Por Osvaldo Matos Junior*
Por um lado, é cômico. Por outro, é trágico. No fim das contas, é bem brasileiro. Estamos falando do glorioso fato de que, no Brasil – país continental, 10ª economia do mundo, dono de riquezas naturais cobiçadas por qualquer potência –, o ingresso no serviço secreto é feito por… concurso público.
Sim, senhor. Você não leu errado. Aqui, para ser um espião do Estado, basta estudar bastante, decorar a Constituição, mandar bem numa redação e gabaritar conhecimentos gerais. Nada de olheiros em aeroportos, testes de lealdade ou treinamentos à lá 007. Basta passar no certame, ter o nome publicado no Diário Oficial da União e pronto: bem-vindo ao mundo secreto da espionagem brasileira, onde todo mundo sabe quem você é.
Leia maisÉ claro que a atividade de inteligência é essencial – em qualquer país sério, ela guia decisões estratégicas, protege interesses nacionais, antecipa crises. Só que no Brasil, ao contrário das nações que realmente dominam essa arte, o agente secreto pode estar dando uma palestra sobre “liderança disruptiva”, assinando artigos em portais de segurança e até vendendo consultoria para empresas privadas. Espionagem? Só se for industrial. E mesmo assim, com nota fiscal.
Enquanto isso, o Paraguai entra na história como coadjuvante de um espetáculo cômico involuntário: um cidadão comum paraguaio, que virou “ameaça à segurança nacional”, foi vigiado por meses, sob autorização oficial. Um episódio que virou meme internacional e manchou (de novo) a imagem do Brasil. Espionagem seletiva, cara e mal executada.
O resto do mundo recruta seus espiões nos bastidores, com base em talentos reais: hackers, poliglotas, mestres em disfarces. O Brasil, por sua vez, escolhe os seus em fila de prova, com caneta azul, RG e CPF em mãos. E com a transparência que se espera de qualquer concurso público. Só falta transmitir ao vivo no YouTube.
A pergunta que não quer calar: isso é piada ou burrice? Talvez um pouco dos dois. Mas com certeza, é uma vergonha. Daquelas bem nossas.
*Empresário de Comex, cientista Político e Social, especialista em Marketing, Inteligência Competitiva, Comunicação, Gestão e Comércio Exterior
Leia menos



















