Sivaldo preferiu ser temido
No princípio básico da política ensinada por Maquiavel em “O Príncipe”, é melhor ser amado que temido, ou o contrário? Resposta difícil, mas o certo seria ser as duas coisas. No entanto, é quase impossível uma única pessoa reunir as qualidades para provocar esses dois sentimentos ao mesmo tempo.
Para o prefeito de Garanhuns, Sivaldo Albino (PSB), é melhor ser temido do que amado. Por isso, ele anunciou, em vídeo postado nas redes sociais, que o Festival de Inverno de Garanhuns (FIG) do próximo ano, em razão do retumbante fracasso da versão que se encerrou ontem, resultado da interferência do Governo do Estado, ficará sob o controle absoluto do Poder Municipal.
Leia maisImediatamente, a governadora Raquel Lyra (PSDB), que foi ao evento no primeiro dia e sofreu uma humilhante e grosseira hostilidade, com palavrões impublicáveis, reagiu. Não só confirmou que o FIG é propriedade do Estado, como já anunciou a data da promoção em 2024: de 18 a 28 de julho. “Só esqueceram de combinar comigo”, reagiu Sivaldo, deixando florir seu sentimento do conselho de príncipe temido, das admoestações de Maquiavel.
O FIG, na verdade, não é de Sivaldo nem de Raquel. É do povo de Garanhuns, que sedia o evento. É patrimônio de Pernambuco, incluído no calendário turístico do Estado, já em sua 33ª versão. As pessoas hesitam menos em ofender aqueles que amam do que aqueles que temem. Sivaldo, ao mostrar a sua face para ser temido, retirou de si o temor conservado pelo medo da perda e do castigo, presentes na maioria dos prefeitos que temem enfrentar a governadora.
As armas da guerra – Alijado do FIG deste ano, Sivaldo Albino declarou guerra ao Governo do Estado. Sua fala, entretanto, foi entendida como uma espécie de guerra contra um sentimento de perda do município encarnado pela população. Exigiu respeito, assumindo uma postura mais firme, segura e confiante. Agiu determinado a reafirmar sua autoridade máxima no município, delegada pelo povo de Garanhuns. Quando alguém acredita no que faz, como ele, essa simples crença pode mudar tudo.
O dono do cofre – Majoritário em Garanhuns, o deputado Felipe Carreras, líder do PSB na Câmara dos Deputados, teve forte influência para levar Sivaldo a declarar independência do Governo em relação ao FIG. Parlamentar influente, ele pode garantir os recursos federais necessários para bancar o evento, até então custeado pelo Estado. Segundo a Secretaria de Cultura, o Festival custou R$ 15 milhões neste ano.
Um mês de FIG – Se não houver entendimento até lá entre Sivaldo e Raquel, Garanhuns poderá sair “lucrando” com essa guerra pelo controle do Festival de Inverno, ganhando dois eventos, um do Estado, já com data marcada, e outro da Prefeitura, em período ainda a ser definido pelo prefeito. Quem vai sair lucrando é o comércio, especialmente bares, restaurantes e a rede hoteleira. Garanhuns poderá ter o mês de julho inteiro para aproveitar o FIG.
O bobo da corte – Na organização do FIG deste ano, o Governo do Estado excluiu a Prefeitura de Garanhuns de toda preparação do evento, inclusive na escolha da grade de artistas, ponto mais reclamado por quem se deslocou para viver a intensidade do Festival, tomar chocolate quente no frio e relaxar. Na virada da página, entretanto, terá que responder a questionamentos de irregularidades na contratação de artistas diante do Ministério Público. O primeiro a depor será o ex-secretário de Cultura, Silvério Pessoa, que sai nessa história como o bobo da corte.
PE com mais um Ministério – A semana começa, hoje, com um encontro entre o presidente Lula e o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), no qual será batido o martelo em cima da minirreforma ministerial. É provável que o pernambucano Silvio Costa Filho, deputado federal pelo Republicanos, encerre a semana como ministro do Esporte. Se for confirmado, Pernambuco passa a ter quatro gabinetes na Esplanada dos Ministérios – os demais são José Múcio (Defesa), Luciana Santos (Ciência e Tecnologia) e André de Paula (Pesca).
CURTAS
A FATIA DO PT – Há um zunzum nos bastidores de que a nova secretária de Desenvolvimento Agrário, Ellen Viégas, tenha sido a primeira indicação do PT acolhida pela governadora Raquel Lyra (PSDB), por meio do senador Humberto Costa.
E AGORA, DANIEL? – Se isso se confirmar, o PT terá dado o primeiro passo para lançar candidato próprio à Prefeitura do Recife numa aliança inédita com o PSDB. O que dirá Daniel Coelho, que já ensaia sua candidatura à sucessão de João Campos?
Perguntar não ofende: Sivaldo declarou a independência da República de Garanhuns?
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