Os indignados reclamam porque a maioria do Congresso exige ser ouvida. Em qualquer lugar onde a minoria manda, na maioria é assim. Quando 41 senadores assinam o impeachment de um ministro do Supremo, são maioria entre os 81. Na Câmara, os partidos de direita somam pelo menos 270 votos, sem contar MDB e PSD. A esquerda tem quando muito 135 votos, os mesmos da época do impeachment de Dilma. Então, por que a maioria deveria se submeter à minoria? E nunca é demais lembrar que tanto Hugo Motta (Republicanos-PB) como David Alcolumbre (União-AP) foram eleitos pela maioria.
Hugo Motta e Alcolumbre são jovens. Carecem de certa maturidade para lidar com situações extremas, aquelas que vão muito além dos cargos e dos apupos do poder. Precisam de mais humildade e assessores de cabelos brancos. Os dois são do Centrão e, queiram ou não, estão no mesmo barco da maioria.
É preciso olhar pela perspectiva histórica para entender que não é uma novidade o que está acontecendo no Brasil. É a continuidade de uma afronta ao Estado democrático de Direito e à Constituição iniciada há 11 anos com a deflagração da operação Lava Jato, apoiada pelos EUA do presidente Obama.
Era uma época na qual a doutora Luna Barroso, filha do ministro Roberto Barroso, ajudava a promover debates com expoentes da Lava Jato na Universidade Harvard, entre eles Deltan Dallagnol. Sergio Moro ganhou o título de doutor honoris causa da Universidade Notre Dame e, na sua primeira visita aos EUA como ministro da Justiça, não perdeu a oportunidade de dar um pulo na sede da CIA em Langley, na Virgínia.
Sob o pretexto de combater a corrupção, destruíram as empresas de engenharia brasileiras, quando os acusados de corrupção eram os empresários e não os engenheiros, arquitetos, técnicos, peões e outros milhares de trabalhadores que viviam honestamente do seu salário.
A acusação principal era a de que as empresas financiavam o PT, partidos de esquerda na América Latina ligados ao Foro de São Paulo e governos como o do Panamá e de El Salvador. E o que os trabalhadores tinham a ver com isso?
Ouvimos diariamente queixas sobre o comportamento do ministro Alexandre de Moraes, mas ele não é nada mais do que a consequência dos desmandos da Lava Jato. Se Sergio Moro podia tudo com sua canetinha de juiz de 1ª Instância, o STF pode muito mais e não tem de prestar contas a ninguém.
A Lava Jato é a mãe deste caos com o qual convivemos hoje. A questão não são os bilhões recuperados, mas a herança de práticas malditas.
Nosso Brasil nunca precisou tanto de estadistas, gente na ativa com equilíbrio e estatura moral. Mas todos os nossos verdadeiros estadistas estão no cemitério ou completamente à margem do palco político, como é o caso dos ex-presidentes José Sarney, Michel Temer e Fernando Henrique, homens que sempre apostaram na pacificação como verdadeiro combustível da prosperidade.
Quem se assusta com a ocupação dos plenários está em outro planeta, completamente fora da realidade. O Brasil vive um momento terrível, porque perdemos o equilíbrio entre os Poderes, base do verdadeiro Estado de Direito. Demos marcha à ré. Consertar isso será uma tarefa difícil, dependente de muita conversa, acordos, coisas muito acima do dinheiro e do controle da máquina pública.
A Lava Jato emergiu num momento de extrema fraqueza do Executivo comandado por Dilma Rousseff, transformando a lei e a Constituição em mero detalhe. Para os que viram uma ameaça do ministro Alexandre de Moraes na lembrança ao delator Mauro Cid de que as investigações poderiam se estender à sua família, nunca é demais recordar que Sergio Moro e os procuradores de Curitiba fizeram o mesmo com presos como o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto.
Em São Paulo, uma juíza federal mandou prender a filha do engenheiro Paulo Vieira da Souza, o Paulo Preto, só porque a moça era sua filha. Uma mãe de família, jogada às feras, mandada para o presídio de Tremembé (SP), onde cumpriam pena assassinas como Suzane von Richthofen e Elise Matsunaga. Os exemplos são fartos. Até um caseiro do sítio do presidente Lula foi ameaçado.
A mídia aplaudiu tudo, até mesmo quando foram cometidos exageros como a detenção arbitrária e cinematográfica do ex-presidente Temer. Faltou bom senso e senso crítico. O efeito manada é sempre uma onda de estupidez.
A grande mídia agora pede em editoriais moderação ao Supremo diante do tarifaço do presidente Donald Trump e o risco para nossa economia. Continuam errando. Este Brasil de hoje é consequência daquele Brasil de 8 a 10 anos atrás. Naquele tempo, ministros do Supremo foram acuados, xingados, alguns tiveram o sigilo bancário quebrado, procuradores pressionavam o Congresso, queriam fazer leis, tomar o poder. Quando veio a oportunidade de reagir, o STF partiu para cima e eles derreteram.
A Lava Jato iniciou a era de politização da Justiça e suas principais estrelas disputaram cargos eletivos. Se o combate à corrupção iniciado em 2014 tivesse seguido de forma profissional, provavelmente não teríamos entrado de cabeça na polarização tóxica que envenenou a sociedade.
Não vamos superar rapidamente, porque a polarização agora é internacional com as tarifas de Donald Trump e, internamente, não há clima para uma pacificação nos moldes daquela de 1979, quando o governo militar aprovou a anistia no Congresso. Depois, vieram as Diretas-já, Constituinte, eleição direta para presidente. Desta vez, o caminho até poderá ser mais curto, porém muito mais espinhoso.
Nada será como antes. O poder do dinheiro e o dinheiro do poder tiraram das suas lâmpadas gênios da polarização, para combater uma esquerda chamada de corrupta, depois para quebrar uma direita que consideram jeca, arcaica e retrógrada.
Agora, não estão conseguindo meter os gênios de volta nas lâmpadas. Eles se tornaram incontroláveis e comandam a grande marcha da insensatez que, como todas essas marchas, sabemos como começa, mas nunca como termina.
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