Por Magno Martins – exclusivo para a Folha de Pernambuco
Em meio às verdadeiras cenas de guerra nas ruas de Natal e algumas cidades em seu entorno, no Rio Grande do Norte, onde, esta semana, uma série de crimes contra prédios públicos tomaram conta dos noticiários, o secretário nacional de Segurança Pública, Tadeu Alencar, aterrissou, ontem, na capital potiguar, para acompanhar de perto as ações federais em apoio ao Governo daquele Estado.
Em entrevista à Folha, antes de decolar, disse que o crime organizado, ao voltar a agir com vigor, quer desafiar a autoridade do poder público.
“Vamos montar a força que seja a necessária para esse enfrentamento ao crime organizado, que se modernizou para enfrentar as forças do poder, mas chega de tolerar com parcimônia. Muitas vezes a reação não foi à altura desse desafio que está sendo feito às autoridades e vamos responder com o máximo de energia. Designamos, imediatamente, 190 policiais da Força de Segurança Nacional para atuar no Rio Grande do Norte, 100 deles desde a madrugada da quarta-feira e 90 chegaram na sexta, acompanhados de 30 viaturas e um ônibus de apoio”, disse Tadeu, adiantando que o Estado vai vencer essa batalha. Confira sua entrevista.
Leia maisO que está acontecendo em Natal?
Eu acho que temos um desafio muito grande na segurança pública no Brasil. O crime organizado se modernizou, se sofisticou. Nos últimos anos, foram adotadas políticas equivocadas na área segurança pública, com a flexibilização de armas, com parte dessas armas sendo desviada para própria criminalidade organizada. E todas as vezes que o crime sofre a ação do poder público, reage. No caso do Rio Grande do Norte, a governadora Fátima Bezerra adotou medidas para fechar o cerco às organizações criminosas, que reagem aumentando a violência e desencadeando uma série de atentados à prédios públicos.
É um verdadeiro enfrentamento ao poder público?
Um desafio à autoridade do poder público e é por isso que a resposta tem que ser enérgica e plena. Não pode ser uma resposta só do Rio Grande do Norte, porque a questão da segurança pública é um problema nacional. Não se resolve só que a ação de um Estado, porque o crime está conectado, interligado. É digital, virtual, enquanto muitas vezes a ação do estado brasileiro é analógica. A governadora, diante do que aconteceu na madrugada da terça-feira, imediatamente acionou o ministro Flávio Dino, que designou a mim e ao secretário executivo do Ministério, Ricardo Capelli, que desse todo apoio a governadora.
O que ficou acertado nesse pedido da governadora Fátima Bezerra ao ministro Flávio Dino?
Tivemos uma reunião ampla, com todas as autoridades de segurança pública do RN e do sistema de justiça criminal do Estado e adotamos diversas medidas que já viam sendo postas em prática pelo governo estadual. Da nossa parte, designamos imediatamente 190 policiais da Força de Segurança Nacional para atuar no Estado do Rio Grande do Norte, sendo que 100 deles chegaram desde a madrugada da quarta-feira e 90 chegaram na sexta (17) acompanhados de 30 viaturas e um ônibus de apoio. Na quinta (16), chegaram 30 policiais penais que para dar cobertura e estabelecer a segurança no presidio de Mossoró. E nesta sexta(ontem), vamos pessoalmente ao Rio Grande do Norte, a Natal, por diretriz do presidente de Lula e do ministro, para dar todo apoio ao Estado. Não porque esteja faltando uma ação consciente e incisiva do Governo do Estado, mas porque essa é uma responsabilidade também da União em apoiar os Estados no enfrentamento ao crime organizado.
Será montado um QG Federal no Rio Grande do Norte?
Vamos montar a força que seja a necessária para esse enfrentamento. Chega de tolerar com parcimônia, tranquilidade, como muitas vezes a reação não foi à altura desse desafio que está sendo feito às autoridades e vamos responder com o máximo de energia.
Na época, o senhor era deputado federal, mas lembra que teve um episódio muito parecido no Ceará com o que ocorreu em Natal. Por acaso tem alguma quadrilha envolvida lá que está presente nessas do Rio Grande do Norte?
Não podemos falar ainda em quais são exatamente as responsabilidades de todas as organizações criminosas que atuam. Os métodos são muito parecidos. O crime tem uma estratégia de procurar fazer com que haja uma sensação de insegurança na população, por isso eles atuam de maneira fragmentada, para tentar dar a impressão de que há um descontrole na segurança pública do estado e não se trata disso. Há um enfrentamento à autoridade estatal e cabe ao governo do Estado, que já está fazendo isso, e ao governo Federal, dar todo apoio para que a resposta seja dura, enérgica e que a gente continue enquanto estado brasileiro fazendo um enfrentamento cada vez maior as organizações criminosas que foram muito empoderadas nos últimos anos.
Já foi identificado o mentor, o principal responsável do que acontece no Rio Grande do Norte?
Uma das coisas que se tem e as investigações vão aprofundar isso, é que essa reação diz respeito, inclusive, a iniciativa que o governo do Rio Grande do Norte adotou para remover uma das lideranças dessa organização criminosa para um presídio federal fora do Estado. Isso foi solicitado em janeiro, não foi processado a tempo e modo, mas como o Governo do Estado estava insistindo nessa transferência, isso é uma resposta do crime a interesses contrariados e é por isso que a nossa reação tem que ser pronta, expedida e com toda energia.
E essa liderança do crime organizado vai ser transferida para um presídio federal no Rio Grande do Norte ou para outro Estado?
Já foi transferido, na própria terça-feira, o que mostra a diligência do Governo do Estado com todo o suporte das autoridades federais, e já está em um presídio de segurança máxima de Mossoró sem prejuízo de eventualmente ser recambiado para outro presídio fora do Estado.
Lula chegou a cogitar em ir a Natal para acompanhar essa crise?
Eu não tenho informações. Nós, por enquanto, temos uma determinação de dar todo o apoio, que tem sido dado. No primeiro momento, mais de 20 municípios foram atingidos. Esse número de municípios hoje está mais reduzido à capital Natal e algumas ocorrências em zona de fronteira com o Estado da Paraíba. Nós estamos exatamente avaliando a necessidade de prover ainda mais estrutura do governo federal para ajudar ainda mais o governo do Rio Grande do Norte. Nesse momento, não tenho conhecimento de eventual ida do presidente ao Estado.
Qual o saldo do que ocorreu no Rio Grande do Norte?
Tem uma vítima e mais de 40 suspeitos que foram presos. O que precisamos de maneira imediata e vamos dialogar com o Governo do Estado e autoridades estaduais para tentar restabelecer com um prazo mais curto possível a normalidade do funcionamento do transporte público, das escolas, dos postos de saúde. É isso que a população espera. Vamos reunir todos os 190 policiais da Força Nacional, mais os 30 policiais penais e vamos ter um contingente ao qual vai se juntar a Polícia Rodoviária Federal. Na quinta pela manhã, o ministro determinou que a PRF pudesse dar todo apoio ao patrulhamento das rodovias federais no Rio Grande do Norte. Portanto, a autoridade do Estado com certeza cuidará de restabelecer a tranquilidade do povo do Rio Grande do Norte que tem contado com o governo de Fátima Bezerra e naturalmente com o apoio do governo do presidente Lula.
O senhor e o ministro temem que o que aconteceu no Rio Grande do Norte pode ser disseminado para algum outro Estado?
Não temos nenhum indicativo de que haja instabilidade em outros estados. Vamos acompanhar. Estamos alertas, porque é necessário estar preparado para qualquer situação que eventualmente possa ocorrer em outros lugares. No momento, não temos nenhum indicativo que isso possa vir a ocorrer.
Mas o senhor falou que houve alguns episódios na Paraíba, que é um estado vizinho ao Rio Grande do Norte.
Mas isso foi ainda dentro do que aconteceu no Rio Grande do Norte. Por isso é importante que onde tenha focos de atuação do crime organizado a gente procure reprimi-los com a força da presença do Governo do Estado e do Governo Federal.
Há uma preocupação, imagino, do Governo do Estado, de resolver de forma célere essa situação, até mesmo porque Rio Grande do Norte é um Estado muito turístico e esses acontecimentos recentes podem impactar negativamente o turismo. É isso mesmo?
Na verdade, o Rio Grande do Norte tem potencialidades muito grandes do ponto de vista turístico. Mas assim como nós estamos empenhados em restabelecer os serviços públicos no Estado, não acreditamos que vá afetar o fluxo turístico porque certamente a força do Estado é muito maior do que qualquer ação do crime organizado.
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