Por Fernando Castilho*
O hoje ministro dos Porto e Aeroportos, Silvio Costa Filho, era vereador de primeiro mandato no Recife quando a GOL comprou o que restava da Varig. Ela virou uma grande empresa aérea, começando a ocupar o lugar da Varig, a tradicional empresa brasileira do setor, ficando com seus slots nos aeroportos, seu programa de milhagem, Smiles e um mercado a ocupar com o diferencial de ser uma empresa de baixo custo (Low Cost).
Naqueles anos, além de aviões novos, a GOL vendia suas passagens pela internet, revolucionando o setor porque podia oferecer bilhetes mais baratos – fiado – num Brasil que estava dando certo no primeiro governo Lula que, naturalmente, capitalizou o fato de milhares de pessoas estarem voando pela primeira vez.
Leia maisPouca gente lembra, mas a GOL inovou ao programar voo de madrugada, aceitando que o freguês levasse uma bagagem quase sem limite, num tempo em que a questão do custo do QAV sequer estava posta nos debates sobre a rentabilidade das aéreas.
Vinte anos depois, o presidente Lula quer capturar a ideia de oferecer passagem aérea mais barata numa realidade completamente diferente, a começar pela própria condição da GOL. Como se sabe, ela pediu Recuperação Judicial nos Estados Unidos para tentar “ganhar pista” para sua dívida de R$ 20 bilhões, parte dela resultante das dificuldades de custos com o querosene de aviação que, segundo a associação do setor, é 32,5% mais caro que no país quem que a GOL pediu concordata.
Operar idéia genial
O problema de Silvio Costa Filho é que ele herdou uma dessas “ideias geniais” de gestor mal assessorado. Como a que teve Marcio França que – sem consultar ninguém – lançou um programa que prometia passagem aérea a R$ 200, sustentada na tese de aproveitamento dos assentos vazios das aeronaves.
Qualquer carregador de bagagem do Aeroporto Santa Magalhães, de Serra Talhada, onde o ministro teve exatos 73 votos, sabe que isso não tem como dar certo. Porque, ao contrário do que pensa França, avião lotado com passagem vendida a preço baixo dá prejuízo porque gasta mais combustível do que se decolasse vazio.
Só que o presidente Lula – que repreendeu Março França numa reunião ministerial quando ele era ministro dos Porto e Aeroporto – gostou da idéia e deu um “se vira” para Costa Filho resolver o problema e botar o povo para voar.
A questão central é que as empresas não querem, e não estão dispostas, a fazer o programa decolar. Porque estão numa situação dramática, apesar dos bons números de 2022 e 2023 em termos de venda de assentos exatamente pelos custos do querosene de aviação.
Em 2022, quando do retorno da pandemia elas compraram R$30 bilhões de QAV quando os preços dispararam. Ano passado, o valor caiu para próximo de R$24 bilhões, depois que a Petrobras baixou os preços. Mas há uma informação de que, juntas, as três grandes empresas têm uma dívida de R$6 bilhões na estatal que não põe isso explicitamente nos seus balanços.
Para completar, só agora as empresas estão se recuperando do “efeito 123milhas”, que quase desorganizou o setor ao vender (em reais e com até 50% de desconto), passagens pagas às companhias com as milhas que elas deram de graça nos seus programas de fidelidade.
O impacto financeiro da 123milhas ainda não está muito claro nos balanços das empresas. Mas sabe-se que foi sério porque, em milhares de voos, GOL, TAM e Azul tiveram que transportar um grande número de passageiros que, através da agência de viagens online, não pagaram um real pelos seus voos nas aéreas pagas como milhas.
Pobre no avião
A proposta do Voa Brasil é que 800 mil estudantes do ProUni e 20,8 milhões de aposentados do INSS que recebem até dois salários mínimos comprem suas passagens com, no mínimo, três meses pagando tarifas a partir de R$200, por trecho. Até agora, nem Costa Filho nem as empresas disseram o custo disso nos tanques de QAV das suas aeronaves. Mas ela vai ser lançada pelo presidente Lula dizendo que está colocando o pobre para voar de avião de novo.
Resta saber o que as empresas vão receber de apoio para seus problemas de caixa, seja do BNDES ou até mesmo da Petrobras, que, apesar de já avisar que não vai perder dinheiro com o programa, sabe que terá que não só baixar os preços, mas dar pista as aéreas, provavelmente alongando o período de pagamento das faturas atrasadas nos contratos de clientes.
*Colunista do Jornal do Commercio
Leia menos