Por Cláudio Soares*
A disparidade na cobertura midiática entre resgates de animais e a tragédia humana em desastres, como as enchentes no Rio Grande do Sul, é um reflexo preocupante da forma como a mídia e as redes sociais priorizam certos conteúdos em detrimento de outros.
Essa tendência revela uma desconexão com a realidade e uma falta de sensibilidade para com a vida humana. Enquanto os salvamentos de animais são frequentemente destacados, com programas inteiros dedicados a histórias como a de uma égua resgatada, a cobertura da perda de vidas humanas e do sofrimento das comunidades afetadas muitas vezes é negligenciada ou minimizada.
Leia maisEssa disparidade reflete uma priorização equivocada de valores, onde a atenção é direcionada para o que é considerado mais “fofo” ou “emocionante”, em detrimento do que é verdadeiramente urgente e relevante para a sociedade.
Essa tendência também levanta questões sobre a ética da cobertura jornalística e o papel das redes sociais na amplificação desses desequilíbrios. A busca por engajamento e visualizações muitas vezes leva à promoção de conteúdos sensacionalistas e superficiais, em vez de uma abordagem responsável e compassiva diante do sofrimento humano.
Todos os seres vivos merecem compaixão e cuidado. Não há dúvida de que os animais também merecem ser salvos em situações de emergência, e é louvável quando a mídia destaca esses resgates. O ponto de crítica não está em salvar os animais, mas sim na disparidade de cobertura entre resgates de animais e a tragédia humana em desastres como as enchentes no Rio Grande do Sul.
Ambos os aspectos merecem atenção, mas é importante garantir que a vida humana e o sofrimento das comunidades afetadas recebam a devida prioridade e sensibilidade na cobertura midiática e nas redes sociais. É fundamental que a mídia e as redes sociais reconheçam sua responsabilidade em informar de forma equilibrada e compassiva, dando voz às vítimas humanas e destacando a gravidade das situações de emergência.
Isso requer uma reflexão crítica sobre as prioridades e valores subjacentes à produção e disseminação de conteúdo, visando uma cobertura mais justa, sensível e responsável dos eventos que afetam a vida das pessoas.
*Advogado e jornalista
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