Salas superlotadas e mulheres com crianças de colo acomodadas em macas nos corredores e até no bloco cirúrgico. Essa foi a situação encontrada, na sexta (17), pelo Conselho Regional de Enfermagem de Pernambuco (Coren) durante inspeção no Centro de Saúde Amaury Medeiros (Cisam), no bairro da Encruzilhada, Zona Norte do Recife.
Segundo a chefe do Departamento de Fiscalização do Coren-PE, Ivana Andrade, a unidade, que é referência na assistência a gestações de alto risco no estado, tem, atualmente, 138 mulheres internadas, embora só tenha capacidade para atender 101 pacientes. As informações são do G1/PE.
Leia maisAinda de acordo com ela, a superlotação compromete, inclusive, outros serviços oferecidos pelo hospital. Entre eles, a sala de atendimento a mulheres vítimas de violência, que foi desativada para acomodar pacientes em internamento.
“A gravidade maior é nas urgências e nas salas de parto. Cada uma só comporta dez pessoas, mas tinha 22. Por isso, duas das quatro salas de parto estão desativadas. Também há mulheres nos corredores, acomodadas em macas e até em cadeiras de rodas”, contou Ivana.
Outros setores ocupados de forma inadequada, segundo informou a chefe do Departamento de Fiscalização do Coren, são a sala de recuperação e o bloco cirúrgico.
“As mulheres, quando saem do bloco cirúrgico, ficam nessa sala aguardando o internamento. Mas, como não tem vaga no internamento, elas ficam ocupando espaço na sala de recuperação. E isso faz com que cirurgias eletivas sejam canceladas”, relatou.
Ivana disse ainda que a grande quantidade de gente na maternidade também prejudica a acomodação dos familiares que prestam apoio às pacientes. “Toda mulher tem direito a um acompanhante, mas, como não o Cisam não oferece estrutura, elas não têm esse direito”, afirmou.
Déficit de profissionais
Outro problema constatado pelo Coren-PE é o déficit de profissionais. Segundo Ivana Andrade, na última inspeção realizada pelo órgão na unidade, no primeiro semestre de 2022, o Conselho registrou uma falta de 134 enfermeiros e 130 técnicos de enfermagem.
“Na época, eles disseram ter 102 enfermeiros e 325 técnicos. Pedimos a informação do quadro atual, mas a direção da unidade não sabia dizer e ficou de enviar esses dados no prazo de 15 dias”, informou Ivana.
Por essa razão, o Coren disse que vai entrar com uma ação civil pública contra o governo do estado para pedir que mais profissionais sejam contratados.
“Quanto à superlotação, nós sempre encaminhamos nossos relatórios ao Ministério Público para encontrar alguma solução, mas nunca tivemos resposta”, afirmou.
O que dizem as instituições
Por meio de nota, a Universidade de Pernambuco – instituição à qual a unidade é vinculada – informou que o Cisam recebe pacientes por encaminhamentos da Central de Regulação de Leitos e por demanda espontânea.
No entanto, segundo a universidade, quando há superlotação, não deixa de realizar os atendimentos.
A instituição disse ainda que está construindo um Centro de Parto Normal, com cinco leitos e uma Casa da Gestante, Bebê e Puérpera, com mais 20 leitos, para oferecer mais conforto e segurança às pacientes.
“É importante ressaltar que, mesmo em estado de superlotação, o CISAM/UPE tem ofertado um serviço de saúde pública especializado, resguardando a vida, saúde e dignidade reprodutiva de todas as pessoas que buscam a instituição”, disse a UPE.
Já o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) informou, também por nota, que existe um procedimento administrativo instaurado na 11ª Promotoria de Justiça de Defesa da Cidadania da Capital sobre a situação de superlotação no Cisam.
O MPPE disse ainda que o processo foi iniciado a partir de denúncias anônimas e do Sindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe) e que marcou uma audiência para o dia 28 de março.
Segundo o órgão, foram convocados representantes das secretarias de Administração e da Saúde, da UPE e da direção do Cisam.
Histórico
Não é a primeira vez que cenas de superlotação são flagradas no Cisam. Em 2016, vídeos enviados à TV Globo mostraram mulheres e crianças sendo atendidas nos corredores do hospital. Além disso, sofás, cadeiras e até consultórios médicos viraram leitos.
A falta de profissionais também foi constatada na época. Segundo a gestão da unidade, faltavam 144 técnicos de enfermagem e 7 obstetras na escala.
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