*Por Fernando Rodrigues
Faltam 4 dias para a disputa presidencial no domingo (2.out.2022). A corrida pelo Planalto tem um favorito. Seu nome é Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O underdog do confronto é o atual presidente da República, Jair Bolsonaro (PL). Nunca o incumbente que buscou a reeleição na atual fase democrática do Brasil esteve atrás nas pesquisas a esta altura do confronto.
Só que a decisão ainda é incerta, apesar de Lula estar com 48% dos votos válidos, de acordo com o PoderData. A maior incógnita é como será a taxa de abstenção neste ano e quem serão os eleitores que mais vão faltar aos locais de votação no domingo.
Leia maisSe a maioria dos eleitores que deixarem de votar forem pró-Bolsonaro, há uma chance real de Lula vencer no 1º turno. Se ocorrer o oposto, a disputa irá ao 2º turno em 30 de outubro de 2022.
Em geral, a taxa média de abstenção tem sido na redondeza de 20%. Além disso, há os votos brancos e nulos. Eis como foram os percentuais em eleições passadas:
As pesquisas de intenção de voto não conseguem captar com clareza quantos eleitores vão sair de casa no próximo domingo. O PoderData pergunta em algumas rodadas se o eleitor vai, de fato, votar. A resposta é descolada da realidade de eleições passadas: menos de 10% admitem que podem se abster. Obviamente, muitos mentem ao responder à pesquisa. Até porque a lei no Brasil diz que o voto é obrigatório.
O que é possível saber é o perfil de quem não votou em eleições anteriores. O cientista político Jairo Nicolau, pesquisador da FGV e um dos maiores especialistas em dados eleitorais no Brasil, fez uma análise a respeito do que se passou em 2018, no 1º turno.
Há 4 anos, 20,3% dos eleitores não foram às urnas.
O professor Nicolau escreveu o artigo “Comparecimento eleitoral no primeiro turno de 2018” em seu blog, em 21 de setembro de 2022. Os dados são muito ricos para entender como foi o comportamento dos eleitores há 4 anos. Eis alguns dados e quem se favorece ou não:
- mulheres – o eleitorado feminino votou mais (80,4%) do que o masculino (79,2%) em 2018. É uma diferença pequena. Mas as mulheres são majoritárias no eleitorado, com 82,4 milhões aptas (52,7% do total). Homens são 74 milhões (47,3%). Como Lula vai melhor do que Bolsonaro entre mulheres, esse aspecto da taxa de abstenção é positivo para o petista;
- escolaridade – quanto mais escolarizado, mais o eleitor comparece para votar. Entre analfabetos (que não são obrigados a votar), abstenção é de expressivos 50,8%. Entre os que só sabem ler e escrever, 29% não apareceram para votar em 2018. Em geral, a baixa escolaridade está relacionada diretamente à faixa de renda de cada pessoa. Lula tem seu maior apoio entre eleitores pobres. Ou seja, se esse padrão se repetir neste ano será algo negativo para o petista;
- faixa etária – segundo Jairo Nicolau, “a segmentação por faixa etária não revela diferenças tão intensas quanto a observada na escolaridade”. O cientista político aponta a “baixa participação de eleitores com mais de 70 anos”, quando o voto não é mais obrigatório. Nesse caso, o efeito para Lula e para Bolsonaro tende a ser neutro.
Tudo considerado, se o padrão das eleições mais recentes se repetir é possível que a disputa presidencial de 2022 vá ao 2º turno. Mas não há como afirmar que isso de fato possa vir a ocorrer.
A campanha de Lula tem demonstrado estar atenta a esse risco. Tem reforçado em seus comerciais uma mensagem de incentivo para os eleitores irem votar no próximo domingo. Vai dar certo? Impossível afirmar com segurança neste momento.
*Criador do Poder360.
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