A volta de Bolsonaro
Brasília vive, desde ontem, a expectativa do retorno do ex-presidente Jair Bolsonaro ao Brasil. Depois de três meses nos Estados Unidos, para onde embarcou após a derrota para Lula em segundo turno, pisa o solo brasileiro disposto a assumir o papel de líder da oposição. Segundo aliados, Bolsonaro prepara uma estratégia para mostrar que ainda é o principal antagonista do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A data para o seu retorno foi planejada sob medida, às vésperas de Lula completar três meses de governo, num momento em que o petista enfrenta uma situação difícil na política e na economia. Bolsonaro embarcou para Orlando (EUA) em 30 de dezembro do ano passado, sem passar a faixa a Lula e alimentando suspeitas infundadas sobre a legitimidade das eleições. Bolsonaro queria ser recebido com festa no aeroporto e sair em carro aberto pela Esplanada dos Ministérios.
Leia maisMas a Secretaria de Segurança do Distrito Federal e a Polícia Federal montaram esquema especial de policiamento para a volta dele, pelo qual impedirá que use o saguão principal do aeroporto. A instituição alega que precisa preservar a segurança do local. Também não pretende permitir que o ex-presidente faça desfile em carro aberto. O secretário de Segurança do DF, Sandro Avelar, sustentou que ações do tipo infringem o código de trânsito e não serão permitidas pelo Detran.
O diretor da PF Cezar Luiz Busto afirmou que a orientação vigente na corporação até o momento é de que Bolsonaro faça o desembarque por uma área restrita do Aeroporto Juscelino Kubitschek para evitar que apoiadores se aglomerem no saguão. “O determinado por enquanto é que não sairá pelo saguão. Nós decidimos em reunião que não é viável o seu desembarque pelo saguão normal”, disse.
Sem aglomeração – A PF também não deve permitir o acesso de parlamentares ligados a Bolsonaro na área restrita do aeroporto. Circula entre deputados e senadores bolsonaristas a versão de que deverão recepcionar o ex-presidente logo após o desembarque. Eles também têm estimulado que apoiadores compareçam ao aeroporto para garantir que a chegada de Bolsonaro ganhe aspectos de grandiosidade. O governo do DF, contudo, tem feito apelos para que os apoiadores de Bolsonaro não se aglomerem nos arredores do aeroporto.
Inspeção de malas – A Secretaria de Segurança Pública montou uma megaestrutura de monitoramento do trânsito e deve contar com um efetivo reforçado de policiais militares e agentes do Departamento de Trânsito para garantir o deslocamento de Bolsonaro, que deve ser feito do aeroporto até a sede do Partido Liberal, no centro de Brasília. Ao desembarcar de seu voo comercial vindo dos Estados Unidos, Jair Bolsonaro será submetido ao procedimento convencional de inspeção das malas pela Alfândega e deverá apresentar recibos de eventuais compras à Receita Federal.
Movimentação estranha – O superintendente da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Igor Ramos, disse que a Agência Nacional de Transporte Terrestre (ANTT) identificou a movimentação atípica de ônibus de viagem em Brasília nos últimos dias, mas disse não poder compartilhar os dados levantados. A Secretaria de Segurança do DF descarta, por ora, realizar revistas dos apoiadores de Bolsonaro nos pontos de controle ao longo do trajeto de deslocamento.
Michele, concorrente? – O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, afirmou que tanto Bolsonaro como a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro vão trabalhar agora com o objetivo de fortalecer o partido para as disputas municipais de 2024, antessala da eleição presidencial de 2026. No ano passado, o PL conquistou a maior bancada na Câmara, com 99 deputados. A legenda conta, ainda, com 12 senadores e um fundo partidário de R$ 205 milhões. A ideia é que Bolsonaro e Michelle comecem a viajar pelo País no segundo semestre, mas não juntos.
Trio pernambucano – Um dos organizadores da mega recepção a Bolsonaro, hoje, em Brasília, é o ex-ministro Gilson Machado, que disputou o Senado nas eleições passadas em Pernambuco. Ao seu lado, dois auxiliares de peso: o deputado federal Coronel Meira e o deputado estadual Alberto Feitosa, este chegou a Brasília ontem no final da tarde apenas com a intenção de integrar o grupo de linha de frente nas boas-vindas ao ex-presidente. É possível que Gilson toque sua sanfona ao lado de outros artistas no saguão do aeroporto.
CURTAS
TEMERIDADE – Apesar do clima de “festa” no PL, aliados do ex-presidente temem que antigos amigos de Bolsonaro, como o ex-ministro da Justiça Anderson Torres, façam delação premiada. Torres está preso há dois meses e meio. Recentemente, ele prestou depoimento ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em uma ação que pode tornar Bolsonaro inelegível por causa dos ataques às urnas eletrônicas.
MINUTA – Nos bastidores, integrantes do governo Lula avaliam que a situação de Torres é complicada. A Polícia Federal achou na casa dele, após os atos que depredaram os prédios do Palácio do Planalto, do Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF), em 8 de janeiro, um documento batizado como “minuta do golpe”.
Perguntar não ofende: Bolsonaro usará ou não carro aberto na chegada hoje a Brasília?
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