Desde que botei o pé em Brasília, nos anos 80, como jornalista, uma larga avenida se abriu à minha frente. Viajar virou uma rotina. Atuando em diversos jornais, estive nos Estados Unidos, boa parte da Europa e em quase todos os países da América do Sul. No Brasil, conheço todas as capitais.
Não esqueço da experiência pelo jornal O Globo, no Norte, como repórter itinerante do Acre a Manaus. Já escapei da morte em pousos de emergência no Mato Grosso do Sul, quando fui fazer uma reportagem especial sobre o Pantanal. Antes da internet, do mundo globalizado, repórter vivia nas ruas.
Leia maisVirei cidadão do mundo, graças a Deus. Mas nos últimos anos passei a viver uma outra experiência: regressar às origens. Tenho com minha Nayla uma choupana em Arcoverde, a 250 km do Recife. No regresso, a oportunidade de curtir a natureza, a lua que se abre sobre a janela. Os pássaros me acordam em sinfonia de Beethoven. A coruja rasga o seu grito infernal sobre o telhado como uma assombração.
Passo pelo menos três dias em Arcoverde, porque tenho compromissos em Brasília e no Recife. Mas um tempo suficiente para relaxar com minha Nayla, fazer novos amigos e curtir o tempo da vida passando lentamente. Não sou uma andorinha solitária nesse êxodo ao inverso, dos grandes centros urbanos para os grotões.
Cada vez mais pessoas estão a optar por morar no interior, fugindo do caos das grandes cidades em busca de uma melhor qualidade de vida, tranquilidade e segurança, impulsionadas também pela flexibilidade do trabalho remoto (home office) que permite viver longe dos centros urbanos. As principais razões incluem um custo de vida mais baixo, menos trânsito e poluição.
Antes, era comum que muitas pessoas sonhassem em morar nas capitais. Agora, cada vez mais famílias escolhem viver em cidades do interior e escolhem a localidade de acordo com a necessidade de uma melhor qualidade de vida. Só no Rio de Janeiro, pesquisa da ‘ONG Rio Como Vamos’, mostra que 56% dos cariocas gostariam de mudar de município.
Antes, muitas pessoas sonhavam com um bom emprego nas capitais, mas a tendência é de inversão desse fluxo. Cada vez mais empresários investem em cidades menores a fim de terem a família mais próxima e, com isso, novos postos de trabalho são criados. Outro incentivador para os moradores de municípios pequenos é o home office, em que se pode escolher onde viver e produzir remotamente.
Também tem a vantagem de manter maior contato com a natureza e um ambiente mais calmo e seguro. No interior, a vida é mais serena e menos estressante, longe do barulho e do ritmo acelerado das grandes metrópoles. O custo de vida é mais baixo, com imóveis mais acessíveis e menor custo com alimentação, o que permite que as pessoas poupem dinheiro.
As cidades do interior costumam ter um menor índice de criminalidade, o que contribui para uma sensação de maior segurança e paz para os moradores. A ausência de tráfego intenso e a menor poluição sonora e do ar são grandes vantagens para quem procura um ambiente mais saudável. Como gosto da natureza, há mais acesso a áreas verdes e a um ambiente mais próximo da natureza, algo que falta nas grandes cidades.
A ascensão do home office transformou a possibilidade de morar longe dos grandes centros, permitindo que as pessoas trabalhem para empresas localizadas em outras cidades sem precisar se mudar para a capital. A internet me proporciona a indiscutível vantagem e o conforto de trabalhar de qualquer lugar.
Há desvantagens que não se pode ignorar ou torcer o nariz. As estradas são mais precárias, muitas inadequadas ou com dificuldades de acesso. Mas, por outro lado, compensações: acordar com o canto dos pássaros, sentir o cheiro do mato e poder andar pelas ruas sem pressa é algo que me faz feliz os dias que estou em minha Arcoverde.
Compreendi neste regresso que ser da roça é ter a terra como cúmplice, o céu como testemunha e o orgulho de pertencer a um lugar onde a paz tem morada certa. Em minha Arcoverde, há roça, o sol é meu despertador e a lua minha TV.
Aqui, a vida tem outro ritmo. As pessoas se cumprimentam, a comida tem um sabor especial e as noites são tranquilas, iluminadas pelo céu estrelado. O relacionamento com outros moradores é mais tranquilo e respeitoso, algo típico de cidade do interior. É um orgulho viver cercado de simplicidade e amor.
Em Arcoverde, cheguei à conclusão, o silêncio não é ausência de som, mas a presença da alma. O desacelerar é reencontrar o ritmo da vida. Minha Arcoverde tem o poder de acalmar a alma e renovar o espírito. A verdadeira felicidade se encontra na simplicidade das pessoas. Arcoverde não é só um lugar, é um sentimento de paz que mora no meu coração.
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