Raquel tem vergonha da política
Ignorando os apelos da classe política, a governadora Raquel Lyra (PSD) passou os dois primeiros anos de sua gestão nomeando apenas técnicos em seu Secretariado. E vem pagando caro por isso. Com um time de ilustres desconhecidos no primeiro escalão – boa parte com experiência anterior circunscrita apenas a Caruaru – a gestão tem sido marcada pelo engessamento.
Marcada também pela falta de traquejo e por derrotas inéditas na Assembleia Legislativa. Não à toa, pesquisas mostram Raquel patinando entre o primeiro e o segundo lugares em desaprovação entre todos os governadores. O tabu foi quebrado somente ontem com a nomeação do deputado Kaio Maniçoba (PP) para a Secretaria de Turismo e Lazer.
Leia maisAlém do PP, que já estava contemplado na gestão, mas não com políticos, o Avante indicou o ex-prefeito de Custódia, Emmanuel Fernandes, como secretário de Desenvolvimento Profissional e Empreendedorismo e Virgílio Oliveira, filho do deputado Waldemar Oliveira, para a Administração Geral de Fernando de Noronha. O deputado Luciano Duque (Solidariedade) também indicou o filho, Miguel Duque (Podemos), para presidir o Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA).
Poderia ser uma virada de chave, mas, nem no momento político mais importante do seu governo, Raquel quis dar as caras. Mostrando sua aversão à classe política, a governadora preferiu passear com os filhos no Canadá e deixar que a vice-governadora Priscila Krause (PSDB) fosse fotografada para a posteridade fazendo aquilo que sempre criticou quando era uma parlamentar de oposição – o loteamento de cargos públicos por indicados políticos, a velha política do toma lá, dá cá.
A aversão de Raquel por políticos tem razões que até as paredes do Palácio do Campo das Princesas sabem. Centralizadora, ela vê em técnicos sem lugar ao sol a chance de fazer prevalecer suas vontades com pouca chance de contestação. Os que não se adaptam ao papel de marionetes, pedem para sair em pouco tempo, como fizeram Silvério Pessoa (Cultura), Evandro Avelar (Mobilidade e Infraestrutura), Carla Cunha (Defesa Social) e Aloísio Ferraz (Desenvolvimento Agrário), ainda em 2023.
VÃO AGUENTAR? – Já com políticos, Raquel sabe que a cantiga é outra. Se não tirar do papel o que foi precificado ao selar a adesão de partidos ao governo, pode perder amanhã o apoio de quem lhe assegura fidelidade hoje. Resta saber como esses novos membros do secretariado vão reagir ao perfil centralizador da governadora. Se nem alguns técnicos tiveram paciência e pediram o boné após poucos meses de trabalho, o que esperar do político que tem para onde voltar se ouvir reprimendas e batidas na mesa?

Juras de amor ou divórcio? – Não é difícil imaginar como pode ser a relação da governadora com seus novos subordinados que povoam o mundo da política. O casamento já começou mal, com a noiva levando falta na hora de fazer juras de amor perante o altar. Em vez do “Felizes para sempre”, o divórcio pode estar mais próximo do que se pensa. É dar tempo ao tempo para saber se os prognósticos dos entendedores da arte de fazer política consultam os búzios certos.
Tem boi na linha – A área técnica do Tribunal de Contas da União pediu que o governo explique o contrato firmado com a OEI (Organização dos Estados Ibero-Americanos), com sede na Espanha, para organizar a COP 30 (Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas) em Belém (PA). Segundo o órgão, há possíveis irregularidades no acordo, que custou R$ 478,3 milhões para o Brasil. A CNN Brasil teve acesso ao documento do TCU, de 18 de março. Nele, o órgão diz que “a falta de informações sobre os critérios que embasaram o valor contratado, aliada à magnitude financeira envolvida, reforça a necessidade de diligência à Unidade Jurisdicionada, para que sejam apresentados esclarecimentos detalhados sobre a composição do valor”.
Promoção pessoal – O Novo enviou, ontem, uma representação ao Tribunal de Contas da União na qual acusa a ministra-chefe da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, de promoção pessoal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em um vídeo institucional do governo federal. Segundo o partido, a ministra violou o princípio da impessoalidade na administração pública ao divulgar um programa do governo que enaltece diretamente o presidente. No vídeo, Gleisi chama o novo programa de crédito consignado de “empréstimo do Lula”.

Greve na saúde em Arcoverde – O prefeito de Arcoverde, Zeca Cavalcanti (Podemos), enfrenta a primeira greve de servidores com menos de três meses de gestão numa área preocupante – a saúde. A proposta apresentada por ele foi classificada como “imoral” pelo odontologista e sindicalista Marcos Rabelo, que criticou a decisão do prefeito de realizar cortes na saúde para beneficiar outras áreas. Segundo ele, a proposta da Prefeitura não atende às necessidades da categoria, que desempenha um serviço essencial para a população. O bicho vai pegar!
CURTAS
FORA DO JOGO – João Campos disse a aliados que não vai entrar no jogo de loteamento de cargos iniciado pela governadora Raquel Lyra, com vistas a se fortalecer na disputa para o Governo em 2026. “O confronto será de gestão”, disse um vereador, adiantando que a preocupação do prefeito é manter o ritmo de obras na cidade, principalmente nas áreas mais carentes.
SEMINÁRIOS – Já na condição de quase presidente nacional do PSB, João Campos participa, a partir de hoje no Recife, de uma série de encontros regionais da legenda, que culminarão no próximo domingo com o do Sertão do Pajeú, em Afogados da Ingazeira, provavelmente o maior do interior.
NÃO ACOMPANHA – Único vereador eleito pelo Avante no Recife, Alcides Teixeira Neto está propenso a não seguir o partido na decisão de se aliar à governadora Raquel Lyra. Ele teria uma conversa com o prefeito João Campos, ontem, a quem comunicaria sua permanência na base.
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