Por Antonio Magalhães*
A rivalidade natural entre jornais competindo pelo “furo”, pela notícia em primeira mão, sempre existiu. Até mesmo o desmentido enviesado do “furo” para não passar recibo pela desinformação do momento estava dentro das regras do jogo. O importante sempre foi a notícia, a busca da verdade dentro dos fatos. As queixas dos veículos de comunicação entre si não tinham o objetivo de destruir a reputação do concorrente. No máximo tirar leitores com reportagens de qualidade.
Mas o que vem acontecendo hoje é bem diferente. E não adianta culpar as redes sociais – que tomaram os leitores – pela flexibilização da ética de algumas empresas jornalísticas. É mau-caratismo mesmo. Como é o caso da Revista Piauí, um puxadinho da Folha de São Paulo, que fez acusações falsas contra a organização Jovem Pan, que se destaca por seu noticiário independente do consórcio da mídia formado para atacar o presidente e o Governo Federal.
Leia maisA última edição da Piauí disse que o grupo Jovem Pan é um “polo de desinformação a serviço de uma estratégia golpista do presidente Bolsonaro”. E que seus principais comentaristas são extremistas de direita que agem em prol de um golpe contra as instituições nacionais.
Foi o bastante para o comentarista da Jovem Pan News, Caio Copolla, argumentar que os ataques da Piauí e da Folha de São Paulo não são só uma revanche ideológica contra quem não se afina com a extrema imprensa. Ele revelou a principal causa de tanto ódio a quem não se alia ao consórcio da mídia: a falta de verbas governamentais da administração Bolsonaro.
Copolla revelou, com base em dados oficiais, que nos governos petistas – Lula e Dilma –, somados, a Folha e a Piauí receberam quase meio bilhão de reais em verbas governamentais. Na atual gestão federal pingou apenas R$ 2 milhões.
A Revista Piauí, criada pelo bilionário João Moreira Sales (Itaú/Unibanco) para ser um veículo independente nos moldes das revistas americanas de prestígio, viu cair sua circulação até a irrelevância pelo direcionamento ideológico à esquerda. E a adesão do banqueiro à esquerda ainda lhe rendeu na era petista um “troco” de R$ 9 milhões.
Os mesmos governos petistas que encheram o cofre dos “amigos” de causa, deram uma verba minúscula à Jovem Pan, em relação aos outros, mas superior ao que o atual Governo Federal paga hoje em anúncios oficiais à emissora paulista.
Enquanto o jornal e seu puxadinho caiam, o grupo Jovem Pan, há 80 anos na praça, cresceu nacionalmente de emissoras de rádio para TV por Assinatura, TV Web e se estendendo por várias ciber plataformas. A busca pela verdade – princípio jornalístico – moldou o seu crescimento empresarial passando em audiência a ex-poderosa CNN Brasil e se ranqueando em poucos meses no segundo lugar entre as tevês exclusivamente jornalísticas. Isso deu inveja no consórcio que se esvai.
A flexibilização ética do nosso jornalismo é tanta que até ex-conservador jornal O Estado de São Paulo – tido como sério quando trabalhei nele nos anos 1980 – passou agora a ser puxadinho do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), feudo do togado Moraes, ao descrever em reportagem na edição de ontem (17) mensagens de bolsonaristas na rede Telegram como tentativas golpistas contra o STF.
Em tom de “deduragem”, longe de padrões jornalísticos, o Estadão, hoje Estadinho, se juntou a pesquisadores da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), para mostrar a intensificação dos ataques à Corte desde junho, quando se tornaram mais frequentes as convocações de Bolsonaro para os atos de 7 de Setembro.
O levantamento feito a pedido do jornal analisou conteúdos publicados no Telegram entre o primeiro dia de janeiro e o último de junho deste ano. Foram mais de 6,4 milhões de mensagens grampeadas. Foram detectadas mensagens em grupos bolsonaristas que estimulam apoiadores do presidente a irem às ruas com faixas nas quais defendem a convocação das Forças Armadas para a elaboração de uma nova Constituição que criminalize o comunismo. Uma delas pede a destituição dos ministros do STF, com exceção de Kassio Nunes Marques e André Mendonça, ambos indicados por Bolsonaro.
Ouvido pelo Estadão, o pesquisador do Instituto de Tecnologia em Democracia Digital João Guilherme dos Santos vê facilidades na distribuição de desinformação quando o Telegram atua com o WhatsApp ou replica conteúdo do YouTube. “É muito importante entender o Telegram não como algo isolado, mas como uma peça, uma engrenagem dentro de uma arma”, diz.
E para que o Tribunal Superior Eleitoral precisa de polícia para investigar supostos crimes de opinião nas redes sociais se já tem os jornais “amigos” dedurando a quem eles acusam de criminosos? É isso.
*Jornalista
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