Por Rudolfo Lago – Correio da Manhã
Na edição de sexta-feira, mostrávamos aqui, numa entrevista com o líder do PDT, Mário Heringer, como era a forte a resistência no partido quanto à possibilidade de saída do governo do então ainda ministro da Previdência, Carlos Lupi. Dizia Heringer: “Não dá para ficar com alguém que no primeiro sacode te joga para fora do caminhão”.
Bem, como se viu, essa capacidade de resistência não se mostrou muito grande. Lupi está fora do governo. Oficialmente, não foi jogado para fora do caminhão. Numa saída negociada, ele mesmo pulou da boleia. Os próximos passos agora serão ver até onde irá o restante do discurso de rebeldia do líder do PDT, que pregava a saída do governo caso Lupi fosse “defenestrado”. Talvez não muito longe.
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A linha que Lupi pregava, de poder se defender dentro do governo, tinha se tornado insustentável. Lupi resistira inicialmente à demissão de Alessandro Stefanutto do comando do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). E devia resultados concretos quanto aos desvios.
O assunto provoca uma sangria difícil de estancar no governo. Já jogava suspeitas contra o irmão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Frei Chico, vice-presidente de um dos sindicatos investigados, o Sindicato Nacional dos Aposentados da Força Sindical.
Chegou-se, assim, a um salto negociado para que Lupi saísse do caminhão. O PDT mantém o Ministério da Previdência. Com um nome da confiança de Lupi, que era o secretário-executivo do ministério: Wolney Queiroz. Essa solução, avalia o governo, deverá estancar as insatisfações do PDT. Se elas estancarão a sanha oposicionista, porém, é outro tema. No caso, há duas apostas do governo: a primeira relaciona-se ao perfil de Queiroz. A segunda sobre qual seja de fato o foco da oposição na sua estratégia política. Terá a oposição condições de, ao mesmo tempo, pressionar pela anistia ao 8 de janeiro e fustigar o governo com a Previdência?
Na semana passada, a oposição conseguiu o número de assinaturas necessárias para instalar uma CPI do INSS. Mas há uma fila de outros 12 pedidos anteriores na Câmara. A oposição tentará esta semana transformar essa CPI em mista como forma de evitar tal fila.
Vem daí a primeira aposta, no perfil de Wolney Queiroz. O pernambucano Wolney Queiroz foi deputado federal. Foi líder da Oposição ao governo Jair Bolsonaro em 2022. Mas tem muito bom trânsito com a maioria dos líderes do Centrão no Congresso Nacional.
Avalia-se que esse perfil possa neutralizar o avanço da CPI. Embora, por outro lado, a oposição já o comece a atacar pela proximidade com Lupi. Se Lupi sabia dos desvios, e nada fez, argumenta a oposição, Wolney, como segundo da pasta, também sabia.
A segunda aposta está no foco da oposição. O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), resiste a pautar a urgência para o projeto de anistia. Tendo de gastar energia nisso, a oposição conseguirá ao mesmo tempo viabilizar a CPI? Respostas virão esta semana.
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