O que as próximas gerações saberão sobre Jair Bolsonaro
Por Larissa Rodrigues
Repórter do blog
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) já havia entrado para a história do Brasil de uma forma que poucos teriam orgulho. Foi ele o chefe do Poder Executivo que poderia ter sido o primeiro no mundo a vacinar seu povo no meio da maior crise sanitária do século 21, a pandemia da Covid-19, mas se deixou levar pelo negacionismo.
Naquele momento, inclusive, ao fazer essa escolha, o capitão perdeu a maior oportunidade da sua trajetória política. Teria figurado como herói nos registros posteriores, caso tivesse protegido sua nação.
Nem ele nem seu entorno tiveram competências suficientes para enxergar as obviedades escancaradas durante a pandemia. É num momento difícil como aquele que o verdadeiro líder mostra seu tamanho. Sendo, de fato, um líder preparado, duplica sua força. Sendo Bolsonaro, que optou por zombar dos doentes e dos mortos, acaba atestando seu caráter juvenil (para dizer o mínimo).
Leia maisÀ frente de uma população assustada, cheia de dúvidas e em lágrimas, Jair Bolsonaro disse que não era coveiro e que o Brasil precisava “deixar de ser um país de maricas”, garantindo que seu nome entrasse dessa forma para a posteridade.
Outro episódio, até então inédito, assegurou ao capitão mais um lugar desagradável na história brasileira: Jair Bolsonaro foi o primeiro presidente que não conseguiu a reeleição no país, quando perdeu a disputa para Lula (PT), em 2022. Desde que a reeleição passou a ser permitida no Brasil, em 1997, todos os presidentes da República que tentaram renovar os mandatos foram reconduzidos ao cargo.
Agora, aquele que por vezes foi chamado de mito pelos seus admiradores conquistou mais um espaço nos livros, sustentando sua posição pioneira quando se trata de fracassos acumulados por chefes de Estado: entrou para a história como o primeiro presidente da República do Brasil a se tornar réu em uma investigação por tentativa de golpe.
O homem que se apresentou ao povo como opção contra a esquerda, defensor dos valores morais da pátria e do que ele entende por família vai caminhando para encerrar sua participação na política de forma melancólica, resultado de suas escolhas, ao ignorar a ciência, as leis, a democracia, a razão e o bom senso. Para as próximas gerações, ficará a imagem de alguém que jamais soube o tamanho da cadeira na qual sentou, tampouco o valor e a força das instituições brasileiras.
CONTINUA IGNORANDO A REALIDADE – O mais impressionante nos suspiros finais da carreira política de Jair Bolsonaro é a capacidade que ele tem de continuar ignorando a verdade, como se vivesse em uma realidade paralela. Diante de todas as informações que levaram o Supremo Tribunal Federal (STF) a receber a denúncia contra Bolsonaro e mais sete aliados por tentativa de golpe de Estado, após uma robusta investigação da Polícia Federal (PF), o ex-presidente continua com a mesma narrativa mentirosa, afirmando que as acusações contra ele são “graves e infundadas”.

É inacreditável – “Golpe tem povo, tem tropa, tem armas e tem liderança. Não descobriram, até agora, quem porventura seria esse líder”, afirmou Bolsonaro, instantes depois de se tornar réu no Supremo Tribunal Federal (STF). É inacreditável que, a essa altura, o ex-presidente ainda creia que alguém fora de sua bolha lunática compre essa narrativa. Nem ele mesmo deve acreditar nas próprias palavras, mas as profere como se não lhe restasse outra opção a não ser negar até o fim.
Até Trump reconheceu – O dia de ontem (26) foi difícil para ser um bolsonarista. Até o outro mito da bolha de seguidores do capitão provocou uma derrota pública para o grupo. O ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou, na última terça-feira (25), um decreto que prevê mudanças no sistema eleitoral do país. O documento cita o Brasil como um bom exemplo de segurança nas eleições, no caso da aplicação da biometria. A medida explodiu nas redes sociais, ontem.
Ginástica argumentativa – O elogio de Donald Trump ao sistema eleitoral brasileiro caiu como uma bomba entre os seguidores de Bolsonaro. A ordem no grupo político do mito é para que influenciadores ligados a ele ocupem as redes sociais para desmentir. Eles não podem acusar Trump de ter errado ou mentido, então a solução é dizer que Trump elogiou apenas a identificação biométrica dos eleitores, mas não o sistema de voto eletrônico. O difícil vai ser explicar por qual motivo uma Justiça Eleitoral cria um sistema para evitar fraudes na identificação dos eleitores, mas o objetivo seria fraudar o resultado das eleições.

Repercussão internacional – A decisão da Primeira Turma do STF de tornar réus o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outros sete aliados por participação na trama golpista repercutiu na imprensa internacional. O caso foi noticiado por jornais estrangeiros, que deram destaque ao papel do ex-mandatário na tentativa de golpe e na classificação de Bolsonaro como um nome da extrema direita que não teria aceitado a derrota nas eleições de 2022. O jornal americano The New York Times afirmou que a investigação revelou “quão perto o Brasil chegou de retornar para uma ditadura militar em quase quatro décadas como uma democracia moderna”. As informações são do jornal O Globo.
CURTAS
Busca por investimentos – O presidente em exercício e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin (PSB), se reúne, nesta quinta-feira (27), às 15h, em Brasília, com secretários estaduais de Desenvolvimento Econômico. O encontro terá como tema principal a atração de investimentos ao país e como os Estados da federação desempenham papel fundamental nesse processo.
Nova integrante da gestão de Raquel – A nova secretária de Esportes de Pernambuco, Ivete Lacerda, tomará posse no cargo nesta quinta-feira (27). A cerimônia será comandada pela governadora em exercício, Priscila Krause (PSDB), a partir das 17h, no Palácio do Campo das Princesas. Ivete é diretora da Agência de Empreendedorismo de Pernambuco (AGE) e chega ao primeiro escalão do Governo por indicação do deputado federal Mendonça Filho (UB).
Mudança de perfil – O novo presidente do Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA), Miguel Duque (Podemos), avaliou como positiva a mudança de perfil no comando dos órgãos e das pastas do Turismo e Empreendedorismo da gestão Raquel Lyra (PSD). Em entrevista à Rádio Folha FM, ontem, ele disse que não se pode atribuir um caráter negativo à troca de pessoas técnicas por políticos no comando de áreas do Governo. “É preciso sensibilidade política para ouvir as pessoas e fazer o governo servir a quem mais precisa. A gente vai ter todo esse carinho com a política por conhecer como funciona. Essa parceria é necessária.”
Perguntar não ofende: quando os aliados de Bolsonaro começam a pular do barco e recalcular a rota?
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