O presidente do BC (Banco Central), Roberto Campos Neto, relacionou nesta quinta-feira (27) as falas do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a um trabalho “mais difícil” da autoridade monetária. O BC utiliza expectativas de agentes financeiros para a inflação, os juros e outras variáveis macroeconômicas para definir a taxa básica de juros, a Selic. Campos Neto relacionou a volatilidade provocada por discursos do presidente à dificuldade de reduzir os juros. As informações são do site Poder360.
“Não é uma opinião minha, é uma constatação. Quando olhamos o movimento de mercado em tempo real com os pronunciamentos [do presidente Lula], o que se mostrou é que em momentos de pronunciamento houve piora em algumas variáveis macroeconômicas e alguns preços de mercado”, disse Campos Neto.
Leia maisCampos Neto concedeu entrevista a jornalistas em São Paulo durante a apresentação do RTI (Relatório Trimestral de Inflação), divulgado nesta 5ª feira (27.jun.2024). O documento mostra que o BC aumentou para 2,3% a projeção para o crescimento do PIB de 2024. Também mostra que as probabilidades de a inflação do Brasil ficar acima da meta de 3% são de 28% em 2024, de 21% em 2025 e de 17% em 2026.
O presidente do BC disse que o aumento “por qualquer razão” do prêmio de risco, como o de alta dos juros no médio e longo prazo no mercado financeiro, faz com que o “trabalho fique mais difícil ao longo do tempo” na política monetária. O dólar, por exemplo, tem impacto também na inflação. Os juros de longo prazo aumentam a percepção de risco no Brasil.
“O nosso modelo trabalha muito fortemente pelo canal das expectativas. Quando você tem um prêmio [de risco] há uma influência no canal das expectativas, que influencia a potência do canal da política monetária”, disse.
DÓLAR ALTO
O presidente do BC disse que a intervenção pontual no mercado de câmbio teria pouca efetividade no contexto atual de desvalorização do real. Ele defendeu que a desvalorização do real em relação ao dólar está “em linha” com algumas outras variáveis que também “simbolizam preços de risco Brasil”.
Roberto Campos Neto, 54 anos, assumiu o comando do Banco Central em 28 de fevereiro de 2019, indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e com apoio do ex-ministro da Economia Paulo Guedes. Em 2021, o Congresso aprovou e o governo sancionou o projeto de autonomia operacional da autoridade monetária.
A lei estabeleceu mandatos para o presidente e os diretores do BC com o objetivo de dar independência à política monetária. Cada indicado fica no cargo por 4 anos. O mandato de Campos Neto vence em dezembro de 2024.
Lula começou a criticar o Banco Central e o presidente Campos Neto publicamente em 18 de janeiro de 2023. Na época, disse que o BC independente é “bobagem” e que queria mudar a meta de inflação. Desde então, Campos Neto tem sido o alvo preferido das falas de Lula.
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