A maior e mais vergonhosa sinecura do País
Em um movimento político explícito e sem disfarces, a governadora Raquel Lyra (PSDB) nomeou, ontem, com uma só canetada, 22 ex-prefeitos como assessores especiais da Casa Civil. Na prática, o maior trem da alegria da história entre todos os chefes de Estado que já bateram ponto no Palácio do Campo das Princesas. Nem na ditadura, quando os favorecimentos e os privilégios eram tão usuais, nunca se viu nada igual.
Trata-se da maior e mais escancarada sinecura (emprego bem remunerado sem precisar bater ponto) do País. Quem vai pagar a conta, claro, é o contribuinte pernambucano. A farra vai representar R$ 168 mil por mês aos cofres públicos e, até 2026, ultrapassará a bagatela em torno de R$ 4 milhões. Raquel adoçou as bocas dos ex-prefeitos sem nenhum critério. Até quem apoiou candidatos rejeitados pelo eleitorado nas eleições do ano passado ganhou uma “boquinha”.
Leia maisComo é o caso, por exemplo, do ex-prefeito de Araripina, Raimundo Pimentel (Podemos), cujo grupo político sofreu uma acachapante derrota nas eleições municipais para o prefeito Evilásio Mateus (PDT), seu ex-vice-prefeito, com quem rompeu para apoiar a candidatura da vereadora Camila Modesto (Podemos). Também entre os “escolhidos a dedo”, o ex-prefeito de Águas Belas, Luiz Aroldo, do PT, certamente na tentativa de agradar uma corrente petista.
Com isso, Raquel reforça a estratégia da tucana de ampliar sua base política visando a reeleição, mas, em contrapartida, expõe o distanciamento entre as promessas de uma gestão técnica e ética com a realidade de um governo que vem tropeçando nas ações e na avaliação da opinião pública. No desespero, passa a impressão de que recorreu ao mais nefasto e repugnante fisiologismo para garantir apoios à sua reeleição.
A lista de beneficiados contempla ainda o Professor Lupércio (PSD), ex-prefeito de Olinda, e Nadegi Queiroz, ex-prefeita de Camaragibe, que se mantêm no poder porque elegeram aliados. Nadegi, especialmente, elegeu uma filha vereadora do Recife, já tendo um filho deputado estadual. Entre os que fracassaram como cabos eleitorais, a ex-prefeita de Ipojuca, Célia Sales (PP). O peso eleitoral de cada um, ao que tudo indica, vale, naturalmente, mais do que qualquer critério técnico.
Entre os nomeados, nove ex-prefeitos assumem como assessores especiais de relações institucionais, oito ficam com a articulação e acompanhamento, e cinco alocados na coordenação estratégica. No entanto, a despesa gerada não é pequena. Se a governadora mantiver essa estrutura até o final do mandato, o custo total ultrapassará R$ 4 milhões, valor que ajudaria muito a melhorar a estrutura dos hospitais estaduais, que agonizam.
ADEPTA DO LOTEAMENTO – A decisão ocorre no momento em que a gestão enfrenta uma onda de críticas pela falta de investimentos estratégicos, falta de entregas à população nas mais diversas áreas e pela crise instalada na Educação, onde não há sequer um secretário titular no comando. Além disso, a governadora precisa lidar com questionamentos sobre a real efetividade desses cargos, que, na prática, servem apenas para acomodar aliados e garantir suporte político nos municípios. A ofensiva dela contrasta com o discurso que adotou ao longo da campanha e nos primeiros meses de Governo. Raquel prometeu uma gestão técnica, baseada na meritocracia, mas, na prática, segue o velho modelo de loteamento de cargos para aliados. O mais curioso é que, enquanto reforça o palanque, a tucana se mantém distante das demandas mais urgentes da população.

Candidato consensual – Um dos mais importantes instrumentos para ações conjuntas entre gestores municipais do Estado, o Consórcio Dom Mariano (Condomar), que reúne municípios importantes, como Pesqueira, no Agreste, e Arcoverde, no Sertão, está com eleição para renovação da sua diretoria marcada para a próxima segunda-feira. O nome natural para presidente é o do prefeito de Sanharó, César Freitas (PCdoB). Mas ele não quer saber de disputa. “Só serei candidato se houver consenso em torno do meu nome”, avisou.
Duelo de gigantes – Diferente do Condomar, o Coniape, consórcio que agrega 34 prefeitos das mais diversas regiões do Estado, também realiza eleição na próxima segunda-feira, mas num clima de disputa acirrada. Presidente, o prefeito de São Caetano, Josafá Almeida (UB), bate chapa com o prefeito de Surubim, Cléber Chaparral, que conta com o apoio amplo e irrestrito da governadora Raquel Lyra (PSDB).
Tucana com Josafá – Embora tucana, a prefeita de Tacaimbó, Joelda Pereira, disse, ontem, ao blog, que na eleição para presidente do Coniape votará pela reeleição do presidente Josafá Almeida e não no candidato palaciano Cleber Chaparral. “Voto em Josafá porque ele foi o primeiro a pedir o meu voto e sou uma pessoa que quando dá a palavra não volta atrás”, afirmou. A Casa Civil montou um QG no Palácio das Princesas para pressionar o voto em Chaparral, mas Joelda nega que tenha sido sondada sobre eleição no Coniape. “Desconheço qualquer pedido nesse sentido”, observou.

Prefeito e vereadores garantem reajustes – Escalado pelo presidente da Câmara de Arcoverde, Luciano Pacheco (MDB), o advogado João Batista Rodrigues, ex-prefeito de Triunfo, derrubou, ontem, no pleno do Tribunal de Contas do Estado, a cautelar que suspendia o reajuste dos subsídios dos vereadores do município e do salário do prefeito, Zeca Cavalcanti (Podemos). Com isso, o subsídio dos parlamentares municipais passa para R$ 13.909,00 e o salário do prefeito sai de R$ 18 mil para R$ 30 mil. O TCE entendeu que ambos os reajustes foram aprovados pela Câmara dentro do prazo legal e de uma legislatura para outra, conforme diz a lei.
CURTAS
SEMENTE ZERO – Pelo menos no Agreste, onde as chuvas chegaram com intensidade, as sementes para plantio, historicamente distribuídas pelo Estado, através do IPA, não chegaram aos pequenos produtores e agricultores. “Aqui, não chegou uma semente”, diz o prefeito de Sanharó, César Freitas (PCdoB), informação ratificada também pela prefeita de Tacaimbó, Joelda Pereira (PSDB).
DÉFICIT DE AUDITORES – Dos 634 auditores fiscais ativos na Secretaria da Fazenda, 282 estão em abono de permanência, aptos a se aposentar a qualquer momento, o que equivale a 50% do efetivo, segundo o presidente do Fenafisco e do Sindifisco, Francelino Valença.
SÓ 70 NOMEADOS – Valença alerta ainda que após 20 anos, apenas 70 auditores foram nomeados, sendo 50 do concurso de 2014 e 20 do certamente de 2022. “O restante do quadro é composto majoritariamente por servidores de concursos realizados em 1992 ou antes”, diz o representante dos auditores do Estado.
Perguntar não ofende: Governadora, é verdade que vem por aí um novo trem da alegria de ex-prefeitos?
Leia menos