Por Rudolfo Lago – Correio da Manhã
Nas eleições municipais de 2024, a deputada Tabata Amaral foi vítima de um dos episódios mais abjetos da história política recente. Candidata à prefeitura de São Paulo pelo PSB, Tabata foi acusada por Pablo Marçal, que era seu adversário na disputa pelo PRTB, de ter sido indiretamente responsável pela morte de seu pai, Olionaldo.
Marçal disse que Tabata teria partido para os Estados Unidos, para estudar na Universidade de Harvard, sem dar assistência ao pai, que era vítima de alcoolismo. Era mentira. Quando perdeu seu pai, Tabata ainda estava no Brasil. E ele ainda teve a chance de comemorar com ela o anúncio de que a menina pobre, de 17 anos, com seu esforço, fora admitida em uma das melhores universidades do planeta.
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Mais de um ano depois do ataque feito, a Justiça Eleitoral de São Paulo condenou há uma semana Pablo Marçal por difamação. Tabata, porém, ressalva: “O julgamento não terminou e deve ainda durar muito tempo”. A reparação afinal ainda não aconteceu.
Há um componente em todo o processo que assusta. Na campanha municipal, Pablo Marçal fez da mentira instrumento para obter dividendos políticos. Parecia partir da certeza de que, quando a verdade fosse restabelecida, ele já teria ganho com a confusão que provocara.
Assim como fez com Tabata, Pablo Marçal fez com Guilherme Boulos (Psol), candidato à prefeitura pelo Psol. Na véspera do primeiro turno, Marçal divulgou um laudo médico falso que atestava uma passagem de Boulos em uma clínica por uso de drogas, também uma mentira. “Eu me pergunto o que poderia acontecer se Pablo Marçal tivesse sido eleito prefeito. Será que a acolhida da Justiça ao meu processo seria a mesma?”, questiona Tabata ao Correio Político. “Quantos votos ele ganhou com aquela mentira? Quantos votos eu perdi?”, pergunta ela. “Não sei o quanto isso me prejudicou politicamente. Sei o quanto machucou”
O que preocupa é o grau cada vez maior de sofisticação da aparelhagem para a falsificação política e para a construção da mentira, com o avanço da inteligência artificial. E, infelizmente, também com o avanço da falta de escrúpulos de muitos aventureiros.
Tabata não enxerga no momento um empenho forte da Justiça Eleitoral para se aparelhar para um jogo que já foi pesado na campanha municipal do ano passado e tende a ser mais pesado ainda. Muito menos do Congresso, que rejeita avançar sobre a discussão do tema.
‘Eu tenho esperança de que uma hora nós, sociedade, iremos solucionar essas questões”, disse Tabata. “Se eu não tivesse esperança na possibilidade de avanço e de mudança, eu nem estava na política”, completou. “Mas quando, afinal, faremos isso, não sei dizer”.
“Mas, infelizmente, não acho que essa solução virá nas eleições do ano que vem”, pontua Tabata. Para a deputada, um risco que desestimula. “Muitas mulheres jovens sonham com a política. Mas, quando vê acontecer algo como aconteceu comigo, muita gente desiste”.
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