











Mídia, crime organizado e a voz rouca dos morros cariocas
A megaoperação da polícia do Rio contra o crime organizado, no meio da semana passada, foi avaliada pelo olho enviesado da mídia brasileira. Tratada como carnificina, foi recebida com galardão pela população carioca, segundo pesquisas dos mais variados institutos.
Isso compromete principalmente a mídia local, a do Rio, Estado palco do que os jornalistas classificaram como a operação mais letal da história. Mas o carioca aprovou. Pela pesquisa Quaest, 64% da população que vive de perto e sofre no dia a dia os horrores da bandidagem aprovou a decisão do governador Cláudio Castro (PL). Por incrível que pareça, até a imagem do governador melhorou e seu governo ganhou mais popularidade.
Leia maisA aprovação à gestão do governador subiu dez pontos percentuais após a operação policial, segundo aponta pesquisa Genial/Quaest. O levantamento mostra que o índice de entrevistados que aprovam a administração estadual subiu de 43%, registrado em agosto, para 53%. Ao mesmo tempo em que aponta um salto na aprovação à gestão de Castro, a pesquisa mostra uma oscilação negativa na avaliação do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, mas dentro da margem de erro, de três pontos percentuais para mais ou para menos.
Vários veículos da imprensa internacional destacaram a megaoperação das Polícias Civil e Militar do Rio de Janeiro contra a facção Comando Vermelho nos complexos do Alemão e da Penha, que matou 121 pessoas, incluindo quatro policiais. Movimentos de direitos humanos classificaram como chacina e questionaram sua eficácia como política de segurança. O grande número de vítimas também foi criticado pelo Alto Comissariado dos Direitos Humanos das Nações Unidas, que se disse “horrorizado” com a operação nas favelas.
A operação evidenciou o crescente problema do crime organizado no Brasil e em toda a região carioca. A ação ocorreu dias antes de o Rio de Janeiro sediar eventos relacionados à COP30, a cúpula climática que acontecerá no porto amazônico de Belém no próximo mês. O aumento do consumo de cocaína na Europa e nos EUA impulsiona a expansão dos cartéis de narcotráfico sul-americanos, cujas conexões transnacionais alarmam as autoridades.
Mas a Imprensa e as instituições avaliaram sem colher antes o sentimento da população, que é de pleno apoio, inclusive pede novas operações. Quem está com a razão: quem noticia e interpreta ou o cidadão comum, que reza para se livrar da barbárie diária nos morros do Rio pelas mãos dos fora da lei do crime organizado?
ATIRAR OU PRENDER? – A despeito do alto índice de letalidade da operação policial no Rio de Janeiro, que deixou 121 mortos, a maioria dos entrevistados defende que operações como essa sejam realizadas pela polícia nas comunidades (73% contra 22%), conforme mostra a pesquisa Genial/Quaest. Há uma divisão da população, contudo, quando ela é questionada sobre como polícia deve agir diante de um suspeito armado com um fuzil: 50% dos ouvidos no levantamento defendem que o agente deve tentar prendê-lo sem atirar, enquanto 45% acham que o policial deve disparar de imediato. No recorte que leva em consideração o posicionamento ideológico do entrevistado sobre as operações em favelas, há uma divisão entre eleitores que se identificam com o campo lulista: 51% defendem as operações e 46% são contra. Entre os bolsonaristas, 94% são a favor.

Obra diabólica – Vi notícias de uma possível aproximação da governadora Raquel Lyra (PSD) com a ex-deputada Marília Arraes (SD), visando as eleições de 2026. Adversárias figadais no passado, segundo as informações que chegam, estariam agora dispostas a construir uma chapa robusta para enfrentar o favoritismo do pré-candidato do PSB, João Campos. Candidata à reeleição, Raquel estaria seduzindo Marília a ser uma das suas postulantes ao Senado. Não se surpreenda: em política, o inimigo de ontem pode ser o aliado de hoje. Tem razão Roberto Magalhães: a política é obra do diabo.
Do umbigo baixo – Marília é prima de João Campos, já perdeu uma eleição para ele, na corrida pela Prefeitura do Recife em 2020, mas hoje tem cargos na gestão socialista e vive fazendo juras de fidelidade ao prefeito. Sobre os comportamentos dela na política, o que se diz é que é extremamente personalista e só enxerga do seu umbigo para baixo. Para chegar ao poder, seria capaz de enforcar o pai, como dizem sobre Brizola.
Mais uma licitação viciada – Em Garanhuns, terra administrada pelo socialista Sivaldo Albino, ninguém se surpreendeu com a decisão da governadora Raquel Lyra de acatar a recomendação do Tribunal de Contas do Estado e cancelar a licitação para construção do hospital Dominguinhos, no valor de R$ 132 milhões. “Foi mais uma licitação viciada, típica do governo dela”, disse o deputado Waldemar Borges, uma das principais lideranças do bloco de oposição na Assembleia Legislativa. Dentre as irregularidades apontadas pelo TCE em acórdão estavam o “sobrepreço de R$ 2,9 milhões em serviços de climatização” e também “falhas no projeto básico”. Em julho, o TCE informou que a licitação poderia resultar em “contratação com vícios insanáveis”.

O relator no podcast – Deputado de primeiro mandato, Alfredo Gaspar, do União Brasil de Alagoas, relator da CPI Mista do INSS, é o meu convidado para o podcast Direto de Brasília de amanhã, em parceria com a Folha. Gaspar é ex-promotor de justiça, ex-secretário de Segurança Pública de Alagoas e advogado. É uma das mais promissoras revelações do Congresso pelo trabalho super elogiado na condição de relator na comissão que investiga um dos maiores escândalos dos últimos anos no País: o assalto ao dinheiro dos trabalhadores aposentados.
CURTAS
HORROR – O Ministério Público do Rio de Janeiro identificou 684 homicídios atribuídos à expansão do Comando Vermelho pela Grande Jacarepaguá entre 2023 e 2024, média de uma morte por dia em dois anos. O dado está em denúncia anexada ao processo da operação. O documento detalha como o CV avançou sobre comunidades antes dominadas por milícias na Barra da Tijuca, Recreio dos Bandeirantes, Itanhangá e Vargens, consolidando o chamado Complexo de Jacarepaguá.
DIREITA REAGE – Pesquisa Datafolha mostrou que a operação no Rio foi vista como um sucesso por 57% dos moradores da capital e da região metropolitana, contra 39% que pensam o contrário. Aprovada, interrompeu um ciclo de boas notícias para o Palácio do Planalto, que esperava pautar a campanha em busca de um quarto mandato de Lula com bandeiras como a defesa da soberania e da justiça tributária.
PISADA DE BOLA – Lula já havia derrapado no tema da segurança pública ao chamar traficantes de vítimas. Diante da repercussão, se retratou. A frase o levou a voltar ao foco da direita nas redes, sob o discurso de que ele e a esquerda defendem bandidos. Os ataques se intensificaram após a ação no Rio.
Perguntar não ofende: Quando o Governo Federal vai banir o crime organizado?
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A ausência de chuvas no Agreste pernambucano tem provocado queda drástica no nível da Barragem de Jucazinho, em Surubim, um dos principais mananciais da região. Com capacidade para 204 milhões de metros cúbicos, o reservatório opera atualmente com apenas 1,47% de seu volume, situação que preocupa autoridades e moradores das cidades atendidas pelo sistema.
Diante do cenário, a Compesa anunciou ajustes nos calendários de abastecimento de Passira, Cumaru, Riacho das Almas e Bezerros, atendidas pelo Tramo Sul do Sistema Integrado Jucazinho. A redução da vazão de exploração de 400 para 250 litros por segundo passa a vigorar a partir da próxima terça-feira (4), medida considerada essencial para preservar o volume remanescente e garantir a continuidade do fornecimento até a conclusão das obras estruturantes em andamento.
As mudanças nos ciclos de abastecimento são significativas: em Passira, o fornecimento passará de 8 dias com água e 15 sem para 8 x 22; em Cumaru, de 7 x 15 para 7 x 23; em Riacho das Almas, de 7 x 23 para 5 x 25; e em Bezerros, de 10 x 20 para 5 x 25. As novas informações estarão disponíveis no site e aplicativo da Compesa, permitindo que a população se organize diante da estiagem prolongada.
Enquanto isso, as obras estruturantes avançam para garantir a normalização do abastecimento. Passira, Cumaru e Riacho das Almas receberão a inversão da Adutora de Jucazinho via ETA Salgado, com testes previstos ainda este ano, e Bezerros terá a Adutora do Agreste e a Adutora de Serro Azul em fase final de testes. Com a conclusão dessas intervenções, a expectativa é retomar o fornecimento regular e diário em toda a região a partir de 2026.
Do UOL
Em um evento pré-COP30, o presidente Lula (PT) disse que até o dia 17 deste mês será anunciada em Brasília a criação de uma universidade indígena.
A promessa foi feita em visita à Aldeia Vista Alegre de Capixauã, no Pará. O presidente está visitando comunidades indígenas na Amazônia nestes dias que antecedem a Cúpula dos Líderes e a COP30.
Leia maisLula não falou sobre a crise de segurança pública no Rio de Janeiro. A megaoperação policial no Rio, a mais letal da história do Brasil, virou o principal tema do país e uma bandeira da direita contra o governo Lula, mas o presidente ainda não se manifestou sobre o caso. Amanhã, o ministro do STF Alexandre de Moraes vai à cidade discutir a situação. O presidente está focando na pauta ambiental.
O petista adiantou que a sede da universidade será em Brasília. “Já tem até sede. Já tem até prédio”, declarou, sob aplausos dos indígenas. Não foram fornecidos mais detalhes sobre o projeto do governo. O presidente afirmou apenas que os interessados poderão estudar na capital federal e que haverá extensão para quem desejar fazer cursos em seus estados.
Lula também fez uma série de promessas a comunidades indígenas. Anunciou que seu governo levará energia, água potável e melhorias nos serviços de educação e saúde, além de construir moradias — porém, sem explicar como isso será feito. Em tom de brincadeira, disse que vai criar o programa “minha oca, minha vida”.
Ontem (1), o presidente inaugurou ampliação no porto e no aeroporto de Belém. Em seu discurso, afirmou que a capital paraense será melhor depois da COP30 porque o evento deixará legado para a população.
As obras foram usadas para rebater as críticas pela escolha de Belém. Lula lembrou que muitas pessoas foram contra a escolha da cidade para sediar a COP30 e que ele estava entregando a infraestrutura necessária e tão questionada.
Governo Lula e os indígenas
Em janeiro, lideranças indígenas avaliaram que a primeira metade do governo Lula foi um misto de conquistas e frustrações. Por um lado, o país retomou as demarcações de terras e amenizou crises em regiões invadidas pelo crime ambiental. Os movimentos pediam, no entanto, que o Executivo se empenhasse mais para conter a violência nos territórios e defender direitos dos indígenas no Congresso.
O governo regularizou 13 terras indígenas em dois anos. Isso significou a volta das demarcações, que foram paralisadas na gestão de Jair Bolsonaro (PL), mas o número decepcionou entidades. A oficialização dessas terras já era prevista no início do mandato, porque não havia pendências burocráticas sobre elas. Ou seja, Lula não foi além do mínimo esperado.
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Um grave acidente registrado na tarde deste domingo (2) deixou quatro pessoas mortas na BR-232, no trecho do Novo Cajueiro, na zona rural de Pesqueira, no Agreste de Pernambuco. A colisão envolveu dois carros, que ficaram completamente destruídos.
Entre as vítimas estão o técnico em informática Diego Freitas e sua esposa, Iara Espíndola, bacharel em Educação Física e personal trainer, ambos moradores de Pesqueira. Diego morreu no local, e Iara chegou a ser socorrida para a UPA do município, mas não resistiu aos ferimentos.
No outro veículo, um homem morreu preso às ferragens. A mulher, que o acompanhava, foi socorrida por um hospital local mas não resistiu e faleceu. Ambos ainda não foram identificados. Equipes do Corpo de Bombeiros atuaram no resgate e no atendimento das vítimas.
A Polícia Rodoviária Federal (PRF) foi acionada e informou que as circunstâncias do acidente ainda estão sendo apuradas. A ocorrência segue em investigação. Com informações do blog do Edvaldo Magalhães.
Por Raíssa Pedrosa
Do jornal O Tempo
A megaoperação contra o Comando Vermelho, que deixou ao menos 121 mortos no Rio de Janeiro nesta semana, pode acabar fortalecendo a própria facção. A avaliação é de criminalistas que apontam que a ação, coordenada pelo governo do estado do Rio, não deve ser eficaz para o objetivo a que se propõe: acabar com o crime organizado. Muito pelo contrário, pode levar os criminosos a “diversificar” a atuação para driblar o Estado.
Na visão do advogado criminalista e professor de direito penal Guilherme Gama, o saldo de mortes após a incursão policial nos complexos do Alemão e da Penha gera um falso símbolo de sucesso e não “ataca” diretamente a roda que faz o crime organizado girar. “O que vemos é um cenário de tragédia e de desgaste institucional. A operação no Rio expôs uma lógica que prioriza o confronto em vez da estratégia, colocando policiais e civis em risco sem atingir o coração financeiro das facções. A experiência mostra que facções não desaparecem com operações de guerra. Elas se reestruturam rapidamente, substituem lideranças e mudam suas rotas de atuação”, diz.
Leia maisA operação foi muito comparada com o “Massacre do Carandiru”, por sua letalidade. O professor Guilherme Gama lembra que o resultado do massacre foi mais benéfico para o próprio crime organizado, especialmente o Primeiro Comando da Capital (PCC). “A história já mostrou que a violência desmedida e as operações de extermínio não resolvem o problema, apenas criam novas dinâmicas criminosas. O massacre do Carandiru é um exemplo claro: longe de conter a criminalidade, ele contribuiu para o fortalecimento do PCC e para sua expansão nacional”, afirma.
Para ele, o resultado da megaoperação desta semana pode ser parecido. “Quando o Estado responde com opressão, sem inteligência e sem estratégia social, ele alimenta o ressentimento e gera um ambiente fértil para o recrutamento de novos integrantes. Isso pode, sim, gerar um vácuo no Rio de Janeiro, que tende a ser ocupado por quem tiver mais estrutura logística e financeira, seja o próprio Comando Vermelho reorganizado ou grupos rivais como o PCC”, argumenta. “O efeito colateral de uma política de guerra é sempre o mesmo: enfraquece a confiança pública e fortalece, de forma indireta, a lógica de poder das facções”, frisa.
O advogado criminalista Négis Rodarte, membro da Comissão Especial de Direito Processual Penal do Conselho Federal da OAB, acrescenta que, caso o Comando Vermelho seja desarticulado no Rio, em questão de território, pode abrir espaço para outras facções. “É possível haver impactos indiretos, às vezes até direto (ao PCC). Quando se desarticula uma facção em determinado território, pode surgir um vácuo que outras tentam ocupar. Isso não significa, em absoluto, o fortalecimento automático de uma ou de outra, mas o Estado precisa monitorar de forma constante para que não haja migração de atividades ou expansão criminosa”, avalia.
Négis Rodarte acredita que, após a megaoperação no Rio, o crime organizado tende a reagir com três movimentos: atos violentos pontuais, deslocamento de líderes e rotas e reforço dos mecanismos financeiros para tentar mascarar o patrimônio. “Por isso, entendo que a atuação deve ser firme, legal, com inteligência e também respeito aos direitos humanos. Segurança pública eficiente e constitucional é aquela que protege o cidadão e enfraquece o crime, sem, entretanto, permitir abusos e sem alimentar ciclos de violência”, diz.
Guilherme Gama explica que, quando o Estado intensifica o confronto direto, o crime organizado responde com adaptação. “As organizações criminosas aprendem rapidamente a reduzir a exposição e a diversificar suas fontes de renda. Elas tendem a descentralizar o comando, investir em atividades menos visíveis e ampliar a corrupção para garantir proteção institucional”, explica.
O professor acrescenta que, para evitar ainda mais o crescimento das facções, o Estado deve agir com inteligência. “Esse tipo de operação letal alimenta o ciclo de descontrole, pois afeta principalmente populações pobres e negras, deixando intocadas as estruturas financeiras que sustentam o tráfico e outros crimes”, diz.
“Enquanto o foco continuar sendo a guerra e não o investimento em políticas sociais e inteligência, as mortes continuarão a aumentar e o crime seguirá se reinventando. A experiência internacional mostra que segurança eficaz depende de investigação, tecnologia e inteligência, não de operações que transformam territórios em campos de batalha”, sintetiza Gama.
Carbono Oculto teria estratégia mais eficaz
A guerra contra o crime organizado está em evidência nos noticiários há meses. Especialmente em razão da operação Carbono Oculto, que mira esquemas de lavagem de dinheiro nos mais variados setores da economia, incluindo combustíveis e mercado financeiro, tem gerado milhões de reais em prejuízo ao PCC. Comparada com a megaoperação contra o CV no Rio de Janeiro, a Carbono Oculto é apontada como mais eficaz para atingir o “coração” da facção. “No caso do PCC, quando o Estado atua com foco em crimes contra o sistema financeiro e a estrutura econômica da facção, o resultado tende a ser mais efetivo, pois o combate se dá por meio de inteligência e investigação”, comenta Guilherme Gama.
Para o professor de teoria do estado e direito constitucional Ricardo Souza, a operação Carbono Oculto ataca o “coração” da facção. “Na operação do Rio de Janeiro, ao final das contas, o saldo que nós temos é de corpos, de ambos os lados, policiais inclusive foram vitimados. Já essa operação de São Paulo foi no coração, no cérebro da operação da organização criminosa, que é o dinheiro. Na medida que você bloqueia esses fluxos de capital que sustentam o crime, você realmente gera um efeito muito mais efetivo, de prejuízo”, analisa.
“O ideal seria que operações como essa, de inteligência, fossem utilizadas também contra o Comando Vermelho, porque é sabido também que o CV, mesmo em menor escala, também se utiliza de expedientes de lavagem de dinheiro”, opina Ricardo Souza.
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O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou a preservação e a documentação integral de todos os elementos materiais relacionados à operação policial mais letal da história do Rio de Janeiro, que deixou ao menos 121 mortos na última terça-feira. Moraes determinou a preservação das de perícias e a manutenção das respectivas cadeias de custódia. A medida atendeu a uma solicitação da Defensoria Pública da União (DPU).
Moraes destacou que o procedimento está em conformidade com o que foi definido pelo Plenário do STF no julgamento do mérito da ação da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental 635, a ADPF das Favelas, que estabelece a necessidade de preservar vestígios de crimes e de garantir a independência técnica das perícias em casos de crimes contra a vida. O governador do Rio, Cláudio Castro (PL), deve ser intimado ainda neste domingo (2) para assegurar o cumprimento da decisão. As informações são do jornal O Globo.
Moraes estará com Castro amanhã (3), no Rio de Janeiro. A previsão é que eles se encontrem no Centro Integrado de Comando e Controle (CICC) da Polícia Militar. A audiência ocorre no âmbito da ADPF das Favelas, ação que monitora a letalidade policial no estado. Na avaliação de integrantes do Supremo, a reunião deve servir para cobrar o cumprimento das diretrizes já estabelecidas pelo Supremo com relação às ações policiais no estado. A expectativa é que, na sequência, o ministro já deve avaliar quais serão os desdobramentos e as medidas que serão adotadas no caso.
Em decisão na última semana, Moraes exigiu que Castro apresente informações detalhadas sobre a operação, incluindo a justificativa formal para o grau de força empregado, o número de agentes envolvidos, os armamentos utilizados, e o total de mortos, feridos e detidos. Também foi cobrada a adoção de medidas de responsabilização por eventuais abusos, a atuação da perícia, o uso de câmeras corporais e a assistência às vítimas.
Por Jorge Henrique Cartaxo e Lenora Barbo*
Especial para o Correio Braziliense
“Não é o ângulo reto que me atrai, nem a linha reta, dura, inflexível, criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual, a curva que encontro nas montanhas do meu país, no curso sinuoso dos seus rios, nas ondas do mar, no corpo da mulher preferida. De curvas é feito todo o universo — o universo curvo de Einstein.”
A frase clássica de Oscar Niemeyer talvez defina, com simplicidade e poesia, seus grandes monumentos, palácios, casas, cidades, universidades, centros culturais e igrejas, que se espalharam pelo mundo ao longo do século 20 e nos primeiros anos do século 21, durante todo o seu centenário de vida.
Leia maisCom 22 anos, à época trabalhando na tipografia do pai, Oscar Niemeyer, já casado com Annita Baldo, matriculou-se no curso de Engenharia e Arquitetura da Escola Nacional de Belas Artes. Nesse mesmo ano, Le Corbusier faria sua primeira viagem ao Brasil, onde proferiu inúmeras palestras no Rio e em São Paulo. Não há registro, naquele momento, de um encontro entre Niemeyer e Corbusier, já famoso urbanista do modernismo em ascensão na Europa e nos EUA. Entretanto, em 1930/1931, com a nomeação de Lucio Costa, então com 28 anos, como novo diretor da Escola Nacional de Belas Artes, um novo tempo se inaugurava.
Costa refez toda a estrutura de ensino da tradicional escola carioca, introduzindo as bases estéticas do urbanismo e da arquitetura modernistas — Walter Gropius, Le Corbusier e Mies van der Rohe. Convidou ainda, para aquela turbulenta experiência na ENBA, o arquiteto ucraniano Gregori Warchavchik, que havia projetado e construído a primeira casa modernista no Brasil, em São Paulo, no ano de 1927, por ocasião de seu casamento com Mina Klabin. Integravam também o quadro de grande mudança metodológica e de conhecimento promovida pelo jovem diretor as nomeações de Celso Antônio e do escultor alemão Leo Putz.
É nesse clima de refazimentos estéticos, institucionais e políticos que Oscar Niemeyer inicia o curso superior, concluindo-o em 1934, na antessala de outra grande mudança: o Estado Novo, em 1937. Durante o terceiro ano do curso, já no período do estágio profissional, em vez de procurar uma construtora — como era comum à época —, Niemeyer decide trabalhar de graça no escritório de Lucio Costa, Warchavchik e Carlos Leão. “Não temos recursos para lhe pagar”, teria dito Costa a Oscar, quando este lhe pediu o emprego.
Essa aproximação profissional com Lucio Costa definiria, em grande parte, o destino e o sucesso de Niemeyer no Brasil e no mundo. O revolucionário diretor da Escola Nacional de Belas Artes traria para o urbanismo e a arquitetura brasileiros um novo conceito: a união da tradicional arquitetura colonial com os princípios modernistas (pilotis, fachadas livres, terraço-jardim, funcionalidade) e com os novos materiais dominantes — concreto, vidro e ferro. Dali sairiam as linhas e curvas de Niemeyer.
Depois da transformadora passagem pela Escola Nacional de Belas Artes, Lucio Costa foi convidado pelo então ministro da Educação, Gustavo Capanema, para projetar a nova sede do Ministério da Educação e Saúde. O concurso público para a realização do projeto — uma seleção para obras públicas instituída por Vargas — havia sido vencido pelo arquiteto cearense Archimedes Memória, o mesmo que projetou o ainda hoje famoso Palácio Tiradentes, antiga sede da Câmara dos Deputados e atual Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.
Archimedes não era modernista nem se alinhava aos movimentos estéticos liderados por Lucio Costa, tampouco às emanações da Semana de Arte Moderna de 1922, que havia animado São Paulo na década anterior. É importante destacar que Getúlio Vargas, já admirado por Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Di Cavalcanti, Ary Barroso e tantos outros, percebia o significado da música, da arte, da arquitetura e do urbanismo para o “novo Brasil” e o “novo brasileiro” que tinha em mente — a transição de um país agrário para uma nação industrial. E dessa nova estética ele soube fazer bom uso.
Lucio Costa tanto fez e insistiu, e era tamanho o seu prestígio e credibilidade, que Gustavo Capanema o levou ao próprio Getúlio Vargas. Ele não queria apenas a anulação do concurso; queria mais: que Le Corbusier — então já famoso e radiante no mundo — fosse convidado como consultor do novo edifício que desejava como monumento. Lucio e sua equipe — Carlos Leão, Affonso Eduardo Reidy, Jorge Moreira e Ernani Vasconcellos (Oscar não a integrava inicialmente) — defendiam um projeto modernista para o ministério, na sua mais ousada concepção, mas ressentiam-se de uma maior intimidade com a nova estética. Getúlio adorou a defesa entusiástica do jovem Lucio Costa, deu uma boa gargalhada, duas baforadas e mandou buscar o arquiteto franco-suíço. Prudente, Capanema advertiu: “Lucio, o seu convidado terá quatro semanas para concluir o trabalho dele aqui.”
“Ele viajou pelo Graf Zeppelin, que fazia em quatro a cinco dias a rota do Atlântico Sul, pousando em Santa Cruz. E fomos todos, de madrugada, esperá-lo, em companhia de Hugo Gouthier, então do gabinete do ministro, chefiado por Carlos Drummond de Andrade. Tínhamos escritório no Edifício Castelo, na Av. Nilo Peçanha, 151, onde ele se instalou, mantendo inicialmente certa reserva conosco, pois, ignorando as circunstâncias da sua convocação, julgava-se convidado por iniciativa do próprio ministro, desejoso do seu parecer sobre a construção projetada.
[…] Considerou, de saída, o terreno impróprio, porque estaria em pouco tempo cercado por prédios inexpressivos. Parecia-lhe que o edifício deveria ficar voltado para o mar e o Pão de Açúcar, fixando-se na área correspondente, antes do segundo aterro, àquela onde agora se encontra o MAM, e para ela elaborou, com extrema espontaneidade, o belo risco de um edifício de partido baixo e alongado, que serviu depois de base ao projeto definitivo. […] Teve assim que implantar o bloco no sentido norte-sul, com fachadas para leste e oeste, o que resultou numa composição algo contrafeita, que não agradou nem a ele nem a nós.
Contudo, apesar dessa frustração final, ele ainda nos deixaria de quebra, sem querer — além dos planos para a Universidade, das aulas ao vivo e daquele risco fundamental —, uma dádiva: “foi durante esse curto, mas assíduo convívio de quatro semanas que o gênio incubado de Oscar Niemeyer aflorou”, contaria depois Lucio Costa, sublinhando que Niemeyer havia insistido para entrar na equipe e que, durante aquelas quatro semanas, seria o desenhista de Le Corbusier. E deu no que deu!
Em 1939, dois anos depois da visita de Le Corbusier, Oscar e Lucio, com projetos distintos, participaram do concurso que escolheria o pavilhão brasileiro na Feira Mundial de Nova York. Lucio venceu, mas considerou o projeto de Oscar mais identificado com o modernismo. Propôs uma parceria com o amigo para juntos produzirem um novo projeto, agora com a colaboração de Paul Lester Wiener. O sucesso foi absoluto. Niemeyer recebeu do prefeito Fiorello La Guardia as chaves da cidade de Nova York. Já em 1940, Juscelino Kubitschek convidou Niemeyer para construir o que ficou conhecido como “Conjunto Arquitetônico da Pampulha”, no qual se destaca a Igreja de São Francisco de Assis, obra-prima do complexo, com jardins de Roberto Burle Marx e painel de Portinari.
Tão logo Oscar concluiu seus projetos na Pampulha, teve início, em Nova York, com grande impacto mundial, a exposição Brazil Builds, no Museu de Arte Moderna de Nova York, oferecendo ao mundo a evolução da arquitetura brasileira desde o século 17 até a segunda metade do século 20. Com o impacto da exposição — que teve destaque especial para o modernismo —, Niemeyer reafirmou sua contemporaneidade e talento perante o mundo. Em 1947, novamente em Nova York, integrou a equipe encarregada de projetar a sede das Nações Unidas. Em 1948, inaugurou a sede do Banco Boavista, com sua impactante fachada envidraçada, no Rio de Janeiro.
Já comunista militante, Niemeyer foi impedido pelo governo americano de assumir o cargo de reitor da Escola de Design da Universidade Harvard. Mesmo assim, a partir de então, suas obras e publicações se espalharam: o Parque do Ibirapuera (1950) e o Edifício Copan (1953-1966), em São Paulo; o Edifício Niemeyer e a Biblioteca Pública, na Praça da Liberdade (1954), em Belo Horizonte. Em 1955, fundou a revista Módulo, a mais importante publicação sobre arquitetura no Brasil até 1964. Em 1957, coordenou o concurso para a construção de Brasília. Lucio Costa saiu vitorioso com seu plano urbanístico, e caberia a Oscar Niemeyer edificar a monumentalidade da cidade.
Ele estava em Israel, em 1964, quando o presidente João Goulart foi deposto. De volta ao Brasil, percebeu que sua permanência no país seria impossível. Em 1966, mudou-se para Paris, quando recebeu do presidente De Gaulle autorização especial para exercer a arquitetura na França. Depois de abrir seu escritório na Avenue des Champs-Élysées, Niemeyer foi convidado a projetar a sede do Partido Comunista Francês; a sede da Editora Mondadori, na Itália; a Bolsa de Trabalho de Bobigny; e o Centro Cultural de Le Havre, entre outros.
Com a abertura política em 1980, já no governo Figueiredo, Oscar Niemeyer voltou ao Brasil. Uma miríade de obras caiu em suas mãos: os Cieps, no Rio de Janeiro; o Memorial JK, em Brasília; o Memorial da América Latina, em São Paulo; o Panteão da Pátria, em Brasília; o Museu Nacional, em Brasília; o MAC e o Teatro Popular, em Niterói; e a sede da Fundação Oscar Niemeyer.
Em 2007, no seu centenário, lúcido e trabalhando, recebeu o título de Comendador da Ordem Nacional da Legião de Honra, a mais alta condecoração do governo francês; a condecoração da Ordem da Amizade, do presidente russo Vladimir Putin; e escolheu pessoalmente, junto com o Iphan, o tombamento de 35 obras suas.
Ainda centenário, fez o Centro Niemeyer, em Avilés (Astúrias, Espanha), e a Cidade Administrativa de Minas Gerais. O grande modernista brasileiro — talvez o arquiteto modernista com mais obras no mundo — faleceu no Rio de Janeiro, em 2012, aos 104 anos.
*Jorge Henrique Cartaxo é jornalista e diretor de Relações Institucionais do IHG-DF | Lenora Barbo é arquiteta e diretora do Centro de Documentação do IHG-DF
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O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), afirmou que é necessário qualificar o Primeiro Comando da Capital (PCC) como grupo terrorista perante a legislação brasileira. A fala foi feita a jornalistas durante agenda no interior de São Paulo.
O governador citou como argumento as ações de maio de 2006 do PCC no estado paulista que resultaram em incêndios à ônibus, rebelião em presídios e morte de agentes públicos em serviço. As informações são da CNN Brasil.
Leia mais“Vamos lembrar o que o PCC fez no estado de São Paulo em 2006. Então, um grupo que age, como o PCC agiu lá atrás, tem que ser classificado como grupo terrorista. Aquelas ações têm que ser classificadas como ações de terrorismo. Um grupo que coloca a barricada na entrada de uma comunidade, que impõe o terror, que queima ônibus, que quer impor determinadas regras ao estado, quer se sobrepor o Estado ou que domina um determinado território, afastando a política pública do cidadão, esse grupo está realmente se impondo pelo terror e precisa ser classificado como terrorista”, avaliou.
Tarcísio afirmou que mudar o entendimento jurídico das organizações criminosas também auxiliará no tratamento penal de cada um dos envolvidos, dificultando que eles deixem os presídios.
“E qual é a grande vantagem disso, no final das contas? É o endurecimento das penas, é a dificuldade de acesso a determinados benefícios de progressão. Eu acho que a gente precisa aumentar o custo do crime, é a questão da imprescindibilidade. Então quando você fala em endurecimento, classificar esses grupos como terroristas, você está falando de fato, ao fim e ao cabo, de endurecer, de aumentar o custo do crime, eu acho que a gente precisa aumentar o custo do crime. A gente precisa olhar, por exemplo, questões como o concurso de penas, porque às vezes na hora de classificar duas a prevalecer aquela mais branda e aquela pessoa consegue ter determinados benefícios de progressão de pena”.
O governador também avaliou que a “população não aguenta mais ser escravizada pelo crime organizado” e que a operação na baixada santista foi um exemplo de ação de combate.
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Do Poder360
Nenhum dos 109 mortos na megaoperação contra o CV (Comando Vermelho) identificados até ontem (1º) está na lista de 68 nomes denunciados à Justiça pelo MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro). A denúncia apresentada pelo órgão foi usada como base para o planejamento da ação que deixou 121 mortos – sendo 4 policiais – e prendeu 113 pessoas na terça-feira (28).
O documento obtido pelo Poder360 reúne nomes da cúpula do CV e de diferentes níveis da estrutura criminosa. Os denunciados, no entanto, não aparecem na lista parcial de mortos. Até a tarde de sábado (1º), ainda havia 8 corpos a serem identificados. Eis a comparação das listas de mortos já identificados e dos denunciados pelo MP (clique aqui para ler).
Leia maisEm nota, o MP disse que ainda analisa os resultados da operação e que não tem o balanço de quantos dos denunciados foram presos ou mortos. Apesar de a denúncia ter sido usada para basear a operação, o procurador-geral do Estado, Antônio Moreira, declarou na quarta-feira (29) que o órgão não participou da execução nem do planejamento da ação.
Segundo o governo do Rio, não há mais corpos a serem contabilizados. Dos 109 mortos já identificados, 43 tinham mandados de prisão em aberto e 78 tinham “extenso histórico criminal”. Do total, 54 eram de outros Estados: 15 do Pará, 11 da Bahia, 9 do Amazonas, 7 de Goiás, 4 do Ceará, 4 do Espírito Santo, 2 da Paraíba, 1 do Mato Grosso e 1 de São Paulo.
Procurado pelo Poder360, o Governo do Rio de Janeiro afirmou que “os bandidos que entraram em confronto com as forças de segurança não eram necessariamente os alvos dos mandados da operação, mas portavam armas de guerra, enfrentando as equipes, oferecendo resistência e colocando em risco a vida dos agentes [policiais]“.
A nota enviada diz ainda que “quem não teve cumprimento de mandado, foi preso em flagrante ou morreu durante o confronto“.
Leia a íntegra do posicionamento:
“A Operação Contenção contou com um ano de investigação e 60 dias de planejamento, envolvendo 2,5 mil policiais civis e militares, além da participação do Ministério Público. Dos 109 mortos durante a troca de tiros com agentes de segurança pública, 43 contavam com mandados de prisão pendentes e pelo menos 78 apresentavam relevante histórico criminal.
Os bandidos que entraram em confronto com as forças de segurança não eram necessariamente os alvos dos mandados da operação, mas portavam armas de guerra, enfrentando as equipes, oferecendo resistência e colocando em risco a vida dos agentes dedicados à missão da segurança pública em prol da população.
Quem não teve cumprimento de mandado, foi preso em flagrante ou morreu durante o confronto. Os quatro policiais que perderam suas vidas foram os verdadeiros heróis e únicas vítimas.“
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Editorial do Estadão
Já entrou para a antologia política a declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que os traficantes são “vítimas dos usuários”. Em seguida, temendo os efeitos eleitorais, tentou dizer que a frase foi “mal colocada”. Seus intelectuais de estimação – sempre prontos a traduzir toda estupidez lulista em tese sociológica – contemporizaram: o presidente só queria apontar a cumplicidade do consumo na cadeia do tráfico. Mas não foi ato falho. Para Lula e a esquerda, o crime, numa sociedade capitalista, é mero subproduto do meio, um reflexo das desigualdades. A culpa, portanto, é da sociedade.
De Marx a Foucault, a cada geração os esquerdistas conjuram a fraseologia da “violência estrutural” para dissolver responsabilidades pessoais em sociologia. O criminoso é desconstruído como sujeito ético e reduzido a objeto de forças externas. No lugar da moral, entra o diagnóstico: “contextos de vulnerabilidade”, “ressocialização em meio aberto”, “reeducação psicossocial”. Sob essa semântica profilática, a delinquência vira sintoma, e o delinquente, paciente de uma patologia coletiva diagnosticada por quem jamais esperou um ônibus à noite. E enquanto o crime avança, os criminólogos lapidam eufemismos.
Leia maisEssa subcultura humanitária não disfarça uma inversão moral: a compaixão pervertida em condescendência. A responsabilização do indivíduo é tratada como opressão burguesa, e a indulgência, como virtude. O progressismo cultiva o marginal como símbolo de “autenticidade social”, enquanto humilha o cidadão comum, que paga impostos e respeita a lei, como hipócrita e alienado. O delinquente virou personagem de “resistência”; o trabalhador, engrenagem da máquina de opressão.
A teologia da inocência universal esquerdista redime vítimas perpétuas e condena culpados abstratos: o “sistema”, o “mercado”, a “herança colonial”. Mas, mais do que um instrumento de satisfação narcísica, essa vitimologia é uma ferramenta de poder: um modo de capturar o monopólio da virtude, exigir mandatos para desconstruir “estruturas” e desmoralizar toda contestação como repressão “fascista”.
Os ideólogos que povoam o governo alternam garantismo e punitivismo ao sabor da conveniência política: rigor contra adversários, indulgência com aliados. É a ética dos “companheiros” travestida de teoria crítica. Os mesmos militantes que celebram terroristas e ditadores recriminam a punição a delinquentes como “violência estatal”. Entre o sentimentalismo e o cinismo, derramam lágrimas para bandidos e fazem selfies com tiranos.
O Comando Vermelho herdou mais que seu nome das milícias marxistas dos anos 1970. Elas lhe ensinaram não só táticas de guerrilha urbana, mas o léxico da guerra cultural. “Paz, justiça e liberdade!”, rezava o lema da facção, enquanto a contracultura glamourizava a bandidagem: “Seja marginal, seja herói!”.
Hoje a esquerda festiva celebra qualquer pichador como um Rimbaud das periferias. Mas essa farsa revolucionária se repete todos os dias como tragédia. Juízes progressistas libertam criminosos com dezenas de reincidências (alegando que o “Estado de Direito” não admite “futurologia”), desativam hospitais de custódia e despejam psicopatas em “ambientes comunitários”. ONGs financiadas por facções filmam documentários sobre “direitos humanos”. Ministros e secretários de Segurança querem enfrentar o crime com assistentes sociais e campanhas de reeducação. O resultado é um país onde o medo é rotina, e a lei, ficção.
A ideologia coitadista fabricou um paradoxo cruel: quanto mais a esquerda se compadece dos criminosos, mais abandona os pobres. O progressismo penal, que se apresenta como gesto civilizatório, é na prática um luxo ostentado por elites protegidas nas torres de marfim da academia ou em condomínios amuralhados. E quem paga a conta são os pobres. São eles que veem seus filhos aliciados, seus bairros sitiados, sua vida devorada por uma guerra estetizada pela retórica progressista.
Nenhuma sociedade pode prosperar quando transforma a justiça em “opressão” e o criminoso em “oprimido”. O Brasil já experimentou o bastante dessa moral bastarda. É tempo de descartar a mitologia de que punir o criminoso é “criminalizar o pobre”. A esquerda quis humanizar o crime. Desumanizou-se a si mesma. E os pobres são punidos todos os dias pelos tribunais da bandidagem.
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Por Ivanildo Sampaio*
Do Jornal do Commercio
Li, recentemente, uma entrevista do Rebelo, feita pelo jornalista Magno Martins, e demorei a acreditar naquilo que estava lendo. Até porque antes disso eu cultivava um certo respeito por Aldo Rebelo, pela sua história, sua atividade como líder estudantil, sua “ficha limpa” nos cargos públicos que ocupou, enfim: pelo seu comportamento, ao longo de sua vida pública, mesmo testemunhando alguns pequenos atos e ações com os quais não concordava.
O ex-ministro, na entrevista, acusa sem provas a ministra Marina Silva de ser “financiada pelo cartel de ONGs”; faz críticas pelo fato de Marina ter deixado o Acre, onde nasceu, e morar em São Paulo; e disse que a COP30, a ser realizada em Belém, reunindo países de todos os continentes para discutir questões climáticas, é “uma armadilha contra o Brasil”. E outras bobagens que, para quem o conheceu antes, não deixam dúvida agora: ou Rebelo sofre com o peso da idade, ou deixou cair a máscara e revelou sua verdadeira personalidade — a de um político machista, conservador e ultrapassado, que enganou muitos por muito tempo.
Leia maisSeus desafetos preferem dizer, em sua biografia, que um fato é inquestionável: Rebelo é um tremendo “pé-frio”. Era ministro do Esporte, com discreta atuação, na gestão de Dilma Rousseff, quando o Brasil foi sede da Copa do Mundo de Futebol, e nossa seleção foi impiedosamente goleada por 7 a 1 pela Alemanha. Fato jamais ocorrido antes nem depois na história do futebol brasileiro.
O ex-ministro Aldo Rebelo, por falta de melhores argumentos, ainda critica Marina Silva por ter deixado o Acre, no extremo Norte, para morar em São Paulo. Esquece Rebelo que ele mesmo também é um migrante, nascido no município de Viçosa, no interior de Alagoas, onde o pai trabalhava como vaqueiro em uma propriedade rural de Teotônio Vilela. E que ele deixou o solo alagoano para morar na mesma São Paulo onde está Marina Silva.
Esquece ainda que foi líder estudantil e membro do Partido Comunista Brasileiro. Mas, quando ministro da Defesa, trabalhou para que a Comissão da Verdade não fosse adiante na luta pela punição dos torturadores do regime militar. Com isso, tornou-se amigo de militares de alta patente. Nunca ficou “sem emprego” desde então. Rebelo merece críticas por isso? Creio que não…
É fácil para políticos de visão curta, ou de fim de carreira, descarregar suas frustrações e limitações nas costas dos mais fracos. Como Marina, coitada, que soma desafetos em sua difícil luta em defesa do meio ambiente. Antes, ela foi humilhada, como mulher e ministra, por alguns políticos da Região Norte, numa sessão do Congresso em que defendiam seus interesses particulares, e não os do País. A ministra, com dignidade, retirou-se do recinto. O presidente Lula ficou calado diante da humilhação à sua ministra.
Fui repórter de campo por muito tempo. Certa vez, para a revista Manchete, que tinha a maior circulação do país, fiz uma longa entrevista com o então governador do Mato Grosso, José Manuel Fontanillas Fragelli, quando aquele estado ainda não havia sido dividido para a criação do Mato Grosso do Sul e do Tocantins. Eu conhecia bem o Mato Grosso, estive lá várias vezes como repórter. Encantava-me aquele mundo verde e virgem, com sua riqueza e seus mistérios.
Na época, alguns parlamentares projetavam a construção de uma rodovia ligando Cuiabá a Porto Velho, cortando parte da Floresta Amazônica. O governador Fragelli se colocou contra. Não era favorável ao projeto, porque cruzaria terras indígenas e desmataria parte da floresta. E, naquela época, pouco se falava de preservação ambiental. Uma visão de estadista, a do governador, visão esta que falta à maioria dos políticos de hoje.
A ministra Marina Silva pode ter seus defeitos — e os tem — mas Aldo Rebelo não tem o direito de acusá-la de receber dinheiro de ONGs sem possuir provas que comprovem as acusações, que são graves. E duvido que o ex-ministro as tenha. Não pode acusar Marina de trabalhar contra o País quando, quase sozinha, ela tenta salvar o que ainda resta de uma Amazônia ameaçada pelas queimadas, pelas ocupações criminosas, pelo garimpo ilegal, pelo tráfico de drogas e pela atuação de alguns políticos corruptos que participam dessas atividades. Não se ouviu, até agora, indignação do ex-ministro Aldo Rebelo contra tudo isso.
Quero deixar claro que não tenho procuração para defender a ministra. Não a conheço pessoalmente; a única vez em que falei com ela, rapidamente, foi num evento em São Paulo, cuja figura central era o então ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos, num almoço que reunia a nata do empresariado brasileiro. Eduardo estava no início de sua campanha para disputar a Presidência da República, numa chapa que teria Marina como vice.
O pré-candidato fez uma palestra brilhante, recebeu aplausos de pé por mais de cinco minutos e havia largado bem em seu primeiro contato com a elite empresarial do país. Foi a última vez em que apertei sua mão.
Viajei na mesma semana para fora do país e, de lá, fui impactado pela triste notícia do acidente que o levou. E, com ele, se foi também a candidatura de Marina, que disputaria a vice-presidência em sua chapa. Desde então, ela continuou, quase só, em sua luta em defesa do meio ambiente e da Amazônia, ambos ameaçados e pisoteados no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, cujo ministro responsável pelo setor pregava “a passagem da boiada” para esconder o desmatamento e os crimes ambientais dos quais o país foi vítima.
Esse ex-ministro, certamente, deve ter recebido apoio do também ex-ministro Aldo Rebelo, de quem não se conhece uma única declaração crítica ou ação contrária ao que estava acontecendo no país naqueles tempos tenebrosos. E isso é triste…
*Jornalista
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Por Claudemir Gomes*
“Primeira, Primeira! Eu sou de Primeira”. Com a taça na mão, o prefeito de Vitória de Santo Antão, Paulo Roberto Arruda, regia um coro uníssono na comemoração da conquista do título pernambucano de futebol da Série A2 levantado pelo Vitória. A festa da ressurreição emoldura uma história que vai bem mais além do triunfo sobre o América, adversário cujos números da campanha lhes creditavam um favoritismo na decisão.
Mas o Tricolor das Tabocas carrega consigo um simbolismo que ressalta a luta e a vitória obtida por um povo no Monte das Tabocas. O clube tem o nome do município cujos índices de crescimento servem de referência no Estado, nas duas últimas décadas.
Leia maisO empate de 1×1, no tempo normal da decisão, foi a marca registrada da superação. Um salto de grandeza e coragem que deu ao Vitória a confiança necessária para buscar o título na decisão por pênaltis. A vitória por 4×2 em cobranças de tiros livres diretos é o prenúncio de um novo tempo. Este é o terceiro título da Segunda Divisão estadual conquistado pelo Tricolor das Tabocas.
Conheci Paulo Roberto Arruda ainda jovem, como estudante universitário do curdo de Direito. Depois, passou a figurar no cenário do futebol pernambucano como uma grata revelação entre os dirigentes dos clubes da Primeira Divisão. Desenvolveu um trabalho junto com o saudoso executivo, Paulo Mayeda, no futebol feminino do Vitória que colocou o clube da Terra da Pitú entre as maiores forças do País.
Paulo Roberto está prefeito. Destaca-se como gestor de referência em Pernambuco. Mas, antes de tudo é um desportista, amante do Vitória, e seu conhecimento da matéria futebol o leva ao entendimento de que o clube, para se consolidar no pelotão de elite, tem que cumprir algumas exigências impostas pelo novo tempo.
O número de indústrias que adotou Vitória de Santo Antão como domicílio nas últimas décadas, dotou o município de grande potencial econômico, fato que nos leva a crer que, o Vitória tem a oportunidade de contar com o respaldo de outros parceiros, além da UNIFACOL, da Pitú e da Prefeitura Municipal. Afinal, o clube precisa, urgentemente, atacar os projetos para construção de um Centro de Treinamentos de referência, como possui o Retrô, e da construção de um novo estádio, equipamento que já começou a ser edificado. Será uma arena com capacidade para 15 mil torcedores.
O Vitória, no seu retorno à Primeira Divisão Estadual, tem que ser tratado como um veículo de divulgação da cidade, haja visto que, através da disputa doméstica pode chegar à competição regional – Copa do Nordeste – e as competições nacionais: Copa do Brasil e Campeonato Brasileiro.
O valor da conquista quem mensura são os atletas, profissionais da comissão técnica e os torcedores. O tamanho do título quem determina é o sonho, a ousadia e a visão empreendedora dos gestores.
O Vitória de Vitória de Santo Antão! Isso é suprassumo para qualquer marqueteiro.
Parabéns, Vitória! És de Primeira.
*Jornalista
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