Por José Adalbertovsky Ribeiro*
MONTANHAS DA JAQUEIRA – O brasileiro cordial, de que falava o sociólogo Buarque de Holanda, nunca existiu, nem na Colônia, nem no Império, nem na República. Só existiu na cabeça dele. O Brazil vem da abominável escravidão negra de 350 anos, do massacre de Canudos, do extermínio dos índios, da degola dos cangaçeiros de Lampião. A guerra do Paraguai (1864-1870), junto com Argentina como parte da Tríplice Aliança, foi também um massacre inominável. Desde a Corte parasitária de Dom João VI, este sempre foi o reino das conchamblanças e do jeitinho.
A história oficial não conta: acontece no advento da República (1896-1897) o massacre mais vergonhoso e mais violento desta Nação, quando mais de 20 mil sertanejos desvalidos foram mortos e esquartejados e tiveram suas malocas incendiadas por tropas republicanas. Os beatos eram mansos e carentes, subjugados pelo sofrimento da vida. Precisavam de paz e pão. Os fazendeiros eram truculentos e os religiosos de ofício eram intolerantes.
Leia maisFugidos da fome/seca do mandonismo dos fazendeiros e sob as bênçãos do beato messiânico Antônio Conselheiro, penitentes do Arraial de Canudos foram acusados de fanatismo pela Igreja Católica e de conspirar contra o regime republicano por não pagarem impostos. A República foi pacificada na bala, reinou a paz dos cemitérios. Mas, o Arraial de Canudos ainda hoje sangra e a escravidão é um traço indelével na consciência nacional.
Os beatos eram mansos e carentes, subjugados pelo sofrimento da vida. Precisavam de paz e pão. Os fazendeiros eram truculentos e os religiosos de ofício eram intolerante. Tempos depois o jornalista Assis Chateaubriand escreveu uma resposta a Canudos, baseado no exemplo construtivo do empreendedor Delmiro Gouveia: a pacificação pelo trabalho e educação. Ocorre que o exemplo do visionário Delmiro foi aniquilado pelo capitalismo predatório dos trustes e pelo governo arbitrário de Sigismundo Gonçalves. O arbítrio deitou raizes na sociedade brasileira.
Não por acaso ocorrem de 40 mil a 50 mil mortes violentas a cada ano nesta Terra de Vera Cruz, a terra da verdadeira Cruz. O homem de Neandertal das cavernas continua presente nas torcidas organizadas, nos estádios, no trânsito, nos gabinetes, palácios e palacetes e até nas catedrais.
A conciliação nacional não será alcançada com pedradas nem com vinganças. Com esses ingredientes haverá mais bois de fogo. A virtude dos vitoriosos é serem magnânimos, se lhes permite a ambição de poder. As fogueiras das vaidades e ambições de poder estão acesas. Estes são tempos de intolerância, de radicalizações e incertezas.
O ministro José Múcio Monteiro é criatura da paz e do bem, além de competente, vacinado contra coronavírus, gripe, pólio, hepatite e bois de fogo. É um guerreiro da boa paz.
Se é para extirpar, que sejam extirpados os tumores da intolerância e das radicalizações. Extirpar milhões de cérebros dos opositores do cordão azul seria missão impossível para o brincante-mor do cordão encarnado, nem que fosse com anestesia raquidiana, nem peridural, nem anestesia geral nem na base da lobotomia. Esta Nação precisa de bandeira branca, não de revanchismos nem de vinganças, para trabalhar, para lavrar, para amar e ser feliz.
*Periodista, escritor e quase poeta
Leia menos