Bolsonaro ia bem, mas derrapou
Bolsonaro trucidou Lula na primeira pergunta no debate da Band, domingo passado. A temática corrupção deixou o petista tonto, sem chão. Recorreu a uma linha de defesa frágil, sem convencimento. Da forma como intimidou Lula, Bolsonaro passou a impressão de que iria se sair muito bem.
Mas pisou na bola, no terceiro bloco, ao atacar a jornalista Vera Magalhães, da TV-Cultura, sem razão aparente. Revelou, mais uma vez, que não sabe conviver com o contraditório e seu desempenho, no restante do tempo, deixou a desejar. Com isso, Bolsonaro atraiu ainda mais a ira das mulheres e dos jornalistas, especialmente.
Leia maisCiro Gomes deu um show à parte. Dos candidatos, foi o único que apresentou propostas, ao mesmo tempo em que fustigou seus principais adversários, sendo duro tanto com Bolsonaro quanto com Lula. Este chegou a amenizar o tom do pedetista, mas levou a pior quando Ciro afirmou que seu Governo, além de corrupto, foi desastroso em resultados econômicos.
De qualquer forma, no ambiente digital, o debate quebrou recordes e se tornou o maior evento jornalístico ao vivo já visto no YouTube no Brasil. Foram mais de 1,5 milhão de usuários simultâneos apenas no canal Band Jornalismo no YouTube, que ultrapassou a marca de quatro milhões de inscritos e segue como o maior canal de jornalismo brasileiro na plataforma.
O resultado é três vezes maior do que o registrado no encontro entre os presidenciáveis na campanha de 2018, quando foram contabilizados 470 mil visitantes simultâneos. Nas primeiras oito horas, a transmissão no YouTube conquistou mais de 9,4 milhões de visualizações.
Bombardeio de Ciro – Os candidatos Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Ciro Gomes (PDT) trocaram farpas quando questionados sobre a possibilidade de uma aliança no segundo turno. Lula acenou ao pedetista, mas Ciro o criticou, como costuma fazer, o associando a escândalos de corrupção. Com Bolsonaro, Ciro relembrou um episódio da década de 1990 para discutir armamento civil: há quase trinta anos, o então deputado federal Bolsonaro foi assaltado por dois bandidos armados na Zona Norte do Rio, enquanto estava parado em um semáforo.
O pau cantou – Em imagens nas redes sociais, é possível ouvir Janones, nos bastidores do debate da Band, xingando Salles de “bandido” e “vagabundo”, além de chamar o oponente para um embate físico: “Bate aqui, machão”. Em resposta, o ex-ministro disse que o parlamentar era “biscoiteiro” e o chamou de “Rachanones”, em referência às suspeitas de rachadinha no gabinete do deputado. A segurança do evento ameaçou retirar Janones do estúdio, mas o parlamentar protestou e disse que só sairia se Salles também deixasse o local. No final, o clima amenizou e os dois ficaram.
Ataque 1 – Bolsonaro atacou a jornalista Vera Magalhães, colunista do Globo e âncora do Roda Viva, da TV-Cultura, durante o debate. O chefe do Executivo afirmou que a profissional é uma “vergonha para o jornalismo brasileiro”. A declaração foi repudiada ao longo do próprio encontro por outras participantes, como Simone Tebet (MDB) e Soraya Thronicke (União Brasil).
Ataque 2 – Soraya saiu em defesa de Vera Magalhães. “Sou muito tranquila, vim na paz, bandeira branca. Só que, quando eu vejo o que aconteceu agora com a jornalista Vera, fico extremamente chateada. Quando homens são “tchutchucas” com outros homens, mas vem pra cima da gente sendo tigrão, fico extremamente incomodada. Lá no meu estado tem mulher que vira onça e eu sou uma delas”, afirmou.
Restrições ao modelo – A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, sinalizou que Lula irá ao debate da TV Globo, previsto para o dia 29 de setembro, mas deseja discutir as regras. Na avaliação de Gleisi, o formato do primeiro debate desfavorece o líder nas pesquisas por dificultar respostas a ataques de adversários, já que as perguntas devem ser feitas a todos os candidatos. Essa norma, na visão da petista, impediu Lula de responder às críticas de Bolsonaro e o tornou alvo preferencial dos candidatos.
CURTAS
ESPINHOSOS – Segundo o coordenador nacional do MST, João Paulo Rodrigues, Lula está sendo aconselhado a evitar respostas sobre corrupção e preferir temas sensíveis a Bolsonaro, como a fome e a crise econômica. Mesmo com as fragilidades de Bolsonaro na seara da corrupção, com casos do orçamento secreto e do balcão de negócios de pastores no Ministério da Educação, aliados de Lula veem o tema como espinhoso.
REPROVADO – A cúpula do PT ficou insatisfeita com o desempenho de Lula no primeiro debate dos candidatos à Presidência. Líder nas pesquisas de intenção de voto, Lula decidiu adotar a estratégia defendida por parte de seu entorno de não entrar em embates com o adversário, Jair Bolsonaro.
Perguntar não ofende: Como serão as regras da Globo para o debate com os presidenciáveis?
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