Por Américo Lopes, o Zé da Coruja*
Recife, 26 de janeiro de 2025.
Ofereço à querida Usina Cucaú, um ente vivo e sagrado em minha vida — cuja beleza e acolhimento me acompanham ao longo da existência —, e ao seu chefe, o poeta das mercadorias e das energias, Eduardo Monteiro. Eduardo tem origem pajeuzeira, é mais um de nós em peleja pelo mundo afora.
Magno, que espetacular sua crônica domingueira sobre Zé Dantas, nosso conterrâneo, pois de Afogados e do Riacho do Mel à Carnaíba é uma fração de segundos, fecha os olhos, abre os olhos e estamos lá. Pedir ajuda a Rogaciano Leite para dizer quem somos nunca é demais:
“Eu sou da terra onde as almas
São todas de cantadores
— Sou da Pajeú das Flores —
Tenho razão de cantar!
Não sou um Manuel Bandeira, Drummond, nem Jorge de Lima;
Não espereis obra-prima
Deste matuto plebeu!
Eles cantam suas praias,
Palácios de porcelana,
Eu canto a roça, a cabana,
Canto o sertão, que ele é meu”!
Zé Dantas tinha cheiro de bode, mesmo sendo médico. Tomava banho mas o cheiro não saía. Ele, com Seu Luiz, criaram países maravilhosos que ficaram na imaginação nacional.
Um dos seres humanos mais especiais com quem convivi, o amigo Djair Pedrosa de Albuquerque — de querida memória de todos nós do Grupo EQM —, aconselhava comprar uma passagem, sem volta, para o Riacho do Navio, se a vida ficasse difícil.
No Riacho do Navio nós viveríamos sem rádio e sem notícias do mundo civilizado, saudados pelos pássaros e pelo lugar mais bonito da face da terra.
Além do mais caçaríamos e pescaríamos alimentos do corpo e da alma e dos nossos sonhos de felicidade.
O Riacho do Navio de Dr. Djair equivalia à Pasárgada, de Manuel Bandeira. É como se ele dissesse, parodiando Bandeira: “Vou-me embora pro Riacho do Navio. Aqui eu não sou feliz”.
Como se a existência desses gênios fosse pouca, eles criaram o São João brasileiro na sua forma mais lírica com suas marchinhas e baiões, com as poderosas e necessárias tradições dos reinos do Pajeú e do Araripe.
Há sete anos atrás, em um shopping de luxo em São Paulo, onde enfrentava a encruzilhada do encantamento ou do viver, amparado pela fé em Deus, pelos braços solidários de um casal amigo (não posso dizer o nome, pois os constrangeria), e por minha mulher e três filhos, escuto, no som da bodega de luxo: “Ai que saudades que eu sinto, das noites de São João”. O verdadeiro e mais belo hino nacional deste Brasil amado.
Peço a você, querido Magno, que não espalhe por aí, pois naquele momento eu sentei e chorei, disfarçando, ninguém ali entenderia o meu choro e as minhas memórias. Pois foi assim um dos grandes momentos que vivi com Luiz Gonzaga-Zé Dantas, para sempre nossos heróis.
Caro Magno, suas crônicas domingueiras estão mexendo com os corações e as mentes de Pernambuco. Abandone seu ofício de jornalista político e vá cuidar desses assuntos relevantíssimos, comer bode assado com farofa de bolão e de sobremesa mel de mandaçaia com farinha. E não esqueça, como ensinou João Guimarães Rosa, as pessoas não morrem; ficam encantadas.
Maciel Melo anda dizendo por aí que o próximo São João em Barra de São Pedro, pequeno distrito de Ouricuri, contará com a presença de Gonzaga e Zé Dantas. Você duvida?
Seu amigo,
Zé da Coruja
*Diretor operacional da Folha de Pernambuco
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