A Casa de Saúde e Maternidade Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, ligada ao marido da vice-governadora Priscila Krause (PSD), recebeu 25 repasses de recursos estaduais em 15 dias. O período coincidiu com a interinidade dela à frente do governo, em março, durante recesso da governadora Raquel Lyra (PSD).
A soma dos pagamentos à unidade, que tem como sócio Jorge Branco Neto, marido de Krause, chega a R$ 3 milhões e, além de estar sob os holofotes da oposição local, também pode entrar na mira de órgãos de controle federais, já que envolve transferências do Sistema Único de Saúde (SUS).
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A polêmica tem princípio em remanejamentos orçamentários que turbinaram o Fundo Estadual de Saúde (FES), principal fonte pagadora do Hospital Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, situado em Garanhuns, no Agreste. Em fevereiro de 2023, quando Krause substituiu Raquel pela primeira vez, foram creditados R$ 7,6 milhões ao fundo. Parte desse montante é oriunda de verba federal.
A prática se repetiu em outro período de interinidade da vice-governadora, em abril de 2024, com R$ 22,3 milhões, mas se intensificou em março de 2025, conforme registros do Portal da Transparência e do Diário Oficial.
No dia 17 de março, foram acrescidos ao FES R$ 51,6 milhões. Mais R$ 3,9 milhões foram remanejados no dia 20, e outros R$ 13,6 milhões, no dia 21. Em datas similares localizadas entre os dias 14 e 29 daquele mês, 25 pagamentos foram feitos ao hospital a partir dessa fonte, totalizando R$ 3 milhões.
Ao longo de todo o ano, a unidade já recebeu R$ 25,1 milhões. Significa dizer que, nos 15 dias de março em que Priscila Krause esteve à frente do governo, 12,2% dos pagamentos foram efetivados, o que, na visão de deputados de oposição, indica uma “concentração atípica” e um possível conflito de interesses.
Outros atos sob suspeita têm relação com a saída de gestores das áreas de orçamento e projetos e de monitoramento jurídico de licitações da Secretaria de Saúde, entre 20 e 21 de março. As exonerações foram assinadas pela governadora em exercício, o que vem sendo interpretado como uma possível providência para dar celeridade aos pagamentos para o hospital.
Em audiência pública na Assembleia Legislativa, a secretária estadual de Saúde, Zilda Cavalcanti, foi confrontada sobre o assunto, mas negou que os profissionais demitidos tivessem relação com o manejo desses recursos. O suposto conflito de interesses decorrente de pagamentos ao Hospital Nossa Senhora do Perpétuo Socorro sob o Governo Raquel Lyra/Priscila Krause chegou a ser alvo de pedido de medida cautelar feito pela Comissão de Saúde e Assistência Social da Alepe junto ao Tribunal de Contas do Estado (TCE) em 2023.
Na época, a corte negou a solicitação por entender que a unidade de saúde tem um papel importante na complementação dos atendimentos da rede estadual, mas levou em conta o fato de a vice-governadora não ser a ordenadora das despesas do Governo de Pernambuco com esses repasses.
O mesmo entendimento, porém, pode não se aplicar aos períodos em que os pagamentos ocorreram de forma coincidente ao exercício da função de governadora por Priscila Krause. Também pesa contra a gestão estadual o fato de os aportes estaduais no Hospital Regional Dom Moura, unidade pública também situada em Garanhuns, atingirem uma média mensal de apenas R$ 500 mil, cinco vezes menos que os valores repassados ao hospital ligado à família da vice-governadora. Confira abaixo os documentos que comprovam os pagamentos:
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