo, né? É área militar, ninguém vai se meter”, diz Cid, fazendo referência aos acampamentos golpistas em frente ao QG do Exército em Brasília. Na ocasião, alguns veículos haviam sido multados por estacionarem nas proximidades do local.
No mesmo áudio, o tenente-coronel diz que vai conversar com Jair Bolsonaro, porque, segundo ele, “o tempo está curto”. “Não, pode deixar, general. Vou conversar com o presidente. O negócio é que ele tem essa personalidade às vezes, né? Ele espera, espera, espera, espera pra ver até onde vai, né? Ver os apoios que tem. Só que às vezes o tempo tá curto, né? Não dá pra esperar muito mais passar, né?’”, disse Cid. O “general” com quem ele conversa é Mario Fernandes, que na época ocupava o cargo de secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência.
Fernandes foi alvo da Operação Contragolpe, da PF, na semana passada. Ele foi preso após suspeitas de ter elaborado o plano “Punhal verde amarelo”, que previa o assassinato de Lula, Alckmin e do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
O documento com o planejamento dos assassinatos foi impresso no Palácio do Planalto por Fernandes, que foi preso e indiciado. A investigação aponta que, em 16 de dezembro de 2023, o militar fez seis cópias do arquivo, o que, para os investigadores, indica que seriam distribuídas em uma reunião. No dia seguinte, ele esteve no Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência, onde Bolsonaro despachou na maior parte dos dias no fim de seu governo.
Do O GLOBO
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