Rasteira ou acerto para salvar Bolsonaro?
Ninguém sabe ao certo se a decisão do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), de cancelar a tramitação do projeto de anistia política na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), ao mesmo tempo em que criou uma comissão especial para analisar a matéria, tem por trás um acordo para beneficiar o ex-presidente Bolsonaro ou se sepulta suas chances de readquirir seus direitos políticos.
Se por um lado a reviravolta agradou opositores da anistia, pela tramitação mais demorada e até com mais chances de ser inviabilizada, nos bastidores ela envolve também outros interesses. Em visita de surpresa ao Senado, Bolsonaro deixou claro que a atitude de Lira foi previamente discutida com ele e com aliados e que traz nas entrelinhas a forte possibilidade de, nessa comissão, ser acrescentada emenda para que se livre de sua inelegibilidade e possa disputar a Presidência da República, em 2026.
Leia mais“Tem certos acordos, não vou enganar vocês, que a gente faz no tête-à-tête, não tem nada escrito, nem passa para fora. (…) A gente conversa, poxa, na mesa [de negociação] é igual namoro, você conversa tudo, vou casar: vai ter filho, não vai ter filho, vai morar onde, o que você tem, o que você não tem”, disse Bolsonaro ao ser questionado se a sua própria anistia foi colocada à mesa como condição para o apoio do PL a Motta na Câmara e a Davi Alcolumbre (União Brasil) para presidir o Senado.
A medida de Lira foi elogiada também pelos presidentes do PL, Valdemar Costa Neto, e do PP, Ciro Nogueira, ex-articulador e ainda um dos principais aliados de Bolsonaro. O PL fez, ontem, um encontro das suas bancadas na Câmara e no Senado e, segundo Bolsonaro, a tendência é declarar apoio a Hugo Motta (Republicanos (PB), candidato a presidente da Câmara e a Davi Alcolumbre, candidato a presidente do Senado (UB-AP).
IRRITAÇÃO DE LIRA – Antes de anunciar a criação de uma comissão especial para discutir o Projeto de Lei que anistia investigados pelo 8 de Janeiro – e, claro, retirá-lo da pauta da Comissão de Constituição e Justiça –, Arthur Lira (PP-AL) fez questão de reclamar com aliados sobre a associação do tema à sucessão dele à presidência da Câmara. Criticou, inclusive, as declarações de Valdemar Costa Neto, aliado de primeira hora e que apoiará Hugo Motta (Republicanos), candidato de Lira, na sucessão à presidência.
Valdemar quer anistiar o ex-presidente – Na semana passada, Lira conversou com Valdemar. O presidente do PL queria que fosse incluída uma emenda ao projeto que tramitava na CCJ liberando o ex-presidente a participar das próximas eleições e que essa proposta fosse votada até dezembro, ainda na gestão Lira. Mas o presidente da Câmara pediu que Valdemar não fizesse associações a fim de não contaminar a sucessão na Câmara. Lira enfatizou: “O tema deve ser debatido pela Casa, mas não pode jamais, pela sua complexidade, se converter em devido elemento de disputa política, especialmente no contexto das eleições futuras da Mesa Diretora da Câmara”.
O nu no Planalto – A segurança do Palácio do Planalto barrou, ontem, uma mulher que tentava entrar no Palácio do Planalto, sem roupas, para ser ouvida por Lula e Geraldo Alckmin. O movimento se deu enquanto o vice-presidente estava no prédio, prestes a participar de um evento sobre indústrias e sustentabilidade. Em imagens feitas no local, a pessoa aparece vestindo apenas sandálias. A mulher chegou vestida ao balcão da recepção do Planalto, onde costumam ser recebidos os visitantes da sede do Executivo. Despiu-se na sequência. Em vídeos gravados por participantes do evento, apareceu questionando: “Isso é pro Lula fazer isso comigo e com a minha família?”.
Surto de loucura – A Secom (Secretaria de Comunicação da Presidência da República), informou que o episódio se tratou de um surto psicótico. Pessoas que assistiram às cenas avaliaram que as falas da mulher eram desconexas e pouco objetivas. Depois de contida pela segurança, foi a ala médica que a atendeu. Na sequência, uma ambulância a encaminhou para o Hospital de Base do Distrito Federal.
Nunes quer tirar o MDB de Lula – O prefeito reeleito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), adiantou que irá trabalhar internamente no MDB para que a legenda não apoie o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em uma eventual candidatura à presidência em 2026. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, ele disse ainda que já conversou com o prefeito reeleito de Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB), sobre o movimento, mesmo com o partido ocupando três ministérios no governo petista. Ele ainda revelou ter esperado uma conversa de Simone Tebet em 2022, antes dela anunciar o apoio a Lula, então candidato à Presidência.
CURTAS
SEM AVAL – A Procuradoria-Geral da República (PGR) avalia recorrer da decisão do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que anulou duas condenações impostas pela Lava-Jato ao ex-ministro José Dirceu (PT-SP). A decisão de Gilmar foi tomada na última segunda-feira.
SEGUNDA TURMA – Caso seja apresentado, o eventual recurso será apreciado pela Segunda Turma do STF, colegiado que declarou a suspeição do ex-juiz Sérgio Moro, autor das sentenças contra Dirceu. Além de Gilmar, a turma hoje conta com os ministros Edson Fachin, Dias Toffoli, André Mendonça e Nunes Marques.
VISÃO DO PROCURADOR – O posicionamento contrário à anulação das condenações impostas a Dirceu já foi externado pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, em manifestação no processo. Para o chefe do Ministério Público Federal (MPF), a solicitação de Dirceu não atendeu a requisitos específicos – logo, ele não poderia ser alcançado pela extensão de decisão que beneficiou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) também na Lava Jato.
Perguntar não ofende: Com a postergação da anistia de Bolsonaro, o PL lança candidato à Presidência da Câmara?
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